Arquivo da categoria: Indígenas

Eles não foram ouvidos

Cenas gravadas na Aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina, entre os dias 28 de outubro e 4 de novembro de 2009. Nesse período, os ministros do Meio Ambiente e Minas e Energia foram convidados a ir ao Xingu para discutir os impactos da obra de construção da usina de Belo Monte na região. Se concretizado, Belo Monte será a terceira maior hidrelétrica do mundo e vai causar impacto mais de 9 milhões de hectares de floresta, uma área equivalente a duas vezes a cidade do Rio.

httpvh://youtu.be/ZmOozYXozb8?hd=1

MC’s Guaranis ~ garotos indígenas adotam o hip hop como cultura

É nóis. Clemerson (E), Charles, Bruno e Kelvin formam o Brô MC’s

O que levou os garotos de uma reserva indígena em Mato Grosso do Sul a adotar o hip hop como cultura e a criar o primeiro grupo de rap indígena no Brasil.

[Julio Maria, O Estado de SP, 21 mai 11] Os olhos do índio Bruno Verón dizem que algo na aldeia não vai bem. Junto a três outros jovens da mesma tribo, ele tranca o sorriso, amarra o Nike e mira o alvo: o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli. André está sentado na primeira fileira ao lado do prefeito de Dourados, Murilo Zauith, e de vereadores que inauguram com festa e discursos a Vila Olímpica Indígena da região, um espaço esportivo com campo de futebol e quadras de basquete. Bruno terá sua chance logo depois das meninas dançarinas da etnia terena. Assim que o locutor anuncia a entrada de seu grupo de rap, o Brô MC”s, o índio procura pelo governador na plateia e joga a lança: “Esta vai pra vocês que não conhecem nossa realidade, que não sabem dos nossos dilemas. Aldeia unida, mostra a cara!”

A real que Bruno canta forte, em uma mistura de guarani e português, está bem perto daquele complexo esportivo de R$ 1,6 milhão cheirando a tinta. Sua casa de quatro cômodos é dividida entre ele, a mãe, o pai e cinco irmãos. O avô morreu espancado supostamente por capangas de fazendeiros que queriam os indígenas longe dali. O irmão mais velho escapou por pouco, mas leva um projétil alojado na perna. Na casa dos Verón, arroz e feijão são lei. Carne, pouca. Salada, “coisa de paulista”. Mandioca brota no quintal. Banho, só de caneca. A geladeira está quebrada. A TV funciona. O Playstation, também. E sempre, a qualquer hora, os celulares dos garotos tocam Eminem, Snoop Doggy, Racionais, MV Bill e Fase Terminal. Continue lendo

O suicídio entre os povos indígenas e as difíceis respostas

[IHU, 24 mai 11] “A questão dos suicídios entre os povos indígenas e, em especial, entre os Kaiowá Guarani é uma questão muito delicada, que precisa ser entendida em sua gravidade, respeitando o silêncio e mistério que envolvem essas mortes. Mas como uma jovem Kaiowá levou a questão ao forum da ONU para sensibilizar os Estados Nacionais sobre as principais causas dessa atitude extrema, dentre os quais se destaca a não demarcação e garantia das terras e destruição dos recursos naturais e do meio ambiente, resolvi trazer alguns elementos que ajudem a reflexão sobre essa realidade. Isso considerando que nesta semana acontecerá aqui em Dourados uma audiência pública e um seminário sobre a demarcação das terras indígenas. A temperatura certamente irá subir com um acentuado e agressivo tom anti indígena”, escreve Egon Heck, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

Eis o artigo.

