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Justiça trabalhista multa acusados de pagar por sexo com meninas na PB

Em decisão histórica, um grupo de acusados de pagar por sexo com meninas de 12 a 17 anos na Paraíba foi condenado pela Justiça trabalhista.

Enquanto a ação penal ainda nem foi julgada em primeira instância, a decisão do Tribunal Regional do Trabalho, já em segunda instância, prevê que 11 dos 13 citados no caso paguem juntos ao Estado uma indenização de R$ 500 mil. Cabe recurso.

O caso aconteceu em Sapé, na zona da mata paraibana, e veio a público em 2007.  Políticos, empresários e profissionais liberais foram acusados de pagar de R$ 20 a R$ 100 por programas com as crianças e as adolescentes.

Entre os condenados pela Justiça trabalhista, está um ex-presidente da Câmara Municipal de Sapé e um ex-secretário municipal.

A ação do Ministério Público do Trabalho tramitou em paralelo à criminal.

“Como o processo penal é moroso e cheio de benefícios para os réus, apelamos para uma ação trabalhista por entender que a exploração sexual é a pior forma de trabalho infantil”, explica o procurador Eduardo Varandas.

A decisão do TRT saiu três anos depois da denúncia. Antes, houve decisão pró-reus em primeira instância.

Desde dezembro de 2008, o Ministério Público do Trabalho recomenda que procuradores atuem assim em casos de exploração sexual.

Trabalho infantil – Para embasar a ação, o procurador da Paraíba recorreu à convenção nº 182 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que enquadra recrutameto e oferta de crianças para prostituição”.

“Quem sabe agora, pesando no bolso dos poderosos, vamos avançar contra a impunidade, ao contar com a Justiça trabalhista como aliada”, afirma a senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), que presidiu a CPI contra Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em 2003.

Os R$ 500 mil vão para um fundo municipal em Sapé para apoio das vítimas de exploração sexual.

“A ação coletiva cria jurisprudência e abre o precedente para que as garotas vítimas dos réus entrem com pedidos individuais de indenização”, afirma o procurador.

O caso de Sapé ficou conhecido em abril de 2007, quando duas mulheres foram presas sob suspeita de submeter crianças e adolescentes à exploração sexual. Segundo a acusação, as garotas eram mandadas de mototáxi ao encontro de ricos e poderosos do município, que tem 53 mil habitantes e fica a 55 km de João Pessoa.

R̩us recorreṛo РDos 17 citados inicialmente no esc̢ndalo de explora̤̣o sexual em Sap̩ (PB), 14 continuam respondendo ao processo penal.

Os acusados respondem por crimes diversos, entre eles estupro de vulnerável, corrupção de menores e aliciamento de crianças e adolescentes para prostituição.

Três dos réus fizeram acordos ou provaram sua inocência na fase inicial de instrução da ação penal que corre na 2ª Vara do Fórum Criminal do município.

A ação trabalhista envolve 11 dos réus, três deles excluídos do processo penal.

É o caso do ex-secretário municipal de Administração Derval Moreira de Araújo, que hoje é defensor público. “Essa condenação trabalhista não tem cabimento, pois fui excluído da ação penal.”

Derval vai recorrer ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), assim como farão os demais acusados no processo trabalhista.

Todos terão os bens bloqueados até o trânsito em julgado da ação trabalhista.

Tiago Leite, advogado do ex-presidente da Câmara Municipal Antônio João Adolfo Leôncio, diz que entrará com recurso.

“Meu cliente nega envolvimento com menores. Se ainda não foi julgado na ação penal como pode ser condenado pela Justiça do trabalho?”, indaga Leite.

Em suas defesas, alguns dos acusados alegam que as garotas se passavam por maiores de idade.

Os homens envolvidos obtiveram habeas corpus preventivo e respondem ao processo em liberdade.

Respostas – Procurados pela Folha, não foram localizados o ex-prefeito de Mari (PB) Severino de Oliveira, o agricultor Cícero de Souza, o representante comercial Bruno de Góes e o dono de motel Erinaldo do Nascimento.

O dono de motel Romildo Santos e o comerciante Luís Lisboa não responderam aos recados da reportagem.

O ex-vereador de Sapé Robson Vasconcelos diz que fez acordo com a Promotoria e o advogado Nelson Xavier afirma ter sido excluído da ação penal.

