Arquivo da categoria: Educação

Menos de 30% dos brasileiros são plenamente alfabetizados, diz pesquisa

Apenas 35% das pessoas com ensino médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas e 38% dos brasileiros com formação superior têm nível insuficiente em leitura e escrita.

[Amanda Cieglinski, Agência Brasil, 17 jul 12] É o que apontam os resultados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, pesquisa produzida pelo Instituto Paulo Montenegro e a organização não governamental Ação Educativa.

A pesquisa avalia, de forma amostral, por meio de entrevistas e um teste cognitivo, a capacidade de leitura e compreensão de textos e outras tarefas básicas que dependem do domínio da leitura e escrita. A partir dos resultados, a população é dividida em quatro grupos: analfabetos, alfabetizados em nível rudimentar, alfabetizados em nível básico e plenamente alfabetizados. Continue lendo

O ensino superior sob ataque ~ Immanuel Wallerstein

A universidade como instituição crítica sempre enfrentou a relutância e a repressão dos Estados e das elites. Mas os seus poderes de sobrevivência sempre estiveram baseados na sua relativa autonomia financeira. Isto era a universidade de ontem; não a de hoje ou a de amanhã.

[La Jornada, 10 mar 12, tradução: Luiz CC Soares] Durante muito tempo, houve apenas algumas universidades em todo o mundo. O corpo discente total nessas instituições era muito reduzido. Esse pequeno grupo de estudantes vinha em grande medida das classes superiores. Estar em uma universidade conferia grande prestígio e refletia um grande privilégio. Continue lendo

Tecnologia democrática: Ensino a distância já tem 15% do total de universitários no País

Mais velhos e pobres que alunos de cursos presenciais, matriculados no ensino a distância já são 15% do total de universitários do País

[Carlos Lordelo, Estadão, 27 fev 12] Primeiro dia de aula. Nada de professor, trote ou cabeça raspada. Lugar? A sala de um hotel no centro de São Paulo. Oito horas de sábado, 11 de fevereiro. Os 31 calouros do curso a distância de Administração da Faculdade Aiec foram conhecer a estrutura da graduação e o ambiente online onde vão estudar pelos próximos quatro anos. Em comum, têm o discurso de que, sem precisar ir à faculdade todo dia, finalmente conseguirão o diploma.

São 21 mulheres. Ana Paula Freitas, de 37 anos, começou a trabalhar aos 17, teve o primeiro filho aos 19. Disse que nunca pôde pagar uma faculdade. Funcionária do call center da TIM, aproveita o que chama “oportunidade única”: a empresa vai bancar 80% da graduação. Dez dias após o início das aulas, Ana Paula disse que a vida de caloura não estava fácil. “Coloco a criançada (ela tem outros dois filhos, de 2 e de 7 anos) para dormir às 9 e meia, ligo o computador e estudo até meia-noite.” Continue lendo

Da educação mercadoria à certificação vazia ~ por Andrea Harada Souza

Enquanto não houver uma mudança radical, o próprio sentido de educação estará comprometido, posto que seu fim mais elementar não é atingido: em vez de promover a emancipação humana, produz lucro para o capital que só enxerga as camadas sociais C, D e E quando estas se apresentam como potencial mercado consumidor.

[Le Monde Diplomatique Brasil, 1 dez 11] O ensino superior, público e privado, no Brasil passou por grandes transformações nas últimas décadas. Essas mudanças – travestidas de democratização, por favorecerem o acesso – visaram atender a uma proposta de privatização e barateamento da educação.

O Ministério da Educação (MEC) alardeia números, sobretudo para organismos internacionais – que obrigam o país a se enquadrar em padrões estipulados por eles na competição do mercado de consumo, trabalho e pesquisa –, que demonstram o crescimento do acesso ao ensino superior, ainda que distantes daqueles objetivados pelo Plano Nacional de Educação (PNE) (o acesso é de apenas 13,8% dos jovens, entre 18 e 24 anos). Porém, esse suposto processo de inclusão tem facilitado, para além do aceitável, um crescimento vertiginoso das instituições de ensino superior (IES) privadas, com desdobramentos que passam pela precarização do trabalho docente e pela formação duvidosa que essas empresas têm oferecido aos alunos por ela formados.

