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Cabeça de galo e queijo de coalho ~ Ignácio de Loyola Brandão

JOÃO PESSOA – Numa barraca à beira-mar, vi o sujeito comendo um bolo de mandioca. Antes de me decidir, perguntei a ele: “Está bom?” Ele me avaliou, pareceu ter me aprovado: “Rapaz. Vou te dizer que está bem bom.” A todos a quem você agradece, “obrigado”, vem a resposta afável: “Disponha.” A cidade é aconchegante e o povo, hospitaleiro e alegre. Durante uma semana, aconteceu a 1ª Bienal de Livros da capital da Paraíba, promovida pela Acessus, do Salustiano Fagundes, o Salu, que vem implantando feiras de livros pelo Nordeste. Pioneiras na região, são pequenas ainda, mas despertam curiosidade e atraem o público. O poder público podia se comover mais e dar importância maior à cultura, entrando no jogo. Um dia, essas bienais serão tradição, como têm hoje Porto Alegre, Passo Fundo, Paraty. Começar é preciso (Por que essa ordem indireta? Pirei?) Em João Pessoa falaram Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna, Zuenir Ventura e outros. Gente da pesada.

Não esquecer que a Paraíba é a terra de José Lins do Rego, Augusto dos Anjos, Edilberto Coutinho, Ernani Sátiro, Perminio Asfora, Políbio Alves, Aldo Lopes. E, claro, de José Américo de Almeida. Também de Ariano Suassuna que ali nasceu, aliás no Palácio, uma vez que seu pai foi governador. Conta-se que, anos mais tarde, Ariano, ao voltar à cidade, foi visitar a casa em que nasceu. Um funcionário empertigado, ao vê-lo em mangas de camisa, botou a mão em seu peito: “Não se entra no palácio sem paletó e gravata!” E Ariano, enfezado: “Pois entro! Andei descalço e pelado nestes quartos e corredores, não vou entrar de camisa?” Como não citar o nosso José Nêumanne, poeta e romancista, saboroso contador de causos?

A Paraíba, chamada de “pequenina e heróica”, teve a mais doce cana-de-açúcar e o melhor pau-brasil do mundo, segundo a crônica ultramarina. Hoje tem o melhor sisal, o algodão de fibra longa, um abacaxi dulcíssimo, o Pérola, um rebanho caprino insuperável, uma indústria têxtil em plena evolução e cerâmica de primeira linha. Paraibanos ficam bravos e alguém não cita o Cabo Branco, como o ponto mais oriental das Américas, o que é contestado por outros Estados, mas eles comprovam com alguns metros a mais.

Para visitar a cidade é preciso ter o privilégio de contar com acompanhantes como Chico Pereira, artistas plástico, designer, historiador, apaixonado, e com Vladimir Neiva, ao lado. Nenhum detalhe nos escapa. Ao fim do dia, depois de olhar a paisagem do alto do Hotel Globo (nada a ver com a televisão, nada, era o antigo hotel dos comerciantes junto ao porto) você está apaixonado. A imensidão verde, os mangues, os canaviais ao longe, o Rio Parahyba correndo manso, deslumbraram também Franz Post, que ali esteve quando a Paraíba era a terceira capitânia em importância, antes da invasão holandesa. A paisagem hipnotiza e paralisa, é impossível arredar pé.
No entanto, é preciso partir para chegar à igreja menina dos olhos de Darcy Ribeiro, que a considerava um dos monumentos barrocos mais belos do mundo, a de São Francisco. E o crítico Clarival do Prado Valadares a definiu como a igreja mais bonita do Brasil. Novo deslumbramento. Ao chegar, deite-se no chão e contemple o teto, com as pinturas em trompe l’oeil. O que a arte moderna diz que foi inventada por ela, já estava neste teto havia séculos. Conforme você muda de lugar, as figuras se modificam e as colunas se inclinam. Pela janela da fachada, o sol, determinada hora do dia, penetra e se reflete em um crucifixo dourado que resplandece, transmitindo a “glória do Senhor”. Sabiam tudo os arquitetos da época. Tanto que em pleno inverno – estava 33°C – a igreja é fresca e a brisa circula. Apaixonado pela igreja e por sua terra, Chico Pereira se transfigura em êxtase, conhece e mostra cada detalhe, aponta para o púlpito que avança para a nave com uma decoração assombrosa, requintada. Então, percebemos que o tempo parou.