Fonte: Folha SP, 31 jul 2010

Nordeste é a região do país mais vulnerável às mudanças climáticas

O primeiro quadrimestre de 2010 foi o mais quente já registrado no planeta, de acordo com dados de satélite da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), dos Estados Unidos. No Brasil, a situação não foi diferente, principalmente na região Nordeste do país. Entre 1980 e 2005, as temperaturas máximas medidas no estado de Pernambuco, por exemplo, subiram 3ºC. Modelos climáticos apontam que, nesse ritmo, o número de dias ininterruptos de estiagem irá aumentar e envolver uma faixa que vai do norte do Nordeste do país até o Amapá, na região Amazônica.

Os dados foram apresentados pelo pesquisador Paulo Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), durante a 62ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Natal, no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A conclusão é que a região Nordeste do país é a mais vulnerável às mudanças climáticas.

Além da expansão da seca, o pesquisador frisou que o Nordeste deverá sofrer também com as alterações nos oceanos, cujos níveis vêm subindo devido ao aumento da temperatura do planeta. Isso ocorre não somente pelo derretimento das geleiras, mas também devido à expansão natural da água quando aquecida. Cidades que possuem relevos mais baixos, como Recife, sentirão mais o aumento do nível dos oceanos. E Nobre alerta que a capital pernambucana já está sofrendo as alterações no clima.

РCom o aumento do volume de chuva, Recife tem inundado com mais facilidade, pois ṇo possui uma rede de drenagem pluvial adequada para um volume maior Рdisse.

Um dos grandes obstáculos ao desenvolvimento da região Nordeste seria a constante associação entre seca e pobreza. A pobreza, segundo o pesquisador, vem de atividades não apropriadas ao clima local e que vêm sendo praticadas ao longo dos anos na região. Plantações de milho e feijão e outras culturas praticadas no Nordeste não são bem-sucedidas por não serem adequadas à caatinga, segundo Nobre.

– A agricultura de subsistência é difícil hoje e ficará inviável em breve. Para que o sertanejo prospere, teremos que mudar sua atividade econômica – disse.

O cientista citou um estudo feito na Universidade Federal de Minas Gerais e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que indicou que o desemprego no Nordeste tenderá a aumentar caso as atividades econômicas praticadas no interior continuem.

Nobre sugere a instalação de usinas de energia solar como alternativa.

– A Europa está investindo US$ 495 bilhões em produção de energia captada de raios solares a partir do deserto do Saara, no norte da África. O mercado de energia solar tem o Brasil como um de seus potenciais produtores devido à sua localização geográfica e clima, e o Nordeste é a região mais adequada a receber essas usinas – indicou.

– Ficar sem chuva durante longos períodos é motivo de comemoração para um produtor de energia solar – disse Nobre, que ressaltou a importância dessa fonte energética na mitigação do aquecimento, pois, além de não liberar carbono, ainda economiza custos de transmissão por ser produzida localmente.

O potencial do Nordeste para a geração de energia eólica também foi destacado pelo pesquisador do Inpe. Devido aos ventos alísios que sopram do oceano Atlântico, o Nordeste tem em seu litoral um constante fluxo de vento que poderia alimentar uma vasta rede de turbinas.

Além da economia, Nobre chamou a atenção para as atividades que visam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, que seriam importantes também para o Nordeste.

РOs efeitos dessas mudan̤as ṣo locais e cada lugar as sofre de um modo diferente Рdisse.

Um dos efeitos dessas alterações é o aumento dos eventos extremos como tempestades, furacões e tsunamis. Em Pernambuco, as chuvas de volume superior a 100 milímetros em um período de 24 horas aumentaram em quantidade nos últimos anos.

– Isso é terrível, pois as culturas agrícolas precisam de uma precipitação regular. Uma chuva intensa e rápida leva os nutrientes da terra, não alimenta os aquíferos e ainda provoca assoreamento dos rios, reduzindo ainda mais a capacidade de armazenamento dos açudes – disse.

Nobre propõe que os governos dos estados do Nordeste poderiam empregar ex-agricultores sertanejos em projetos de reflorestamento da caatinga com espécies nativas. A reconstrução dessa vegetação e das matas ciliares ajudaria a proteger o ecossistema das alterações climáticas e ainda contribuiria para mitigá-las.

A implantação de uma indústria de fruticultura para exportação é outra sugestão de Nobre para preparar o Nordeste para as mudanças no clima e que poderia fortalecer a sua economia.