A predominância de objetivos economicistas em detrimento dos pedagógicos nas IES privadas permitiu um fenômeno relativamente novo no Brasil: a formação de conglomerados educacionais, grandes empresas, de capital aberto e com forte participação de grupos estrangeiros em seu quadro de acionistas. A autorização para funcionamento dessa espécie de oligopólio do setor educacional tem intensificado a visão mercantil da educação superior no Brasil. Os exemplos mais representativos desse modelo de organização empresarial na educação ficam por conta dos grupos educacionais Kroton-Pitágoras, Estácio de Sá, SEB (Sistema Educacional Brasileiro) e Anhanguera Educacional. Esta última, com a recente aquisição da Uniban, passou a ser o maior grupo educacional do país, atendendo aproximadamente 400 mil alunos em campiespalhados por diversos estados brasileiros. Além disso, manteve sua projeção de crescimento de atingir 1 milhão de estudantes em cinco anos, segundo matéria do Valor Econômico de 17 de novembro de 2011. Continue lendo

Analfabetismo cai no Brasil, mas ainda é maior que no Zimbábue

[André Monteiro, Folha SP, 16 nov 11] A taxa de analfabetismo entre a população com 15 anos ou mais diminuiu 4 pontos percentuais entre 2000 e 2010, segundo novos dados do Censo divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira. O número caiu de 13,6% para 9,6%.

Na área urbana, o indicador passou de 10,2% para 7,3% da população. Já nas áreas rurais, ele teve uma melhora de 29,8% para 23,2%.

Nos Estados, a menor taxa de analfabetismo foi encontrada no Distrito Federal (3,5%) e a maior em Alagoas (24,3%).

As maiores quedas entre a população com 15 anos ou mais se deram no Norte (de 16,3% em 2000 para 11,2% em 2010) e no Nordeste (de 26,2% para 19,1%), mas também ocorreram reduções nas regiões Sul (de 7,7% para 5,1%), Sudeste (de 8,1% para 5,4%) e Centro-Oeste (de 10,8% para 7,2%).

Apesar do avanço, o índice de analfabetismo no Brasil ainda está acima do de muitos países. De acordo com dados de 2009 do Banco Mundial, a taxa de analfabetismo era de 8,14% no Zimbábue, país africano com PIB per capita igual a 5% do brasileiro.

A média mundial, segundo as estatísticas, foi de 16,32%. A menor taxa foi encontrada em Cuba (0,17%) e a maior no Chade (66,39%).

Entre as crianças brasileiras de 10 a 14 anos, 3,9% ainda não estavam alfabetizadas em 2010, o que representa cerca de 671 mil crianças. Em 2000, o número deste contingente era de 1,2 milhão de crianças, ou 7,3% do total. Continue lendo

Relatório de Desenvolvimento Humano 2011 (PDF completo)


Sustentabilidade e equidade: Um futuro melhor para todos.

O grande desafio do desenvolvimento do século XXI é a salvaguarda do direito das gerações de hoje e do futuro a vidas saudáveis e gratificantes. O Relatório do Desenvolvimento Humano de 2011 oferece novos e importantes contributos para o diálogo global sobre este desafio, mostrando como a sustentabilidade está indissociavelmente ligada à equidade – a questões de imparcialidade e justiça social e de um maior acesso a melhor qualidade de vida.

O Relatório também defende reformas para promover a equidade e a expressão. Temos uma responsabilidade colectiva para com os menos privilegiados entre nós, actualmente e no futuro, em todo o mundo – assegurar que o presente não seja inimigo do futuro. Este Relatório pode ajudar-nos a divisar os caminhos em diante.