Fui visitar o amigo Kaiowá, Amilton Lopes, na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, na fronteira com o Paraguai. Foi logo comentando que um vizinho seu, Arnaldo Savalo, de 30 anos, havia se suicidado, há três dias. Porém colocou uma pitada de desconfiança. “Ele estava assim ajoelhado encima da cama com a corda no pescoço e o peito machucado. Existem dúvidas se em alguns casos os aparentes suicídios não são a rigor homicídios. Porém isso acaba ficando para o rol dos mistérios que nunca serão esclarecidos. O fato é que os suicídios são, conforme a concepção Kaiowá Guarani, uma “doença-epidemia” que está fazendo cada vez mais vítimas. Falam sempre com certo constrangimento quando perguntados sobre o assunto. Preferem silenciar a respeito. Por esta razão os relatórios e estatísticas são sempre parciais e subestimadas. Conforme alguns estudiosos  a média anual de suicídios entre esse povo, no Mato Grosso do Sul, fica em torno de cinqüenta casos. Os números registrados ficam sempre aquém do que de fato acontece. Nos últimos vinte anos, foram 517 suicídios, conforme órgãos oficiais. Continue lendo

Censo conta 817 mil indígenas no Brasil

[Funai, 2 mai 11] Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Censo Demográfico realizado em 2010 no Brasil encontrou 817 mil pessoas que se declaram indígenas no Brasil, o que representa 0,42% do total da população brasileira. O número representa um crescimento de 11% em relação ao registrado no Censo de 2000, quando 734 mil pessoas se declararam indígenas.

De acordo com o Censo, em termos absolutos, o estado brasileiro com maior número de indígenas é o Amazonas, com uma população de 168 mil. Já em termos percentuais, o estado com maior população indígena é Roraima, onde os indígenas representam 11% da população total do estado.

Os dados divulgados por enquanto pelo IBGE ainda são preliminares. O Censo de 2010 trará ainda informações mais detalhadas sobre a população indígena, como etnia a que pertence e as línguas faladas, porém esses dados só devem ser divulgados a partir de Abril de 2012. Será a primeira vez que um censo demográfico no Brasil levanta essas informações.

Desaparecer em silêncio: Etnocídio de Repsol aos povos isolados na Amazônia Peruana

[Adital, 25 abr 11] Os blocos petroleiros 67 (da francesa Perenco) e 39 (da espanhola Repsol) são duas concessões na Amazônia peruana, ao norte da região Loreto, na inacessível fronteira com o Equador, que se superpõem a uma das áreas de povos indígenas em isolamento voluntário. São povos que, há um século, escaparam do genocídio da febre da borracha, isolando-se nas zonas mais remotas da Amazônia. Um recente relatório de Survival Internacional publica 39 razões “que Repsol queria que não soubesses” (1), onde são recopiladas evidências da presença desses povos, bem como o reconhecimento explícito de sua existência por parte do governo e da própria petroleira.

Há anos, a confederação indígena amazônica Aidesep (Associação Interétnica para o Desenvolvimento da Selva Peruana, a organização indígena nacional) reclama que a região compreendida entre os rios Napo e Tigre seja declarada intangível, iniciativa já vigente em algumas zonas do peru, bem como na vizinha selva equatoriana. Apesar da dificuldade para conhecer e nomear a esses povos estes poderiam ser os Toromenae, clã da etnia Huaorani, Pananajuri (etnia Arabela) e Taushiros. Seriam povos indígenas binacionais, que flutuam entre o Equador e os blocos 67 e 39, como o próprio governo do Equador reconheceu, destinando, inclusive, um montante no orçamento para tratar do tema dos povos isolados que transitam na região fronteiriça.

Quem são os povos isolados

Os povos isolados são grupos indígenas sobre os quais se tem pouca ou nenhuma informação e que evitam manter contatos regulares e pacíficos com a sociedade nacional, internando-se em regiões de difícil acesso dentro dos bosques tropicais(2). Sua sobrevivência depende exclusivamente dos recursos do bosque, sem buscar acesso aos bens materiais da civilização ocidental. Na América Latina existem ao redor de 100 grupos em isolamento voluntário em 45 diferentes áreas da Amazônia. Pelo menos 40 desses grupos estão no Brasil, 15 no Peru, 6 na Bolívia, 2 no Equador e um no Paraguai(3). Continue lendo

Avatar é aqui! Povos indígenas, grandes obras e conflitos em 2010

[Texto de Rosane F. Lacerda[1], publicado no CIMI, 8 dez 2010]

O presente artigo integra o Relatório Direitos Humanos no Brasil 2010. Para acessá-lo na íntegra, clique aqui.