– A relação seca-pobreza é um ciclo vicioso de escravidão e que precisa ser rompido. Isso se manterá enquanto nossas crianças não souberem ler, não aprenderem inglês ou não conseguirem programar um celular, por exemplo – disse.

Por isso, o cientista defendeu também o acesso à educação de qualidade a toda a população, uma vez que a porção mais afetada é aquela que menos tem acesso a recursos financeiros e educacionais.

Fonte: O Globo, 29 jul 2010

Uso do solo favoreceu tragédia, diz professor

Recife – A ocupação irregular das margens dos rios, ausência de mata nativa e ciliar, além da monocultura da cana-de-açúcar como característica da região contribuíram para transformar dias de chuvas intensas em Pernambuco e Alagoas em uma calamidade sem precedentes na história dos municípios atingidos – mesmo em cidades com histórico de cheias.

Essa é a opinião do professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Abelardo Montenegro, especialista em hidrologia e tecnologia rural. O problema, segundo o especialista sobre a causa da destruição, começa com a forma como as cidades são construídas, perigosamente próximas da planície dos rios. De acordo com ele, além das cidades ocuparem uma área que deveria ser mantida como área de segurança para o leito do rio, a colocação de dejetos, lixos e entulhos também prejudica o curso das águas.

Em volta das cidades atingidas pelas enchentes, a paisagem é de cana-de-açúcar. “A monocultura não favorece a absorção da água da chuva, nessa região falta uma cobertura natural com árvores de grande porte que permitam a infiltração da água”, explica Abelardo Montenegro.

Antes das cheias, ocorreram quatro dias de chuvas intensas na região. O volume pluviométrico variou de 300 a 400 milímetros – mais do que o volume de todo mês de junho em Pernambuco (junho é o mês mais chuvoso). Antes das chuvas mais fortes, chuvas fracas, mas persistentes, deixaram o solo encharcado, saturado. Esse fenômeno levou toda a água que caía para os rios.

As chuvas atingiram as nascentes dos rios Paraíba, Canhoto e Mundaú, que nascem em Pernambuco e seguem curso para Alagoas, além do Rio Una, que corta Pernambuco. Como a vazão média desses rios é de 50 metros cúbicos por segundo. No momento mais intenso da cheia, a vazão chegou a 1 mil metros cúbicos por segundo, isso ocasionou a força da destruição.

Com o debate no Congresso Nacional sobre o Código Florestal, o professor Abelardo Montenegro defende a preservação. “A mata ciliar dos rios é extremamente importante, mas não é tudo. Além da preservação dessa proteção natural contra o assoreamento, deve-se ter ao longo da bacia hidrográfica reservas de mata nativa capaz de apoiar a conservação natural do leito do rio”.

Celso Calheiros

Fonte: Portal oEco, 1 jul 2010

O silêncio da miséria, onde vagam os vassalos do feudalismo nordestino ~ por Arnaldo Jabor

Você já viajou pelo interior de Alagoas? Há alguns meses eu fui de carro até uma cidade a apenas uma hora e meia de Maceió. Parecia um deserto vermelho de barro, pontilhado de miseráveis vilarejos de uma só rua.

O motorista dizia: “isso aqui é tudo de Renan, isso aqui de Lira, isso aqui de fulano, sicrano”. Eu olhava e só via vazios com algumas almas penadas nas estradas. “E isso aqui é do MST.”

Andamos meia hora sem ver casas, nem plantações, além de algumas usinas desativadas. Era o silêncio da miséria, a paz do nada, onde vagam os vassalos do feudalismo nordestino. Aqueles municípios paralíticos já são catástrofes secas, só que silenciosas, paradas no tempo.

De repente, esta tragédia fixa, quase invisível, se transformou em uma tragédia bruta e retumbante. Ai, o verdadeiro Brasil apareceu diante de nós: abandonado, sem verbas, só usadas por interesses políticos do governo.

Só nos restou a solidariedade, mas como sentir a dor de um pobre homem catando comida na lama para dar ao filho chorando no colo? Dizendo o que? “Aí que horror?”

A solidariedade tinha de vir antes para proteger aqueles brasileiros raquíticos, famintos, analfabetos, que só são procurados pelos donos do nordeste para votos ou para serem “laranjas” em roubalheiras das oligarquias.

