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Europa ainda tem ‘ilhas de prosperidade’ em meio à crise

Suécia, Finlândia, Noruega e Luxemburgo são países que não sofreram com turbulência.

[João Sorima Neto, O Globo, 13 dez 11] Desemprego, risco de calote da dívida, recessão econômica. Nos últimos tempos, esse tem sido o cenário de alguns países europeus que adotaram o euro como moeda única. A gastança desenfreada dos governos já levou à lona países como a Grécia, Portugal e Irlanda, que tiveram que pedir ajuda internacional para não quebrar. Agora, estão na mira a Itália, a Espanha e até a França. Essas nações têm sido pressionadas pelos investidores a pagar juro muito alto para se financiar no mercado. Mas a Europa não é só caos. No meio desse furacão econômico, sem solução aparente, existem algumas “ilhas de prosperidade”, onde, por enquanto, a crise do euro ainda não chegou com força.

Tome o exemplo da Suécia. O país não adotou o euro como moeda, embora integre a União Europeia. Os títulos da dívida suecos mantêm a classificação AAA dada por agências de rating e o Tesouro sueco não tem dificuldades para rolar seus papéis no mercado. A Suécia paga juros até mais baixos do que a Alemanha, que se viu forçada a oferecer taxa de 2,3% para se financiar. Este ano, a economia sueca deve crescer 4%, um número impensável até para a própria Alemanha, a economia mais forte da Europa, que deve crescer 0,5% em 2011. Continue lendo

O roubo do século ~ por Silvio Caccia Bava

Os bancos ficaram grandes demais. Maiores e mais poderosos que os governos, eles hoje mandam no mundo e impõem as regras do jogo financeiro internacional.

[Le Monde Diplomatique, 16 nov 11] Na crise de 2007/2008 eles impuseram que os governos pagassem as suas contas com dinheiro público, quando suas especulações no mercado não deram certo. Agora, em uma situação muito mais delicada, com os governos já endividados pelo movimento anterior, novamente essas instituições cobram o socorro dos governos nacionais e mesmo da União Européia.

Desconhecendo as lições da crise anterior e até mesmo aumentando os riscos de praticar uma especulação ainda mais intensa, muitos desses grandes bancos estão hoje super expostos num duplo sentido: tanto pela operação especulativa com derivativos, alavancando seu capital na proporção de até 1:50, como é o caso do banco francês Societé Générale; como pela compra de títulos dos governos da Grécia, Espanha, Portugal, obrigados a aceitar taxas de juros escorchantes pelo risco embutido no empréstimo. Hoje, os títulos da Grécia, pelo default anunciado, isto é, pela ameaça real do calote, valem no mercado menos que metade do seu valor de face e, se os bancos que os detém tiverem que se desfazer deles, terão grandes prejuízos. O efeito conjugado dessas duas frentes de especulação leva a um estado de endividamento dos grandes bancos internacionais que ameaça sua solvência. Continue lendo

Crise reaquece interesse por obra de Karl Marx

Fonte DW

Há mais de 140 anos, Marx escreveu a obra máxima sobre a crise. As vendas de “O Capital” dispararam no ano passado, e agora ele ganha uma versão em audiolivro.

A crise econômica global reacendeu o interesse pela principal obra de Karl Marx, O Capital, escrito mais de 140 anos atrás. As vendas na Alemanha subiram no ano passado e agora uma editora está lançando uma versão em áudio.

Enquanto a desaceleração econômica global afeta a maior economia da Europa, os alemães parecem estar em busca de conforto nas palavras de Karl Marx.

No fim do ano passado, quando a crise estava a pleno vapor, as editoras venderam cerca de 4,5 mil cópias de O Capital. Em 2005, essa cifra era de apenas 750.

“No momento, Marx é provavelmente o clássico de teoria social mais lido mundialmente”, diz à Deutsche Welle Heinz Bude, sociólogo do Instituto de Pesquisa Social de Hamburgo.

Tornando Marx mais acessível

O renascimento de Marx chegou também ao setor de audiolivros. O primeiro volume abreviado de O Capital, contendo seis CDs com mais de seis horas de teorias marxistas, foi recém-lançado no mercado alemão.

O livro mais famoso de Marx é também considerado um dos trabalhos mais difíceis e densos sobre conceitos econômicos do século 19.

A editora Margit Osterwald, de 65 anos, afirma que o audiolivro, impulsionado pela derrocada econômica global do ano passado, é uma tentativa de tornar mais acessível a densa obra de Marx.

“Todo mundo estava falando sobre Karl Marx, não apenas em jornais de economia, mas também entre os meus amigos”, diz Osterwald à Deutsche Welle.

Ela admite que nunca leu O Capital, apesar de pertencer à geração do movimento estudantil de 1968 na Alemanha, onde o livro de Marx era considerado leitura obrigatória.

Tocando as pessoas

Alguns dizem que as palavras de Marx tocam particularmente pessoas frustradas com os excessos do mundo financeiro.

O economista político alemão descreveu o capitalismo como um sistema de exploração impulsionado pela ganância e a necessidade de ganho material, caracterizado por períodos de altos e baixos. Marx escreveu que o sistema permite que os “ricos fiquem mais ricos e os pobres, mais pobres”.

Ele estava convencido de que este ciclo levaria o capitalismo a se autodestruir. Marx argumentava que o Estado deve manter as rédeas da economia e introduzir regras para abolir as classes sociais e promover a igualdade e o fim da pobreza.

Atração especial entre os mais jovens

Jörn Schütrumpf, da editora Karl-Dietz, sediada em Berlim e responsável pela edição da obra mais famosa de Marx, acredita que os leitores mais jovens são os que mais contribuíram para o aumento das vendas.

“Estamos lidando com uma geração totalmente diferente”, diz. “Nos últimos 20 anos, pôde-se ver algo como uma guerra fria contra os jovens, ditada por uma sociedade que envia sinais dizendo ‘não precisamos de vocês, vocês precisam tomar conta de vocês mesmos’.”

Schütrumpf acredita que esses jovens desiludidos se voltaram para a leitura, na tentativa de encontrar respostas para os problemas criados pelos mais velhos.

O interesse renovado na obra de Marx também levou à criação de grupos de leitura de Marx em várias cidades da Alemanha, constituindo um fórum no qual o filósofo pode ser lido e discutido.

Reinterpretando Marx

Mas o sociólogo Heinz Bude, que realizou um seminário sobre o renascimento do interesse por Marx na Universidade de Kassel, advertiu que as obras de Marx precisavam ser interpretadas sob uma nova luz.

Bude acha que Marx não pode mais ser lido como um teórico do socialismo e da igualdade. Essas ideias, segundo ele, “deixaram um longo rastro criminoso na história da humanidade”.

Em vez disso, Marx deve ser lido como um teórico da liberdade, afirma Bude. “Como alguém que hoje pode mostrar às pessoas que elas nunca devem aceitar a ordem atual do mundo e sim continuar procurando melhores alternativas”.

Autora: Christel Wester (md)
Revisão: Carlos Albuquerque