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A espantosa distribuição da riqueza mundial [gráfico]

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O planeta possui 7 bilhões de pessoas. Dados espantosos sobre a distribuição da riqueza:

1 – Qualquer pessoa que possua bens em valor total superior a R$ 8.600,00 (uma moto usada) possui mais riqueza do que 3 bilhões e 500 milhões de pessoas no mundo inteiro. Está na metade superior da posse de riquezas.

2- Quem possui bens em valor superior a 162 mil reais (uma casa simples em São Gonçalo, RJ) possui mais riqueza do que 6 bilhões e 300 milhões de pessoas. Pertence aos dez porcento mais ricos do mundo.

3- Quem tem bens em valor superior a um milhão e seiscentos mil reais (uma boa casa em Camboinhas, Niterói, RJ), possui mais riqueza do que 6 bilhões e 930 milhões de pessoas. Faz parte da fatia correspondente a um porcento da população mundial, mais rica do que os 99% restantes.

Conclusão: num planeta extremamente injusto, até as classe média e média alta são consideradas ricas. Apenas trinta e dois milhões de pessoas podem ser consideradas, de fato, ricas, sendo que 161 delas controlam cerca de 140 corporações que, por sua vez, dominam praticamente todo o sistema econômico e político do mundo. Esse é o sistema que defendemos com unhas e dentes?

[Publicado originalmente aqui, por Marcio Valley, em 21 out 2013]

A caravana da cocaína no Sahel ~ by Anne Frintz

No meio do caminho entre a América Latina e a Europa, o oeste da África se tornou um centro comercial do tráfico de cocaína. Em todo itinerário que percorre, o dinheiro do comércio de drogas permite comprar numerosos intermediários, especialmente políticos, e contribuiu para a desintegração dos Estados.

[Anne Frintz*, Le Monde Diplomatique, 1 mar 13] Em novembro de 2009, um Boeing 727 vindo da Venezuela pousava em Tarkint, localidade perto de Gao, no nordeste do Mali. Ele transportava entre 5 e 9 toneladas de cocaína, que nunca foram encontradas. Depois de descarregada, a aeronave falhou na decolagem e pegou fogo. O inquérito revelou que entre os envolvidos estavam uma família libanesa e um empresário mauritano que fizeram fortuna com o comércio de diamantes angolanos. Continue lendo

Marx estava certo… sobre o capitalismo ~ John Gray

Como efeito colateral da crise financeira, mais e mais pessoas estão começando a pensar que Karl Marx estava certo. O grande filósofo, economista e revolucionário alemão do século 19 acreditava que o capitalismo era radicalmente instável.

[John Gray/ Filósofo político e escritor/ BBC Brasil, 18 set 2011] Ele tem uma tendência intrínseca de produzir avanços e fracassos cada vez maiores, e no longo prazo, ele estava destinado a se autodestruir.

Marx saudava a autodestruição do capitalismo. Ele era confiante que uma revolução popular ocorreria e daria origem um sistema comunista que seria mais produtivo e muito mais humano. Continue lendo

A falsidade da superpopulação ~ Bauman & Rovirosa-Madrazo

Uma nova ética do consumo contra a bomba demográfica

“O impacto da humanidade sobre o sistema que sustenta a vida sobre a Terra não depende simplesmente do número de pessoas que vivem no planeta, mas também do modo em que se comportam. Se considerarmos esse aspecto, o quadro muda totalmente: o problema demográfico existe principalmente nos países opulentos. Na realidade, existem muito ricos.”

A análise é do sociólogo polonês Zygmunt Bauman e da jornalista e pesquisadora mexicana Citlali Rovirosa-Madrazo, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 15 mar 11; tradução Moisés Sbardelotto; IHU Online].