Fonte: Globo, 30/06/10 por Arnaldo Jabor

Aumento da temperatura no sertão nordestino ultrapassa média global

Segundo o especialista Paulo Nobre, do Inpe, algumas regiões do semiárido nordestino, como a cidade de Vitória de Santo Antão, apresentaram aumento de temperatura de 3ºC nos últimos 40 anos, enquanto a média global apontou um crescimento de 0,4ºC na temperatura do planeta

A sensação compartilhada pelos sertanejos nordestinos de que o clima da região onde vivem está se tornando mais quente e seco nos últimos anos e que as chuvas estão cada vez mais raras e fortes já tem comprovação científica. Segundo o metereologista Paulo Nobre, do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, as temperaturas máximas registradas no semiárido do Nordeste estão, de fato, ficando mais altas a cada ano.

Estudos do Instituto, baseados em séries históricas de dados meteorológicos, mostram, inclusive, que algumas regiões do sertão nordestino, como a cidade pernambucana de Vitória de Santo Antão, já apresentam aumento de 3ºC na temperatura máxima diária, se comparado há 40 anos. O crescimento é preocupante e bastante superior à média global de aumento da temperatura, que registrou “apenas” 0,4ºC a mais nas últimas quatro décadas.

Com isso, a disponibilidade de água no solo nordestino é cada vez menor, o que compromete a agricultura de sequeiro na região, que depende da chuva para o cultivo de culturas de subsistência, como feijão e milho. A solução, na opinião de Nobre, é investir em novas atividades econômicas na região, que apresentem menor dependência da água: como as dos setores de tecnologia e energias renováveis.

Ainda de acordo com o especialista, o fenômeno não é exclusividade do semiárido do Nordeste. Em outras regiões do país, como São Paulo e Amazônia, a temperatura também vem aumentando rapidamente. No entanto, ainda não é possível sentir o calor com tanta facilidade porque são regiões onde há maior incidência de chuvas.

Diante dos novos dados, Nobre defende uma maior capacitação nos estudos de metereologia regional no Brasil, para que os governantes de cada região saibam exatamente o que está acontecendo no clima e o que pode ser feito para evitar a intensificação das mudanças climáticas.

Fonte: Mônica Nunes/Débora Spitzcovsky
Planeta Sustentável – 25/06/2010

Cabeça de galo e queijo de coalho ~ Ignácio de Loyola Brandão

JOÃO PESSOA – Numa barraca à beira-mar, vi o sujeito comendo um bolo de mandioca. Antes de me decidir, perguntei a ele: “Está bom?” Ele me avaliou, pareceu ter me aprovado: “Rapaz. Vou te dizer que está bem bom.” A todos a quem você agradece, “obrigado”, vem a resposta afável: “Disponha.” A cidade é aconchegante e o povo, hospitaleiro e alegre. Durante uma semana, aconteceu a 1ª Bienal de Livros da capital da Paraíba, promovida pela Acessus, do Salustiano Fagundes, o Salu, que vem implantando feiras de livros pelo Nordeste. Pioneiras na região, são pequenas ainda, mas despertam curiosidade e atraem o público. O poder público podia se comover mais e dar importância maior à cultura, entrando no jogo. Um dia, essas bienais serão tradição, como têm hoje Porto Alegre, Passo Fundo, Paraty. Começar é preciso (Por que essa ordem indireta? Pirei?) Em João Pessoa falaram Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna, Zuenir Ventura e outros. Gente da pesada.

Não esquecer que a Paraíba é a terra de José Lins do Rego, Augusto dos Anjos, Edilberto Coutinho, Ernani Sátiro, Perminio Asfora, Políbio Alves, Aldo Lopes. E, claro, de José Américo de Almeida. Também de Ariano Suassuna que ali nasceu, aliás no Palácio, uma vez que seu pai foi governador. Conta-se que, anos mais tarde, Ariano, ao voltar à cidade, foi visitar a casa em que nasceu. Um funcionário empertigado, ao vê-lo em mangas de camisa, botou a mão em seu peito: “Não se entra no palácio sem paletó e gravata!” E Ariano, enfezado: “Pois entro! Andei descalço e pelado nestes quartos e corredores, não vou entrar de camisa?” Como não citar o nosso José Nêumanne, poeta e romancista, saboroso contador de causos?