Arquivo Completo (PDF)

As previsões sugerem que o continuado insucesso na redução dos riscos ambientais graves e das crescentes desigualdades ameaça abrandar décadas de progresso sustentado da maioria pobre da população mundial – e até inverter a convergência global do desenvolvimento humano. O nosso notável progresso no desenvolvimento humano não pode continuar sem passos globais arrojados para a redução dos riscos ambientais e da desigualdade. Este Relatório identifica caminhos para que as pessoas, as comunidades locais, os países e a comunidade internacional promovam a sustentabilidade ambiental e a equidade de formas mutuamente reforçadoras. Continue lendo

Arquivos do filósofo Walter Benjamin são apresentados em Paris pela primeira vez

O filósofo Walter Benjamin (1892-1940), um dos nomes mais importantes da história da filosofia na primeira metade do século XX, deixou um tesouro de pensamentos e imagens salvos graças a seus amigos, e que estão sendo apresentados, a partir de hoje, e pela primeira vez, no Museu de Arte e História do Judaísmo de Paris, 71 anos depois de sua morte na fronteira franco-espanhola.

[AFP, 24 out 11] Os arquivos deste pensador berlinense, autor, entre outros livros, de A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica (1936), existem graças à correspondência com os amigos, entre eles os filósofos Theodor Adorno, Hanna Arendt e Gershom Scholem; o dramaturgo Bertolt Brecht e o escritor Herman Hesse.

Partia de um pensamento que incorporava a influência romântica a um certo messianismo de origem judaica. Nos anos 1920, passou somar a estes fatores o Materialismo Histórico, aproximando-se, então, da chamada Escola de Frankfurt.

A influência de Nietzsche também é claramente perceptível. Sua projeção literária começou com a tese de doutorado: A Crítica de Arte no Romantismo Alemão (1919), seguindo-se, mais tarde As Teses sobre o Conceito de História (1940) – escritas no mesmo ano de seu suicídio, para escapar aos captores fascistas. Postumamente, em 1982, foram publicados os textos reunidos na coletânea Passagens, relativa ao período situado entre os anos 1927 e 1940. Continue lendo

O ser humano, esse desconhecido ~ por Domingos Zamagna

Apesar de ser professor há três décadas, levei um susto ao ouvir, pela primeira vez, uma universitária dizer que não admirava ninguém, ninguém mesmo. Tentei sondá-la melhor, através de perguntas, para saber se a tinha entendido corretamente. As respostas me confirmaram, ela dissera exatamente o que eu ouvira.

Geralmente os universitários brasileiros têm uma veneração obrigatória, quase religiosa, por Marx, Nietzsche, Gramsci, Foucault, Deleuze… Mas não era o caso dela, curiosa exceção. Para ela, Jesus não ia além de um fantasma. Nem os pais, professores, amigos mereciam a sua consideração!

Pensei em citar alguns heróis da pátria, alguns políticos considerados benfeitores da nação. Em boa hora calei a boca, envergonhado e arrependido por ter votado em alguns deles. Já que a escola era católica, apeguei-me às virtudes dos santos. Tentei me valer de um exemplo mais próximo para nós em São Paulo, citando o Pe. Anchieta e o Fr. Galvão. Mas, ela tinha informações truncadas sobre eles; aproximava-os da magia e do obscurantismo. Vali-me de uma mulher extraordinária, Irmã Dulce; recorri à idade média, São Francisco de Assis… Voltei para a contemporaneidade, ela praticamente ignorava D. Helder Camara, Zilda Arns, D. Luciano Mendes, Médicos sem Fronteiras, Amoroso Lima, Irmã Dorothy… Pensei que o Judaísmo, Budismo, Protestantismo, Islamismo, Espiritismo, Umbanda fossem alternativas; lembrei Einstein, Ghandi, Avicena, Luther King, Chico Xavier, Mãe Menininha… Ela me olhava como se eu falasse de incríveis tempos diluvianos. Nada. Que impasse! Continue lendo

Analfabetismo continua sendo problema na Alemanha

Pensar que há analfabetos apenas em países em desenvolvimento é mero clichê. Em nações industrializadas, como a Alemanha, o problema atinge, há muito, um número considerável de pessoas.

[DW, 2 out 11] Tim-Thilo Fellmer é um entre os chamados “analfabetos funcionais” na Alemanha, termo usado para designar as pessoas que sabem ler e escrever frases soltas, mas que não estão em condições de ler e entender textos corridos, como por exemplo instruções no ambiente de trabalho.