Nos conflitos envolvendo o setor elétrico, o apelo ao “desenvolvimento” como justificativa para as perdas a serem suportadas pelos povos indígenas pouco difere do quadro vivenciado no tempo do regime militar. Ali, o boom desenvolvimentista devastava centenas de grupos indígenas, sobretudo, os isolados. A diferença é que o Brasil de hoje possui um marco constitucional com importantes princípios e instrumentos protetivos aos direitos indígenas.

Tentar efetuar um balanço e uma análise em poucas linhas de uma realidade tão rica e complexa quanto à relativa aos direitos humanos dos povos indígenas é algo que exige imenso esforço de síntese, além da natural busca por dados fidedignos. Devido aos estreitos limites desta obra coletiva, trazemos aqui apenas um apanhado geral sobre os acontecimentos mais relevantes do ano, tendo como fontes de dados publicações especializadas e matérias jornalísticas disponibilizadas na internet.

Em 2010, além dos tradicionais conflitos envolvendo a posse e demarcação das terras indígenas, destacaram-se aqueles relativos a grandes projetos infraestruturais ligados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, ou a interesses econômicos regionais e locais com incidência naquelas terras.

1. Povos indígenas vs. grandes obras

Obras em curso e o anúncio de projetos ligados ao setor elétrico com incidência nas terras indígenas foram responsáveis, neste ano, por grande parte das insatisfações manifestadas pelas lideranças indígenas e das tensões com setores do governo. O ano mal havia começado e a Terra Raposa Serra do Sol foi surpreendida com o anúncio da liberação, pelo governo federal, dos recursos destinados aos estudos prévios à construção da Usina Hidrelétrica (UHE) do Contigo, em Roraima. Além de chamar a atenção para os previsíveis danos ambientais decorrentes da obra, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) denunciou a ausência de consulta às comunidades indígenas. Poucos dias depois, em fevereiro, os indígenas foram novamente surpreendidos, dessa vez com o anúncio do projeto de construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) nas terras indígenas São Marcos e Raposa Serra do Sol. Tal notícia recebeu fortes críticas do CIR, já que a prospecção fora feita sem autorização das comunidades indígenas[2]. Continue lendo

Quem são os ianomâmis?

Visitantes de outras aldeias se preparam para a entrada na maloca onde se realizou a Quarta Assembleia da Hutukara Associação Yanomami, em Toototobi (AM)

[Texto de Marcelo Leite, publicado na Folha SP, 21 nov 2010]

Os primeiros contatos sistemáticos de brancos com ianomâmis, em território brasileiro, aconteceram nos anos 1940. Antes disso, só se conheciam as informações coletadas por viajantes como o etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünberg, que travou contato com os ianomâmis em 1911-1913 e escreveu sobre suas guerras com a etnia dos iecuanas, e os relatos esporádicos de seringueiros, castanheiros e piaçabeiros que topavam acidentalmente com aqueles índios nômades, falantes de uma língua desconhecida e temidos por povos vizinhos como poderosos guerreiros e feiticieiros. Militares da Comissão Brasileira de Demarcação de Limites (CBDL) percorrem várias vezes as montanhas que servem como divisor de águas entre as bacias do Orenoco e do Amazonas, entre 1938 e 1945, com a missão de fixar a fronteira entre Brasil e Venezuela.

Foi o início de uma demanda irreprimível dos índios por objetos de metal, como machados e terçados. E foi também o início de uma fabulação ambígua sobre os ianomâmis, em que se misturam imagens de um povo idilicamente isolado, ainda chamado de “guaharibos”, com as de grupos violentos e vingativos. Imbuído do positivismo benevolente que o futuro marechal Rondon imprimiria ao Serviço de Proteção ao Índio, Rubens Nelson Alves relata a expedição de 1942-1943 à região do rio Mucajaí como emissária do mundo civilizado, portadora de paz e amizade para “um grande império silvícola”. Dois anos antes no Demini, porém, um acampamento de base da CBDL sofrera um ataque dos ianomâmis, com vários feridos. Continue lendo

Kuntanawa: memórias de um povo amazônico

Eles foram quase exterminados no início do século 20 com o avanço dos seringais no estado do Acre, na região norte do Brasil. Sua língua se extinguiu e sua cultura praticamente desapareceu. Os Kuntanawa são um povo que hoje luta pelo resgate de sua identidade e tradição. Eles se misturaram com a população cabocla local no oeste do Acre e estiveram prestes a perder seus traços indígenas.