A Paraíba, chamada de “pequenina e heróica”, teve a mais doce cana-de-açúcar e o melhor pau-brasil do mundo, segundo a crônica ultramarina. Hoje tem o melhor sisal, o algodão de fibra longa, um abacaxi dulcíssimo, o Pérola, um rebanho caprino insuperável, uma indústria têxtil em plena evolução e cerâmica de primeira linha. Paraibanos ficam bravos e alguém não cita o Cabo Branco, como o ponto mais oriental das Américas, o que é contestado por outros Estados, mas eles comprovam com alguns metros a mais.

Para visitar a cidade é preciso ter o privilégio de contar com acompanhantes como Chico Pereira, artistas plástico, designer, historiador, apaixonado, e com Vladimir Neiva, ao lado. Nenhum detalhe nos escapa. Ao fim do dia, depois de olhar a paisagem do alto do Hotel Globo (nada a ver com a televisão, nada, era o antigo hotel dos comerciantes junto ao porto) você está apaixonado. A imensidão verde, os mangues, os canaviais ao longe, o Rio Parahyba correndo manso, deslumbraram também Franz Post, que ali esteve quando a Paraíba era a terceira capitânia em importância, antes da invasão holandesa. A paisagem hipnotiza e paralisa, é impossível arredar pé.
No entanto, é preciso partir para chegar à igreja menina dos olhos de Darcy Ribeiro, que a considerava um dos monumentos barrocos mais belos do mundo, a de São Francisco. E o crítico Clarival do Prado Valadares a definiu como a igreja mais bonita do Brasil. Novo deslumbramento. Ao chegar, deite-se no chão e contemple o teto, com as pinturas em trompe l’oeil. O que a arte moderna diz que foi inventada por ela, já estava neste teto havia séculos. Conforme você muda de lugar, as figuras se modificam e as colunas se inclinam. Pela janela da fachada, o sol, determinada hora do dia, penetra e se reflete em um crucifixo dourado que resplandece, transmitindo a “glória do Senhor”. Sabiam tudo os arquitetos da época. Tanto que em pleno inverno – estava 33°C – a igreja é fresca e a brisa circula. Apaixonado pela igreja e por sua terra, Chico Pereira se transfigura em êxtase, conhece e mostra cada detalhe, aponta para o púlpito que avança para a nave com uma decoração assombrosa, requintada. Então, percebemos que o tempo parou.

Felizmente, o centro da cidade antiga foi “esquecido” ou desprezado pela especulação imobiliária, de maneira que ainda permanecem de pé vários palacetes, casas coloniais, sobrados, (o Pavilhão Chinês, onde as pessoas iam tomar chá à tarde, é lindo, merecia mais cuidado) vestígios de uma arquitetura que fez da cidade uma centro sofisticado. No entanto, assinale-se uma tristeza. Aliás, duas. A Petrobrás, que se orgulha tanto de incentivar a cultura nacional (e realmente patrocina coisas belas) e defender o patrimônio histórico, comete um crime. Quem vai visitar a Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, magnífica, imponente, símbolo da resistência paraibana, chora. O forte foi esmagado, oprimido e desapareceu envolvido pelos gigantescos tanques de combustível da Petrobrás. Um crime, impiedade. Além disso, a visão do rio foi ocupada e se dissolveu, obscurecida por uma torre moderna, a do Moinho Tambaú. Curioso, parece que não existe Patrimônio Histórico neste Brasil. As boas cabeças da Paraíba lamentam e choram.

Era domingo e, de repente, estávamos numa casa à beira da praia. O Neiva, da Grasset, uma das grandes gráficas do Estado, abriu e porta e disse: “Chegaram na hora. Vão experimentar cabeça de galo.” Um prato típico. Para quem chega de uma noitada e precisa se retemperar. Tremi. Não gosto de frango, detesto, é trauma de infância e juventude – era comida de pobre, tinha todo dia, lembro-me do cheiro da água quente quando tiravam as penas. Cabeça de galo? Me imaginei comendo a cabeça da ave, chupando ossinhos. Teria de ser gentil fazer o sacrifício? Mas quando chegou, me deliciei. É um caldo quente, pelando, com ervas variadas, pimenta e um ovo jogado dentro. Revigorante, alucinante. O nome vem do lugar onde ele nasceu, um boteco onde os boêmios chegavam de madrugada e queriam se recompor.

