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Bastidores da tragédia Kaiowá-Guarani: Multinacionais, partidos, Justiça…

Guerreiro guarani-kaiowá do acampamento de Pyelito Kue (Foto: Spensy Pimentel)

Antropólogo e jornalista, Spensy Pimentel deixou, em 2007, o trabalho como repórter especial em Brasília, na Agência Brasil, para se dedicar à pesquisa de doutorado na USP, sobre a vida política dos Guarani-Kaiowá, atualmente em fase de conclusão.

[Bob Fernandes, Terra Magazine, 25 out 2012] Spensy já tinha defendido o mestrado, também na USP, sobre a epidemia de suicídios verificada entre esses indígenas desde os anos 80. Realizou pesquisa no Mato Grosso do Sul exatamente no periodo em que os conflitos entre índios e fazendeiros se acirraram, desde 2009.

Em 2011, Spensy Pimentel lançou, junto com parceiros, o vídeo “Mbaraká – A Palavra que age”, sobre o envolvimento dos xamãs Guarani-Kaiowá com a luta pela terra em MS.

Nesta conversa, o antropólogo Spensy Pimentel elenca alguns dos atores presentes nos bastidores dessa tragédia:- (…) O movimento de recuperação das terras, que organiza as grandes assembleias (Aty Guasu), é uma reação a esse confinamento que o Estado brasileiro impôs aos Kaiowá e Guarani. Diz ainda Spensy Pimentel:

– Esse confinamento foi realizado para viabilizar a instalação do agronegócio ali: cana, soja, gado, milho produzidos para exportação, em parceria (insumos, apoio tecnológico e, muitas vezes, financiamento) de multinacionais como Bunge, Cargill, ADM, Monsanto…

Confira abaixo a íntegra da entrevista: Continue lendo

O suicídio entre os povos indígenas e as difíceis respostas

[IHU, 24 mai 11] “A questão dos suicídios entre os povos indígenas e, em especial, entre os Kaiowá Guarani é uma questão muito delicada, que precisa ser entendida em sua gravidade, respeitando o silêncio e mistério que envolvem essas mortes. Mas como uma jovem Kaiowá levou a questão ao forum da ONU para sensibilizar os Estados Nacionais sobre as principais causas dessa atitude extrema, dentre os quais se destaca a não demarcação e garantia das terras e destruição dos recursos naturais e do meio ambiente, resolvi trazer alguns elementos que ajudem a reflexão sobre essa realidade. Isso considerando que nesta semana acontecerá aqui em Dourados uma audiência pública e um seminário sobre a demarcação das terras indígenas. A temperatura certamente irá subir com um acentuado e agressivo tom anti indígena”, escreve Egon Heck, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

Eis o artigo.

Fui visitar o amigo Kaiowá, Amilton Lopes, na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, na fronteira com o Paraguai. Foi logo comentando que um vizinho seu, Arnaldo Savalo, de 30 anos, havia se suicidado, há três dias. Porém colocou uma pitada de desconfiança. “Ele estava assim ajoelhado encima da cama com a corda no pescoço e o peito machucado. Existem dúvidas se em alguns casos os aparentes suicídios não são a rigor homicídios. Porém isso acaba ficando para o rol dos mistérios que nunca serão esclarecidos. O fato é que os suicídios são, conforme a concepção Kaiowá Guarani, uma “doença-epidemia” que está fazendo cada vez mais vítimas. Falam sempre com certo constrangimento quando perguntados sobre o assunto. Preferem silenciar a respeito. Por esta razão os relatórios e estatísticas são sempre parciais e subestimadas. Conforme alguns estudiosos  a média anual de suicídios entre esse povo, no Mato Grosso do Sul, fica em torno de cinqüenta casos. Os números registrados ficam sempre aquém do que de fato acontece. Nos últimos vinte anos, foram 517 suicídios, conforme órgãos oficiais. Continue lendo