Felizmente, o centro da cidade antiga foi “esquecido” ou desprezado pela especulação imobiliária, de maneira que ainda permanecem de pé vários palacetes, casas coloniais, sobrados, (o Pavilhão Chinês, onde as pessoas iam tomar chá à tarde, é lindo, merecia mais cuidado) vestígios de uma arquitetura que fez da cidade uma centro sofisticado. No entanto, assinale-se uma tristeza. Aliás, duas. A Petrobrás, que se orgulha tanto de incentivar a cultura nacional (e realmente patrocina coisas belas) e defender o patrimônio histórico, comete um crime. Quem vai visitar a Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, magnífica, imponente, símbolo da resistência paraibana, chora. O forte foi esmagado, oprimido e desapareceu envolvido pelos gigantescos tanques de combustível da Petrobrás. Um crime, impiedade. Além disso, a visão do rio foi ocupada e se dissolveu, obscurecida por uma torre moderna, a do Moinho Tambaú. Curioso, parece que não existe Patrimônio Histórico neste Brasil. As boas cabeças da Paraíba lamentam e choram.

Era domingo e, de repente, estávamos numa casa à beira da praia. O Neiva, da Grasset, uma das grandes gráficas do Estado, abriu e porta e disse: “Chegaram na hora. Vão experimentar cabeça de galo.” Um prato típico. Para quem chega de uma noitada e precisa se retemperar. Tremi. Não gosto de frango, detesto, é trauma de infância e juventude – era comida de pobre, tinha todo dia, lembro-me do cheiro da água quente quando tiravam as penas. Cabeça de galo? Me imaginei comendo a cabeça da ave, chupando ossinhos. Teria de ser gentil fazer o sacrifício? Mas quando chegou, me deliciei. É um caldo quente, pelando, com ervas variadas, pimenta e um ovo jogado dentro. Revigorante, alucinante. O nome vem do lugar onde ele nasceu, um boteco onde os boêmios chegavam de madrugada e queriam se recompor.

Como não queria sair sem uma boa carne-de-sol, me lavaram à Tábua de Carne. Perfeito. Filé de carne-de-sol no ponto exato, manteiga da terra, na garrafa, pirão de queijo, paçoca e feijão verde. Sobremesa? Abacaxi Pérola ou queijo de coalho com melaço. Há quem resista? Nas conversas com Chico Pereira e Vladimir soube das pesquisas e experiências nutricionais que vêm sendo feitas por especialistas com resultados excepcionais. No tocante à carne caprina, lembrar que bode é prato requintado. E os cheios de imaginação locais criaram o Mac Bode – um sucesso – e o Mac Cheiro (corruptela de macacheira), outro êxito. Quem não gostou foi o MacDonald’s que protestou e processou. De nada adiantou, a coisa pegou. Saia da normalidade, jogue-se no seu país. Mac Bode e Mac Cheiro. Anote.

© O Estado de S. Paulo -  2.junho.2006 – Caderno 2

João Pessoa aparece em pesquisa como 4ª Capital mais violenta do País

gun, arma, revólver, violência

[Texto de Wellington Farias, publicado no Portal Correio, 30 mar 2010]

A cidade de João Pessoa figura em 4º lugar entre as Capitais brasileiras com os mais elevados índices de violência do Brasil. O Estado da Paraíba, no entanto, não está nem entre os dez mais violentos do País.

Os dados são do Mapa da Violência 2010, divulgado nesta terça-feira (30) e publicado no Portal Uol. Pelo mapa, o Estado de Alagoas e sua Capital, Maceió, lideram o ranking de mortes violentas no país. A reportagem do Uol, na íntegra, é a seguinte: Continue lendo

João Pessoa é a capital brasileira com maior consumo de crack

Fonte: www.onorte.com.br

O ex-integrante da Polícia Federal na Paraíba, Deusimar Guedes, que atualmente está aposentado e dedica-se a realizar palestras educativas junto ao público jovem, apontou que a capital paraibana tem o maior consumo de crack do país: “João Pessoa é a capital brasileira com o maior consumo de crack”, disse, referindo-se ao estudo apresentado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).

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