Arquivo da tag: paquistão

Adolescente barra homem-bomba no Paquistão e morre na explosão

aitazaz-hassan-bangashO Paquistão tenta esculpir seu novo herói para acompanhar a garota Malala Yousafzai em seu panteão.

Moradores do distrito de Hangu, na fronteira com regiões tribais paquistanesas, pedem que Aitzaz Hassan Bangash, 14, receba um prêmio póstumo após ter impedido a entrada de um homem-bomba em sua escola. Ele morreu na explosão.

[Diogo Bercito, Folha SP, 9 jan 2013] De acordo com o relato de testemunhas, Aitzaz estava a caminho da aula quando desconfiou de um homem vestido em uniforme escolar. Eles se engalfinharam. Nesse ínterim, a bomba explodiu.

Havia na escola do garoto aproximadamente mil alunos. A explosão ocorreu a 150 metros de seu portão principal, segundo informações de autoridades locais.

Além de o garoto e o homem-bomba terem morrido, outras duas pessoas ficaram feridas. O incidente, que ocorreu na segunda-feira passada, foi confirmado por Iftikhar Ahmed, um policial do distrito de Hangu.

Um morador de Hangu citado pela rede televisiva americana CNN afirmou que Aitzaz “salvou as vidas de centenas de estudantes” e, portanto, “merece mais reconhecimento do que Malala”.

A referência é à estudante baleada pelo Taleban em outubro de 2012 devido a seu ativismo em prol da educação igualitária no Paquistão. Ela tornou-se imediatamente heroína ao redor do mundo.

Nas redes sociais, paquistaneses têm publicado usando o código “#onemillionaitzaz”, “1 milhão de Aitzaz”.

A região paquistanesa de Hangu é castigada por conflitos sectários entre muçulmanos xiitas e sunitas. O heroísmo do garoto beneficiou, nesta semana, aos estudantes de ambos os grupos.

“Aitzaz nos deixou orgulhosos ao interceptar com valentia o homem-bomba e salvar as vidas de centenas de seus colegas”, afirmou à imprensa Mujahid Ali Bangash, seu pai.

Ele pede que não lhe deem os pêsames, e sim os parabéns –por seu filho, que diz ser um mártir.

Paquistão proíbe termos ‘obscenos’ em SMS

Operadoras do país terão de bloquear mensagens de texto com palavras de conteúdo sexual, xingamentos e até ‘Jesus Cristo’.

[Estadão, 18 nov 11] ISLAMABAD – Quem manda mensagem de texto no Paquistão vai precisar moderar suas palavras. A agência de telecomunicações do país enviou uma carta às operadoras de celular ordenando o bloqueio de mensagens de texto (SMS) contendo o que a agência considera serem obscenidades, disse a porta-voz da operadora Telenor Pakistan, Anjum Nida Rahman, nesta sexta-feira, 18. A agência também enviou uma lista de 1.500 palavras em inglês e urdu que deverão ser bloqueadas pelas operadoras.

A ordem faz parte de uma tentativa da agência reguladora de bloquear mensagens de spam enviadas aos celulares, disse Rahman. A Autoridade de Telecomunicações do Paquistão se recusou a comentar a iniciativa.

Muitas das palavras que serão bloqueadas são termos sexualmente explícitos e xingamentos, de acordo com uma cópia da lista obtida pela agência de notícias Associated Press. Ela também inclui termos relativamente mais brandos, como “soltar pum” e “idiota”.

Mas as razões para bloquear algumas palavras, incluindo “Jesus Cristo”, “faróis dianteiros” e “absorvente”, eram menos claras, levantando questões sobre liberdade religiosa e praticidade. Qualquer palavra pode fazer parte de uma mensagem de spam. Continue lendo

Asia Bibi: uma cristã paquistanesa condenada à morte por blasfêmia

Cristã paquistanesa vai ser executada por blasfêmia. Mais de 30 condenados por críticas ao islão foram mortos em ataques de radicais.

[Texto de Abel C Moraes, Diário de Notícias, 19 nov 2010] Asia Bibi está perto de se tornar a primeira mulher a ser executada no Paquistão pelo crime de blasfémia contra o profeta Maomé, se não for revista, pelo tribunal de recurso de Lahore, a pena de enforcamento a que foi condenada dia 7 por um juiz da cidade de Nankana, localidade na província do Punjab.

Os cristãos representam menos de 3% dos 167 milhões de habitantes do Paquistão.

A situação da católica paquistanesa, de 45 anos, foi ontem referida pelo Papa Bento XVI ao mencionar a “difícil situação” dos cristãos naquele país, onde são “frequentes vezes vítimas de violências e discriminações”.