Como não queria sair sem uma boa carne-de-sol, me lavaram à Tábua de Carne. Perfeito. Filé de carne-de-sol no ponto exato, manteiga da terra, na garrafa, pirão de queijo, paçoca e feijão verde. Sobremesa? Abacaxi Pérola ou queijo de coalho com melaço. Há quem resista? Nas conversas com Chico Pereira e Vladimir soube das pesquisas e experiências nutricionais que vêm sendo feitas por especialistas com resultados excepcionais. No tocante à carne caprina, lembrar que bode é prato requintado. E os cheios de imaginação locais criaram o Mac Bode – um sucesso – e o Mac Cheiro (corruptela de macacheira), outro êxito. Quem não gostou foi o MacDonald’s que protestou e processou. De nada adiantou, a coisa pegou. Saia da normalidade, jogue-se no seu país. Mac Bode e Mac Cheiro. Anote.

© O Estado de S. Paulo -  2.junho.2006 – Caderno 2

Italianos aprendem português com livro feito por crianças de Juripiranga (PB)

Quando ouviu a sugestão de fazer um livro digital com seus alunos, a professora Jocileia Izidorio, que dá aula para uma turma de correção de fluxo na cidade de Juripiranga, na Paraíba (a 60 km de João Pessoa), não imaginava que a obra iria terminar na Itália –e traduzida. “Fiquei bestinha com a história”, disse.

O livro, feito por 15 crianças com idades entre 8 e 15 anos, retrata o cotidiano da cidade do interior paraibano com cerca de 10 mil habitantes e economia baseada na produção de vassouras com palha de carnaúba. O tema –“Juripiranga, este é o meu lugar”– foi sugerido pelas próprias crianças. A edição digital ficou a cargo da Editora Plus, uma organização sem fins lucrativos e especializada em e-books.

“A gente falou da cultura de Juripiranga. Foi feito gradualmente: o campo, a produção da vassoura. Eu e os alunos visitamos. Eles escreviam o que eles viam. Não foi nada imposto. Eles escolhiam os temas”, afirmou.

A linguagem fácil e descomplicada chamou a atenção do professor José Fernando Tavares, que dá aula de português brasileiro em San Benedetto del Tronto, no litoral italiano do mar Adriático. Ele é designer dos livros da editora online e decidiu usar o “Juripiranga” em sala. Foi o suficiente para os alunos se empolgarem e mandarem traduzir a obra.

“Usei o livro como texto para leitura e análise de frases simples e também como exercício de tradução para o italiano. Como o pessoal gostou do livro, decidimos fazer uma tradução mais profissional. Aproveitando das traduções feitas na sala de aula, mandei o material para um meu amigo brasileiro que vive há anos na Itália e que trabalha como tradutor”, disse Tavares.

A turma de Jocileia, na época, era destinada a estudantes que tinham baixo rendimento nas séries que cursavam e acabavam encaminhados à correção de fluxo. Fazer o livro foi um projeto que animou a garotada.  “Saber que um livro foi pra outro país tornou ainda mais orgulho”, afirmou.

Se quiser fazer o download do livro, basta acessar a página na Editora Plus.

Fonte: Portal uol, 22 maio 2010

PB deve produzir 280 mi abacaxis este ano, mantendo a liderança na produção nacional

A Paraíba deve colher 280 milhões de abacaxis este ano. A estimativa é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que deve manter o estado na liderança da produção nacional.

O segundo lugar deve ficar com o Pará, com 260 milhões de frutos e em terceiro Minas Gerais com 245 milhões. Essa perspectiva supera o índice registrado no ano passado, que foi de 263 milhões de frutos em uma área de 8.918 hectares.

Uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Governo do Estado está incentivando a introdução de novas cultivares. Um exemplo é a implantação da “vitória”, variedade resistente a fusariose, principal doença que atinge o fruto, causando a perda de cerca de 30% a 40% da produção.

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater-PB) recebeu 68 mil mudas da variedade “vitória”. Elas foram plantadas de início no município de Itapororoca, e com um processo de tratos culturais deverão ser multiplicadas, atingindo um total de 300 mil mudas para distribuição em 10 hectares de áreas de assentamento e associações de produtores de abacaxi da região.

Fonte: www.jornalonorte.com.br

3 maio 2010

Filme analisa dominação holandesa no Nordeste

influencia holandesa nordestePor que o povo brasileiro teria saudades de um invasor? É com essa pergunta que a diretora Monica Schmiedt dá início ao documentário “Doce Brasil Holandês”, em que investiga o legado e o contorno mitológico dos 24 anos de dominação holandesa no Nordeste do Brasil, de 1630 a 1654.