Em 1911, durante as perseguições armadas aos povos indígenas que acompanharam a abertura e a instalação dos seringais em todo o Acre, a etnia Kuntanawa, ou inicialmente grafada ‘Kontanawa’ – o povo do côco –, contabilizava apenas cinco sobreviventes. Atualmente, soma cerca de 400. Eles não falam mais a sua língua tradicional, pertencente ao tronco linguístico Pano, falam apenas o português. Continue lendo

Indígenas no Brasil temem o progresso a qualquer custo

Índios da tribo Yanomami: resistência pela cultura

População indígena do Brasil ainda briga para ser ouvida pelas autoridades e teme que o progresso do país acabe com a sua cultura. E a construção da usina de Belo Monte é vista como grande ameaça.

Na data em que a Organização das Nações Unidas celebra o Dia Mundial dos Povos Indígenas, nesta segunda-feira (09/08), Sônia Bone Santos Guajajara, líder dos movimentos indígenas na Amazônia, demonstra um certo pessimismo ao pensar no futuro.

Guajajara usa o nome de sua tribo como sobrenome, e confessa uma certa preocupação quanto ao progresso brasileiro: “A tendência do Brasil é crescer, é se desenvolver, isso é uma meta do Estado. Mas não estão levando em consideração a vida das populações tradicionais e dos povos indígenas. Nós vamos resistir enquanto pudermos.”

Sônia fez história ao se tornar a primeira mulher a assumir um posto de chefia na Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e ao concluir o ensino superior do curso de Letras na Universidade Estadual do Maranhão. Ela nunca se limitou às fronteiras naturais amazonenses: participou da Conferência do Clima em Copenhague e já representou o Brasil em reuniões do Fórum Permanente dos Povos Indígenas das Nações Unidas.

A terra e o progresso

Em 21 anos de história, a Coiab comemora alguns avanços, entre eles uma maior agilidade no processo de demarcação da terra. Mas os índios ainda precisam de proteção para se manter no território a eles garantido pela lei. “Os indígenas vivem ameaçados dentro das próprias terras, por conta de madeireiros, de fazendeiros, de donos do agronegócio, que vão expandindo a plantação e que fazem grande pressão sobre as terras indígenas”, conta Guajajara.

A região amazônica é marcada por interesses intrínsecos ao desenvolvimento do país. Mas os grandes projetos econômicos também trazem ameaças aos indígenas que, em muitos casos, são obrigados a mudar suas aldeias de lugar e deixar para trás heranças tradicionais.

“A proteção territorial é muito falha e ainda há terras por serem demarcadas, como no Mato Grosso do Sul e no Nordeste. Sem terras, os índios são levados à criminalização, o que é hoje uma questão muito grave para nós”, ressalta a líder.

Mas o maior desafio do movimento de resistência dos índios provoca também uma batalha nos tribunais brasileiros, tem um histórico de mais de 20 anos e, ao que tudo indica, se transformará em fato consumado: a usina hidrelétrica de Belo Monte.

A usina bilionária

“Não é que se é contra Belo Monte, ou contra todos os empreendimentos. Mas as coisas precisam ser feitas de forma legal. Há a declaração da ONU que dá a garantia de consulta livre, prévia e informada. E em Belo Monte não aconteceu nada disso. As comunidades não foram consultadas, não foram informadas”, lembra Sônia Guajajara.

Felício Pontes atua no Ministério Público Federal do Pará e acompanha a queda de braço na Justiça brasileira. O procurador federal move nove ações contra a usina e acredita que a legislação brasileira está a seu favor.