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“Eles são sempre muitos. ‘Eles’ são aqueles que deveriam ser menos ou, ainda melhor, não ser, justamente. Ao contrário, nós nunca somos o suficiente. De ‘nós’, deveria haver sempre mais”. Eu escrevi isso em 2005, em Vidas Desperdiçadas (Ed. Zahar, 2005). A meu ver, tanto agora quanto então, a “superpopulação” é uma ficção estatística, um nome codificado que indica a presença de um grande número de pessoas que, ao invés de favorecerem o funcionamento fluido da economia, tornam mais difícil alcançar e superar os parâmetros utilizados para medir e avaliar o seu correto funcionamento. Esse número parece aumentar de modo incontrolável, acrescentando continuamente os gastos, mas não os ganhos. Continue lendo

Zizek: o casamento entre democracia e capitalismo acabou

O filósofo e escritor esloveno Slavoj Zizek visitou a acampamento do movimento Ocupar Wall Street, no parque Zuccotti, em Nova York e falou aos manifestantes.

“Estamos testemunhando como o sistema está se autodestruindo. “Quando criticarem o capitalismo, não se deixem chantagear pelos que vos acusam de ser contra a democracia. O casamento entre a democracia e o capitalismo acabou”.

[O pronunciamendo de Zizek foi publicado por Carta Maior e IHU, 11 out 11].

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Durante o crash financeiro de 2008, foi destruída mais propriedade privada, ganha com dificuldades, do que se todos nós aqui estivéssemos a destruí-la dia e noite durante semanas. Dizem que somos sonhadores, mas os verdadeiros sonhadores são aqueles que pensam que as coisas podem continuar indefinidamente da mesma forma.

Não somos sonhadores. Somos o despertar de um sonho que está se transformando num pesadelo. Não estamos destruindo coisa alguma. Estamos apenas testemunhando como o sistema está se autodestruindo.

Todos conhecemos a cena clássica do desenho animado: o coiote chega à beira do precipício, e continua a andar, ignorando o fato de que não há nada por baixo dele. Somente quando olha para baixo e toma consciência de que não há nada, cai. É isto que estamos fazendo aqui.

Estamos a dizer aos rapazes de Wall Street: “hey, olhem para baixo!” Continue lendo

Uma nova igualdade depois da crise

Stock Market Diagram

Por Eric Hobsbawm -  24 Fev 2010

O “Século Breve”, o 20, foi um período marcado por um conflito religioso entre ideologias laicas. Por razões mais históricas do que lógicas, ele foi dominado pela contraposição de dois modelos econômicos – e apenas dois modelos exclusivos entre si – o “Socialismo”, identificado com economias de planejamento central de tipo soviético, e o “Capitalismo”, que cobria todo o resto.

Essa contraposição aparentemente fundamental entre um sistema que ambiciona tirar do meio do caminho as empresas privadas interessadas nos lucros (o mercado, por exemplo) e um que pretendia libertar o mercado de toda restrição oficial ou de outro tipo nunca foi realista. Todas as economias modernas devem combinar público e privado de vários modos e em vários graus, e de fato fazem isso. Ambas as tentativas de viver à altura da lógica totalmente binária dessas definições de “capitalismo” e “socialismo” faliram. As economias de tipo soviético e as organizações e gestões estatais sobreviveram aos anos 80. O “fundamentalismo de mercado” anglo-americano quebrou em 2008, no momento do seu apogeu. O Século 21 deverá reconsiderar, portanto, os seus próprios problemas em termos muito mais realistas.

Como tudo isso influi sobre países que no passado eram devotados ao modelo “socialista”? Sob o socialismo, haviam reencontrado a impossibilidade de reformar os seus sistemas administrativos de planejamento estatal, mesmo que os seus técnicos e os seus economistas estivessem plenamente conscientes das suas principais carências. Os sistemas – não competitivos em nível internacional – foram capazes de sobreviver até que pudessem continuar completamente isolados do resto da economia mundial.

Esse isolamento, porém, não pôde ser mantido no tempo, e, quando o socialismo foi abandonado – seja em seguida à queda dos regimes políticos como na Europa, seja pelo próprio regime, como na China ou no Vietnã – estes, sem nenhum pré-aviso, se encontraram imersos naquela que para muitos pareceu ser a única alternativa disponível: o capitalismo globalizado, na sua forma então predominante de capitalismo de livre mercado.

As consequências diretas na Europa foram catastróficas. Os países da ex-União Soviética ainda não superaram as suas repercussões. A China, para sua sorte, escolheu um modelo capitalista diferente do neoliberalismo anglo-americano, preferindo o modelo muito mais dirigista das “economias tigres” ou de assalto da Ásia oriental, mas abriu caminho para o seu “gigantesco salto econômico para frente” com muito pouca preocupação e consideração pelas implicações sociais e humanas.