“Sempre achei Maurício de Nassau um personagem muito interessante, assim como a ideia de uma nostalgia nassoviana”, diz a cineasta, citando expressão criada pelo pesquisador Evaldo Cabral de Mello para designar a saudade do progresso e da cidadania que os anos de governo Nassau inspiravam.

Para isso, Schmiedt entrevista historiadores especialistas na invasão holandesa e alguns dos mais de mil recifenses que carregam como sobrenome uma versão brasileira da herança daquele tempo: os Vanderlei, descendentes dos Van Der Ley.

Nessa linha, o filme reúne duas historiadoras que dividem essa ascendência: a brasileira Kalina Vanderlei e a alemã Sabrina Van Der Ley. Juntas, elas exploram o que um dia foi a Mauritsstadt, ou simplesmente Maurícia, no coração do Recife antigo. Uma cidade planejada que exibia a maior ponte do novo mundo. Elas debatem questões de urbanismo e de identidade que emanam do cruzamento entre Brasil e Holanda.

Entre relatos e debates, “Doce Brasil Holandês” aponta o mito para então desconstruí-lo, sem negar os méritos reais da ocupação. Apesar de imprimir na capital pernambucana um projeto humanista de cidade, Nassau não era um diplomata do governo da Holanda, mas um funcionário da Companhia das Índicas Ocidentais. Como bom comerciante, se cercou de eficiente projeto de marketing.

Cores e tipos brasileiros

Nassau promoveu o maior projeto de registro iconográfico do Brasil-Colônia, colocando as cores e os tipos brasileiros no mapa dos europeus a partir do traçado dos pintores Franz Post e Albert Eckhout. O legado artístico e urbanístico da invasão vai de encontro a um suposto complexo de inferioridade do brasileiro, fomentando o pensamento de que o Brasil seria um país melhor se os holandeses tivessem aqui ficado.

“Ao resgatar um passado glorioso, e mostrar que ele não foi tão glorioso assim, quero contribuir para que a gente mereça a nossa história e repense a maneira como temos tratado as nossas cidades”, diz Schmiedt. A tal “nostalgia nassoviana” desaba quando o filme aponta para as ex-colônias da Holanda. O subdesenvolvimento do Suriname e o fantasma do apartheid que insiste em assombrar a África do Sul mostram que a expulsão dos holandeses do Nordeste, em 1654, foi um bom negócio para o Brasil.

DOCE BRASIL HOLANDÊS
Direção: Monica Schmiedt
Quando: amanhã, às 20h, e sábado (17) no IMS, no Rio de Janeiro; quarta (14) no Ponto Cine, no Rio, e no Reserva Cultural, em São Paulo; quinta (15) no Cine Santa, no Rio
Classificação: 14 anos

Fonte: Folha Online, 12 abr 2010

Por Fernanda Mena

Pesquisa revela que Nordeste é a região que menos beneficia pobres

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“A região Nordeste e seus estados são os que menos demonstram um resultado em favor dos pobres”. Essa é uma das conclusões que pesquisadores do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), da Universidade Federal do Ceará (UFC), obtiveram com a pesquisa “Sobre a qualidade do crescimento econômico no Brasil de 1995 a 2008: uma análise comparativa entre estados e regiões brasileiras”.

De acordo com Flávio Ataliba, coordenador do LEP, a pesquisa, divulgada no início desta semana, teve o objetivo de “identificar o padrão de crescimento econômico no Brasil”.  A ideia era saber se, durante esses 13 anos, o crescimento no país “beneficiou mais os pobres ou não”.

Além de analisar o período inteiro, o estudo procurou qualificar o tipo de crescimento ocorrido no país, regiões e estados brasileiros nos períodos de 1995-2002 (governo de Fernando Henrique Cardoso) e de 2003-2008 (governo de Luiz Inácio Lula da Silva). No entanto, Ataliba ressalta que a intenção não foi avaliar os governos ou as políticas econômicas, já que a pesquisa não levou em consideração fatores relevantes para esse tipo de discussão.

O coordenador do Laboratório revela que o crescimento econômico foi diferente entre as regiões brasileiras. Segundo ele, de modo geral, as regiões Sul e Sudeste apresentaram um padrão de renda benéfico para a população mais pobre, sendo que o mesmo não foi observado no Nordeste.