“O Brasil tem leis protetoras ambientais e indígenas muito fortes. O problema é que o governo mente sobre os efeitos que esses projetos terão, sobretudo na questão indígena. O presidente da República disse no programa Café com o Presidente que não haverá impacto nenhum sobre as comunidades indígenas. Mas haverá um impacto muito grande”, denuncia.

Dentre as funções da Procuradoria Federal, está a de defender os direitos sociais e individuais dos cidadãos perante a Justiça. Felício Pontes, que também nasceu no estado do Pará, diz que é impossível que a construção da terceira maior hidrelétrica do mundo, com barragens no rio Xingu, não tenha impacto sobre os povos indígenas – a região concentra a maior diversidade étnica indígena do país.

“O sistema judiciário é muito burocrático e lento. Faz com que a demora numa decisão judicial definitiva favoreça sempre a quem não tem razão. Isso explica a pressa do governo federal em que não haja uma decisão definitiva sobre o caso e a correria para que a obra seja feita”, argumenta.

A primeira ação judicial movida pelos procuradores foi ainda em 2001: ela pedia que os índios fossem ouvidos antes que Belo Monte virasse uma realidade. Mas as audiências públicas, que deveriam ser feitas no Congresso Nacional, nunca aconteceram.

Outros processos em andamento apontam erros no projeto e levantam dúvidas sobre a quantidade de energia que será gerada na usina.

O Ministério Público do Pará está acostumado a brigar pelo direito dos indígenas, já que o estado tem forte presença desses povos. Já ganhou processos contra diversas mineradoras que exploram a Amazônia – inclusive contra a gigante Vale, que foi obrigada a pagar indenização por construir uma estrada de ferro numa reserva indígena no sul do estado.

“No caso de Belo Monte, nós não estamos tendo agora resultados positivos. Mas se não tivéssemos entrado com a primeira ação em 2001, a usina hoje já estaria construída. Só não saiu do papel ainda por conta das ações que movemos desde então”, avalia o procurador federal.

A empresa Norte Energia é a responsável pela construção e operação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, estimada em 19 bilhões de reais, segundo a própria companhia. A construção ainda não foi iniciada, mas a previsão é que a usina comece a operar parcialmente em 2015.

Fonte: DW, 10 ag0 2010

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Rodrigo Rimon

Situação de Guaranis no Brasil é a pior entre os indígenas das Américas

As condições de vida e os direitos dos povos indígenas Guarani do Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste brasileiro, estão sendo extremamente violados e ameaçados. Se comparados com outras etnias das Américas, os indígenas estão entre os que vivem em piores condições.

Foram estas as constatações do relatório produzido pela Survival International para o Comitê para Eliminação da Discriminação Racial da Organização das Nações Unidas (Cerd ONU).O relatório, que será divulgado em 21 de março, Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, revela que problemas como assassinatos, suicídios, desnutrição, alcoolismo e deslocamentos forçados estão no topo das situações extremas enfrentadas pelos Guarani. O fator predominante para o desencadeamento das problemáticas é o não reconhecimento do direito a terra.

Após visita ao Brasil, em novembro de 2009, a comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, constatou que a situação de descaso com os indígenas Guarani se contrapõe totalmente ao progresso econômico do país.Em outubro do mesmo ano, a ex-ministra do Meio Ambiente, Senadora Marina Silva, também esteve no Mato grosso do Sul e declarou que “os problemas enfrentados pela população indígena ‘são de natureza muito grave’ e que os 45 mil índios do Estado enfrentam um verdadeiro ‘apartheid social’, devido à falta de garantias para que possam exercer seus direitos”.

Após assistirem de mãos atadas ao roubo de suas terras e constatarem as recusas do governo brasileiro e do Estado do Mato Grosso do Sul em reconhecerem seus direitos a terra, o povo Guarani está sendo obrigado a “se envolver em trabalhos forçados” ou oferecer sua mão de obra por uma remuneração miserável para sobreviver.