Quando ainda frequentava o segundo ano escolar, Tim Thilo Fellmer recebeu o diagnóstico de “dislexia”. Hoje, o bem-sucedido autor de livros infantis e proprietário de uma editora guarda poucas lembranças positivas de sua fase escolar. Para ele, sempre foi um peso enorme não conseguir executar as tarefas como os colegas de escola e acima de tudo ter sempre que ocultar o problema. “Sempre tinha que dar um jeito usando truques. E sempre vivi com medo de ser descoberto”, conta ele, ao lembrar “desse tempo difícil e muito negativo”. Continue lendo

A economia da criatividade ~ por Ladislau Dowbor

[Le Monde Diplo, 1 jun 11] Um produto hoje se torna viável e útil muito mais pelo conhecimento incorporado (pesquisa, design, comunicação etc., os chamados intangíveis) que pela matéria-prima e trabalho físico. Trata-se de um deslocamento-chave relativamente à economia dos bens materiais que predominaram no século passado.

O fator-chave de produção no século passado era a máquina. Hoje, é o conhecimento. Podemos chamar este, enquanto fator de produção, de capital cognitivo. O embate que hoje se trava no Brasil em torno da propriedade intelectual, ainda que se apresente sob a roupa simpática da necessidade de assegurar a remuneração do jovem que publica um livro ou do pobre músico privado do seu ganha-pão pela pirataria, envolve na realidade o controle do capital cognitivo. Nas palavras de Ignacy Sachs, no século passado a luta era por quem controlava as máquinas, os chamados meios de produção. Hoje, é por quem controla o acesso ao conhecimento. Estamos entrando a passos largos na sociedade do conhecimento, na economia criativa.

Como sempre, quando se trata de poderosos interesses, há uma profusão de enunciados empolados sobre ética, mas muito pouca compreensão, ou vontade de compreender, o que está em jogo. Este artigo busca trazer um pouco de explicitação dos mecanismos. Continue lendo

A pedagogia da travessia ~ Rubem Alves

A menina que me conduzia pela Escola da Ponte na minha primeira visita me disse que na sua escola não havia professores dando aulas. Espantei-me. Nunca me havia passado pela cabeça que houvesse escolas em que professores não davam aulas. Pois as aulas não são o centro mesmo da atividade escolar? As aulas não são o método que as escolas usam para transmitir saberes? E os professores não são os portadores desses saberes? Todo mundo sabe que a missão de um professor é “dar a matéria”… As escolas existem para que as aulas aconteçam… E agora essa menininha me diz que, na sua escola, não havia professores dando aulas e ensinando saberes…

E mais: naquela escola, as crianças não ficavam separadas em espaços diferenciados, de acordo com seu adiantamento: os miúdos ficavam misturados aos graúdos… Mas a separação dos alunos segundo os seus saberes não seria uma exigência da ordem e da eficácia?

Disse ainda que não havia nem provas nem notas. Mas a avaliação… Como se pode avaliar o que foi aprendido se não há provas? Provas são instrumentos de avaliação! Continue lendo

Pesquisa mostra quais os sonhos dos jovens brasileiros

[Felipe Mortara, Estadão, 13 jun 11] O maior desejo de 55% dos jovens brasileiros quando se fala de trabalho é ter a “profissão dos sonhos”. Nove em cada dez gostariam de ter uma profissão que ajudasse a sociedade. É o que aponta o estudo ‘O Sonho Brasileiro’, feito com cerca de 3 mil jovens de 18 a 24 anos de todo o País, que procura dar um panorama das expectativas destes jovens para o futuro.

Segundo a pesquisa, a possibilidade de construir uma carreira é o aspecto mais importante, seguido de ter carteira assinada. Os dois itens são mais importantes do que salário e encontrar uma profissão com perfil de futuro. Entre as pessoas ouvidas, 47% pertencem à classe C, seguida de 33% da B e 17% das classes D e E.

O estudo, realizado nos últimos 18 meses em 23 estados brasileiros procurou investigar as relações que esta parcela da população tem com questões como trabalho, política, economia, religião e família. Além disso, números como 89% têm orgulho em serem brasileiros e 75% acreditarem que o País está mudando para melhor, dão tom otimista ao trabalho. Continue lendo