Esse período está quase às nossas costas, assim como o predomínio global do liberalismo econômico extremo de matriz anglo-americana, mesmo que não saibamos ainda quais mudanças a crise econômica mundial em curso implicará – a mais grave desde os anos 30 –, quando os impressionantes acontecimentos dos últimos dois anos conseguirão se superar. Uma coisa, porém, é desde já muito clara: está em curso uma alternância de enormes proporções das velhas economias do Atlântico Norte ao Sul do planeta e principalmente à Ásia oriental.

Nessas circunstâncias, os ex-Estados soviéticos (incluindo aqueles ainda governados por partidos comunistas) estão tendo que enfrentar problemas e perspectivas muito diferentes. Excluindo de partida as divergências de alinhamento político, direi apenas que a maior parte deles continua relativamente frágil. Na Europa, alguns estão assimilando o modelo social-capitalista da Europa ocidental, mesmo que tenham um lucro médio per capita consideravelmente inferior. Na União Europeia, também é provável prever o aparecimento de uma dupla economia. A Rússia, recuperada em certa medida da catástrofe dos anos 90, está quase reduzida a um país exportador, poderoso, mas vulnerável, de produtos primários e de energia e foi até agora incapaz de reconstruir uma base econômica mais bem balanceada.

As reações contra os excessos da era neoliberal levaram a um retorno, parcial, a formas de capitalismo estatal acompanhadas por uma espécie de regressão a alguns aspectos da herança soviética. Claramente, a simples “imitação do Ocidente” deixou de ser uma opção possível. Esse fenômeno ainda é mais evidente na China, que desenvolveu com considerável sucesso um capitalismo pós-comunista próprio, a tal ponto que, no futuro, pode também ocorrer que os historiadores possam ver nesse país o verdadeiro salvador da economia capitalista mundial na crise em que nos encontramos atualmente. Em síntese, não é mais possível acreditar em uma única forma global de capitalismo ou de pós-capitalismo.

Em todo caso, delinear a economia do amanhã é talvez a parte menos relevante das nossas preocupações futuras. A diferença crucial entre os sistemas econômicos não reside na sua estrutura, mas sim na suas prioridades sociais e morais, e estas deveriam, portanto, ser o argumento principal do nosso debate. Permitam-me, por isso, a esse ilustrar dois de seus aspectos de fundamental importância a esse propósito.

O primeiro é que o fim do Comunismo comportou o desaparecimento repentino de valores, hábitos e práticas sociais que haviam marcado a vida de gerações inteiras, não apenas as dos regimes comunistas em estrito senso, mas também as do passado pré-comunista que, sob esses regimes, havia em boa parte se protegido. Devemos reconhecer quanto foram profundos e graves o choque e a desgraça em termos humanos que foram verificados em consequência desse brusco e inesperado terremoto social. Inevitavelmente, serão necessárias diversas décadas antes que as sociedades pós-comunistas encontrem uma estabilidade no seu “modus vivendi” na nova era, e algumas consequências dessa desagregação social, da corrupção e da criminalidade institucionalizadas poderiam exigir ainda muito mais tempo para serem combatidas.

O segundo aspecto é que tanto a política ocidental do neoliberalismo, quanto políticas pós-comunistas que ela inspirou subordinaram propositalmente o bem-estar e a justiça social à tirania do PIB, o Produto Interno Bruto: o maior crescimento econômico possível, deliberadamente inigualitário. Assim fazendo, eles minaram – e nos ex-países comunistas até destruíram – os sistemas da assistência social, do bem-estar, dos valores e das finalidades dos serviços públicos. Tudo isso não constitui uma premissa da qual partir, seja para o “capitalismo europeu de rosto humano” das décadas pós-1945, seja para satisfatórios sistemas mistos pós-comunistas.

O objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas. Não importa como chamamos os regimes que buscam essa finalidade. Importa unicamente como e com quais prioridades saberemos combinar as potencialidades do setor público e do setor privado nas nossas economias mistas. Essa é a prioridade política mais importante do Século 21.

Publicado originalmente no jornal La Repubblica. Tradução de Moisés Sbardelotto em Envolverde/ECO 21.