Ataliba explica que a renda na região Nordeste aumentou, no entanto, a classe mais pobre não foi beneficiada. “O crescimento da renda no Nordeste foi maior que nas outras regiões, mas a qualidade dessa renda foi menor”, resume. Diferente do que ocorreu no Sul e Sudeste, que geraram um padrão de renda favorável aos mais pobres.

“Com efeito, novamente se verifica o Nordeste e seus estados como os principais destaques no que tange a menor capacidade de combate à pobreza, e em geral, por beneficiar certas classes e em outros casos devido ao aumento na concentração de renda”, destaca o estudo.

Professor Ataliba ressalta ainda a questão da desigualdade social, muito presente no Nordeste. “O crescimento [econômico] no Sul Sudeste foi menor, mas a desigualdade caiu bastantes”, revela, lembrando que, mesmo não tendo forte crescimento econômico, as regiões Sul e Sudeste são as que têm renda mais alta.

Na opinião dele, é necessário mais investimentos em políticas e, principalmente, na melhoria da educação nessa região. Apesar de não abordar na pesquisa, Ataliba acredita que, dessa forma, o Nordeste conseguirá se aproximar das outras regiões.

“E embora não seja objetivo do trabalho, como um dos resultados, verificou-se que as três metodologias convergem para o fato da região Nordeste e de seus estados não estarem reduzindo os indicadores de pobreza ao comparar com os demais que foram analisados no país. Com efeito, se nada for feito pelo setor público, o que os dados mostram é que há uma tendência de formação de uma espécie de ‘clubes de convergência de pobreza’, onde de um lado deve-se ter a região Nordeste (e seus estados) e de outro as demais regiões (e seus estados)”, apresenta a pesquisa.

O estudo completo está disponível em: http://www.caen.ufc.br/noticias/arquivos/pesquisa_lep_ensaio22-100330.pdf

Fonte: Adital, jornalista Karol Assunção, 1 abr 2010

João Pessoa aparece em pesquisa como 4ª Capital mais violenta do País

gun, arma, revólver, violência

[Texto de Wellington Farias, publicado no Portal Correio, 30 mar 2010]

A cidade de João Pessoa figura em 4º lugar entre as Capitais brasileiras com os mais elevados índices de violência do Brasil. O Estado da Paraíba, no entanto, não está nem entre os dez mais violentos do País.

Os dados são do Mapa da Violência 2010, divulgado nesta terça-feira (30) e publicado no Portal Uol. Pelo mapa, o Estado de Alagoas e sua Capital, Maceió, lideram o ranking de mortes violentas no país. A reportagem do Uol, na íntegra, é a seguinte: Continue lendo

Caatinga teve 16 mil quilômetros quadrados desmatados em seis anos

Luciane Kohlmann – CANAL RURAL

A Caatinga perdeu mais de 16 mil quilômetros quadrados de mata em seis anos, o equivalente a 2% da área total. Mas o maior problema é que quase a metade da vegetação típica do nordeste brasileiro não existe mais.

O balanço do Ministério do Meio Ambiente mostra que, entre 2002 e 2008, Bahia e Ceará foram os Estados que mais desmataram a Caatinga.

As cidades que lideram o ranking de destruição do bioma são:

1 – Acopiara (CE)
2 – Tauá (CE)
3 – Bom Jesus da Lapa (BA)
4 – Campo Formoso (BA)
5 – Boa Viagem (CE)

A produção de lenha e de carvão foram as grandes responsáveis pelo desmatamento da Caatinga, segundo o governo federal. Em seguida, aparece a pecuária bovina que, ao contrário da criação de cabras e ovelhas, acaba destruindo totalmente a vegetação. O Ministério pretende lançar até 28 de abril, Dia Nacional da Caatinga, um plano para preservar essa vegetação.

– Não haverá solução para a defesa da caatinga sem mudar a matriz energética, com o uso de energia eólica, de pequenas centrais hidrelétricas e do gás natural. Tudo isso tem que ser pensado como alternativas para ter atividade econômica, que gere emprego e renda sem destruir a Caatinga num ritmo de 16 mil quilômetros quadrados em seis anos – diz o ministro Carlos Minc.

Nesta quarta, dia 4, começa em Juazeiro, na Bahia, e em Petrolina, em Pernambuco, um encontro entre os governos federal e dos Estados da região Nordeste, além de produtores e bancos para discutir o combate ao desmatamento da Caatinga.