“Manifesto hoje, de modo particular, a minha solidariedade para com a senhora Asia Bibi e sua família. Peço que lhe seja restituída a plena liberdade, o mais rapidamente possível”, afirmou Bento XVI, que falava na Praça de São Pedro, em Roma. Continue lendo

Grupos extremistas tiram vantagem ideológica de enchentes no Paquistão

Talibã e outros preenchem lacunas humanitárias deixadas por Islamabad e comunidade internacional. Em meio a milhares de mortos, subnutridos e desabrigados, paquistaneses são presa fácil para ideologia radical islâmica.

Após as devastadoras enchentes no Paquistão, o grupo fundamentalista islâmico Talibã procura se beneficiar da situação catastrófica. Apresentando-se entre os primeiros grupos de ajuda nos locais do sinistro, os radicais procuram melhorar a própria reputação e ampliar sua influência no país.

Assim, eles exigiram do governo paquistanês que renuncie aos 55 milhões de dólares de apoio financeiro dos Estados Unidos, oferecendo, em contrapartida, verbas totalizando 20 milhões de dólares. Como a impressão que reina entre a população é de que o governo em Islamabad nada faz pelos flagelados, trata-se de uma ótima oportunidade para os talibãs de dizer “mas nós, sim”.

Vulnerabilidade emocional

A funcionária de uma organização humanitária, que preferiu permanecer anônima, confirmou à Deutsche Welle que diferentes grupos ou partidos religiosos estão sempre na linha de frente, quando se trata de medidas de auxílio, embora ela não tenha certeza de que se trate de talibãs.

Dentre os diferentes grupos terroristas que mantêm organizações beneficentes, encontra-se o famigerado Lashkar-e-Taiba (Exército dos Bons). Responsável pela série de atentados de 2008, em Mumbai, ele procura se aproveitar da atual lacuna de abastecimento. Segundo o jornal New York Times, os bens de ajuda são acompanhados da mensagem: “não confiem no governo e nos seus aliados ocidentais”.

A funcionária humanitária analisa: “As pessoas pranteiam os entes queridos, estão subnutridas, perderam suas casas: tudo isso cria uma situação emotiva bem fácil de se explorar. Muitas vezes é difícil distinguir se os grupos estão se aproveitando delas para seus fins políticos, se é ajuda real, ou uma mistura de ambos.”

Ajuda e ideologia

E não precisa ser sempre o Talibã. Ela recorda que após o arrasador terremoto de 2005 no Paquistão, grupos religiosos extremistas também foram rápidos em prover auxílio humanitário e mensagens políticas, num mesmo pacote. “Eles foram muito ativos. Dá para dizer que tudo o que aconteceu nas primeiras 24, 48 horas, foi assumido por grupos locais, o governo precisou de muito tempo para chegar. Isso lhes deu um espaço grande.”

Nada positivo para o governo paquistanês é o fato de – justamente agora, durante as inundações – o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, ter feito longa visita à França e à Inglaterra. Pois também agora os radicais procuram mais uma vez ganhar os corações e mentes dos cidadãos que o Estado parece ter perdido.

O enviado especial da Organização das Nações Unidas para o Paquistão, Jean-Maurice Ripert, acentua o quanto o país já sofre normalmente pelas atividades dos militantes. “É um fato que eles se aproveitam de cada oportunidade para proclamar suas metas. Isso nada tem a ver com os esforços da comunidade internacional. Precisamos trabalhar, precisamos ajudar a população, para demonstrar: nós nos preocupamos com a gente do Paquistão.”

Guerrilheiros talibãs no Paquistão

De fato, a corrida das forças humanitárias contra a devastação parece, pelo menos em parte, ser também uma corrida contra os extremistas. Até o momento, as nações ocidentais haviam oferecido 150 milhões de dólares para as vítimas da inundação. Porém nesta quarta-feira (11/08), a ONU lançou um apelo à comunidade internacional para que sejam angariados 459 milhões de dólares em ajuda imediata.

O governo alemão já anunciou que elevará sua contribuição para cerca de 13 milhões de dólares (10 milhões de euros). A maior ação humanitária da história das Nações Unidas visa atender às vítimas paquistanesas durante os próximos três meses.

“Temos muito a fazer”, afirmou em Nova York o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários e Ajuda de Emergência, John Holmes. Segundo ele, nas regiões atingidas, 14 milhões de pessoas precisam de cuidados médicos, 6 milhões necessitam de água e alimentos, e há o perigo de que epidemias se alastrem.

Holmes calcula que, até o momento, mais de 1.600 pessoas tenham perdido a vida. Entretanto o representante permanente do Paquistão na ONU, Abdullah Hussain Haroon, observou não ser possível estimar o número real de mortos, já que quase 5 mil aldeias foram totalmente aniquiladas pelas águas. O alcance da catástrofe ultrapassa qualquer poder de imaginação, afirmou Haroon.

Autor: Kai Küstner / Augusto Valente
Revisão: Carlos Albuquerque

Fonte: DW, 11 ago 2010