Uma das principais causas da tomada de territórios Guarani é o crescente interesse nas terras para a produção de cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol, e para a plantação de soja e chá, além da criação de gado e para programas de assentamento do governo. Por estes motivos, grandes comunidades indígenas têm como última opção montar acampamentos na beira de rodovias, onde são alvos fáceis de atropelamentos e da ação de pistoleiros contratados por fazendeiros.

O saqueio das terras também acarreta a existência de “aldeias superlotadas”, onde a população depende de ajuda do governo para sobreviver e passa por problemas de deterioração da saúde e desnutrição. A prova, é que os Guarani do Brasil tem expectativa de vida mais de 20 anos abaixo da média nacional.

Esta soma de fatores é também o principal motivo desencadeador de suicídios. De acordo com o relatório da Survival que será encaminhado para a ONU, o índice de suicídio entre os Guarani é um dos mais altos no mundo. Mais de 625 indígenas tiraram a vida desde 1991, entre eles, crianças de apenas nove anos. Em 2005, o índice de suicídio entre os Guarani foi 19 vezes mais alto do que o índice nacional.

Com o inevitável deslocamento para outros territórios, ocorre uma desestruturação da sociedade Guarani. Os homens vão em busca de trabalhos temporários em fazendas e refinarias saindo do convívio de suas famílias e abandonando seus modos de organização social. A não aceitação dos despejos forçados ocasiona detenções injustas, destruição de casas e comunidades e assassinatos.

Em suas conclusões, a Survival International apela ao Cerd a fim de que o governo brasileiro tome uma série de medidas que visem garantir os direitos e o respeito ao modo de vida dos Guarani. No topo das reivindicações está a finalização, em caráter de urgência, do programa de demarcação das terras. Também é pedido que seja respeitada a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e a Convenção 169 da OIT sobre os direitos de povos indígenas. Outras reivindicações estão relacionadas à agilização dos casos de disputa de terras, fim da impunidade dos crimes cometidos contra os Guarani e medidas para que os indígenas não sejam ilegalmente detidos.

Para ler o relatório na íntegra, acesse: http://assets.survival-international.org/documents/208/Survival_Guarani_Report_Portuguese-2.pdf

Fonte: Natasha Pitts, Adital, 18 março 2010

Operação do GOE prende 10 índios Potiguaras

O Norte, 4 fev 2010

Operação do GOE prende 10 índios potiguaras acusados latrocínios e assaltos no litoral

A Operação “Potiguara” prendeu no início da manhã desta quinta-feira, dia 4, um grupo formado por 10 índios de aldeias do litoral norte do estado acusados de assaltos e latrocínios. Um dos presos é filho de um cacique. A ação foi realizada por policiais civis e miltiares.

Os índios aterrorizavam principalmente a região que envolve os municípios de Mataraca, Marcação, Rio Tinto e Baia da Traição.

O delegado Valber Virgulino, que comanda o Grupo de Operações Especiais (GOE), informou que os índios foram levados para a Central de Polícia, em João Pessoa.

As prisões ocorreram com autorização da Justiça. Foram expedidos 13 mandados de prisão, sendo que 10 foram cumpridos. Os índios moravam em aldeias dos municípios de Rio Tinto, Baía da Traição e Mataraca. O delegado informou que uma arma foi apreendida na casa de um dos acusados.

Na Operação Potiguara também foi encontrada uma arma que teria sido utilizada em um dos crimes praticados pelo grupo. Segundo a polícia, há indícios de que os acusados atuavam em conjunto, mas ainda não é possível caracterizar formação de quadrilha.

Katukinas relatam presença de isolados no rio Biá

Fonte: Roberto Almeida, Estadão

CARAUARI (AM) – Após colher relatos consistentes de índios katukinas da Terra Indígena Rio Biá, no sudoeste do Amazonas, a expedição da Frente Etnoambiental Vale do Javari, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, decidiu realizar uma nova entrada na selva a partir desta terça-feira (19). Os katukinas afirmam que tiveram contato com um grupo isolado desconhecido, descreveram sua fisionomia e o local onde caçam.

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