Crise reaquece interesse por obra de Karl Marx

Fonte DW

Há mais de 140 anos, Marx escreveu a obra máxima sobre a crise. As vendas de “O Capital” dispararam no ano passado, e agora ele ganha uma versão em audiolivro.

A crise econômica global reacendeu o interesse pela principal obra de Karl Marx, O Capital, escrito mais de 140 anos atrás. As vendas na Alemanha subiram no ano passado e agora uma editora está lançando uma versão em áudio.

Enquanto a desaceleração econômica global afeta a maior economia da Europa, os alemães parecem estar em busca de conforto nas palavras de Karl Marx.

No fim do ano passado, quando a crise estava a pleno vapor, as editoras venderam cerca de 4,5 mil cópias de O Capital. Em 2005, essa cifra era de apenas 750.

“No momento, Marx é provavelmente o clássico de teoria social mais lido mundialmente”, diz à Deutsche Welle Heinz Bude, sociólogo do Instituto de Pesquisa Social de Hamburgo.

Tornando Marx mais acessível

O renascimento de Marx chegou também ao setor de audiolivros. O primeiro volume abreviado de O Capital, contendo seis CDs com mais de seis horas de teorias marxistas, foi recém-lançado no mercado alemão.

O livro mais famoso de Marx é também considerado um dos trabalhos mais difíceis e densos sobre conceitos econômicos do século 19.

A editora Margit Osterwald, de 65 anos, afirma que o audiolivro, impulsionado pela derrocada econômica global do ano passado, é uma tentativa de tornar mais acessível a densa obra de Marx.

“Todo mundo estava falando sobre Karl Marx, não apenas em jornais de economia, mas também entre os meus amigos”, diz Osterwald à Deutsche Welle.

Ela admite que nunca leu O Capital, apesar de pertencer à geração do movimento estudantil de 1968 na Alemanha, onde o livro de Marx era considerado leitura obrigatória.

Tocando as pessoas

Alguns dizem que as palavras de Marx tocam particularmente pessoas frustradas com os excessos do mundo financeiro.

O economista político alemão descreveu o capitalismo como um sistema de exploração impulsionado pela ganância e a necessidade de ganho material, caracterizado por períodos de altos e baixos. Marx escreveu que o sistema permite que os “ricos fiquem mais ricos e os pobres, mais pobres”.

Ele estava convencido de que este ciclo levaria o capitalismo a se autodestruir. Marx argumentava que o Estado deve manter as rédeas da economia e introduzir regras para abolir as classes sociais e promover a igualdade e o fim da pobreza.

Atração especial entre os mais jovens

Jörn Schütrumpf, da editora Karl-Dietz, sediada em Berlim e responsável pela edição da obra mais famosa de Marx, acredita que os leitores mais jovens são os que mais contribuíram para o aumento das vendas.

“Estamos lidando com uma geração totalmente diferente”, diz. “Nos últimos 20 anos, pôde-se ver algo como uma guerra fria contra os jovens, ditada por uma sociedade que envia sinais dizendo ‘não precisamos de vocês, vocês precisam tomar conta de vocês mesmos’.”

Schütrumpf acredita que esses jovens desiludidos se voltaram para a leitura, na tentativa de encontrar respostas para os problemas criados pelos mais velhos.

O interesse renovado na obra de Marx também levou à criação de grupos de leitura de Marx em várias cidades da Alemanha, constituindo um fórum no qual o filósofo pode ser lido e discutido.

Reinterpretando Marx

Mas o sociólogo Heinz Bude, que realizou um seminário sobre o renascimento do interesse por Marx na Universidade de Kassel, advertiu que as obras de Marx precisavam ser interpretadas sob uma nova luz.

Bude acha que Marx não pode mais ser lido como um teórico do socialismo e da igualdade. Essas ideias, segundo ele, “deixaram um longo rastro criminoso na história da humanidade”.

Em vez disso, Marx deve ser lido como um teórico da liberdade, afirma Bude. “Como alguém que hoje pode mostrar às pessoas que elas nunca devem aceitar a ordem atual do mundo e sim continuar procurando melhores alternativas”.

Autora: Christel Wester (md)
Revisão: Carlos Albuquerque