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Pedofilia: a ”distração” do New York Times

Alguns dias atrás, publicamos a notícia, dada pelo New York Post, de um escândalo de abusos sexuais de menores que abalou a comunidade judaica ortodoxa de Nova York. Hoje, publicamos o que o sítio norte-americano TheMediaReport.com escreve sobre o assunto, observando o comportamento da mídia norte-americana.

[Marco Tosatti, Vatican Insider, 15 dez 11; IHU 16 dez 11, tradução Moisés Sbardelotto] “O procurador distrital Charles J. Hynes, de Kings County, Nova York, anunciou recentemente que, nos últimos três anos, 85 predadores de crianças acusados foram presos na comunidade ortodoxa judaica do Brooklyn. Os casos envolvem pelo menos 117 supostas vítimas.

“Um homem, Andrew Goodman, foi acusado por 144 abusos sexuais revoltantes de dois meninos ortodoxos – um de 11 a 15 anos de idade, e o outro de 13 a 16.

“Andrew Goodman é conhecido em nossa comunidade como um antigo molestador que ataca meninos e arruína as suas vidas’, disse um estudioso local ao New York Post. Uma câmera escondida mostra Goodman levando os meninos para a sua casa tarde da noite. O New York Post acompanhou toda essa narrativa com uma série de artigos reveladores”.

Até aqui, as habituais histórias de horror. Mas é o que se segue que nos parece interessante: Continue lendo

Escândalo de pederastia entre os judeus ortodoxos nos Estados Unidos

As vítimas dos achaques, crianças e jovens que sofreram atos de violência sexual, são 117. As pessoas investigadas presas durante estes últimos três anos são 85, todas pertencentes à grande comunidade judaica ortodoxa do bairro nova-iorquino do Brooklin, que tratou – inutilmente – de resolver o problema a partir de dentro antes de denunciar tudo o que estava ocorrendo à polícia. O escritório do fiscal do distrito, Charles Hynes, continua investigando e não estão excluídos novos desdobramentos.

[Andrea Tornielli, Vatican Insider, IHU, 16 dez 11, tradução por Cepat] A operação, uma das mais importantes contra a pederastia, foi chamada de Kol Tzedek, isto é, “voz da justiça”: não foi fácil convencer as vítimas para que saíssem a público quebrando o silêncio cúmplice que acobertava esta triste sucessão de acontecimentos. Quem foi vítima de violência, de fato, segundo o prestigioso grupo de estudiosos da Torá, Agudath Israel of America, tem que falar com o rabino antes que com qualquer outra pessoa. A autoridade religiosa avalia se é oportuno ou não fazer uma denúncia à polícia. Continue lendo

Igreja católica dos Estados Unidos sofre evasão crônica de fiéis

Dois milhões “estão em fuga” de Roma. É o efeito causado pelos abusos: uma hemorragia de fiéis nos Estados Unidos. 3% dos católicos norte-americanos abandonaram a Igreja por causa dos escândalos dos sacerdotes pederastas, segundo um estudo da Universidade de Notre Dame realizado por Daniel M. Hungerman.

[Giacomo Galeazzi, Vatican Insider/IHU, 25 nov 11]. E quem tira maior proveito da crise do catolicismo norte-americano é a confissão batista. Guido Mocellin, na revista dos padres dehonianos Il Regno, já havia chamado a atenção sobre o propósito de uma “crise de credibilidade” da Igreja nos Estados Unidos. A culpa é sobretudo da linha de conduta de omissão aplicada pelos bispos antes que a “tolerância zero” fosse imposta por Bento XVI. Continue lendo

O que causou a crise de pedofilia na Igreja?

[IHU, 3 jun 11] Kathleen McChesney, que atuou de 2002 a 2005 como a primeira diretora-executiva do recém-criado Escritório para a Proteção da Criança e da Juventude da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, analisa aqui as principais conclusões do relatório do John Jay College sobre o abuso sexual por parte do clero. O artigo foi publicado na revista dos jesuítas dos EUA, America, 06-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Eis o texto:

O tão esperado relatório As causas e o contexto do abuso sexual de menores por padres católicos nos Estados Unidos, 1950-2010 oferece respostas bem pesquisadas às perguntas-chave sobre a crise dos abusos. O John Jay College de Justiça Criminal passou quase cinco anos realizando esse estudo inédito, que foi encomendado pela Conferência dos Bispos dos EUA a um custo de 1,8 milhões de dólares.

O relatório não identifica uma causa específica definitiva para os abusos – não há nenhuma “prova cabal” para a vitimização dos milhares de meninos e meninas pelo clero católico durante as últimas seis décadas. Houve, ao contrário, uma confluência de fatores organizacionais, psicológicos e situacionais que “contribuíram para a vulnerabilidade dos padres” durante esse período, que levou a que 4% a 6% deles cometessem atos de abusos. Por que os outros 94% a 96% dos padres, sujeitos às mesmas vulnerabilidades, não ofenderam os menores não está claro e pode estar além dos limites da pesquisa psicológica e social. Fatores não são desculpas, no entanto, e a excessiva dependência a influências externas pode levar à complacência na prevenção dos abusos. Continue lendo

Desmontada maior rede de pedofilia já encontrada na web

[BBC Brasil, 16 mar 11] Uma investigação policial desmontou a maior rede de pedofilia já descoberta na internet, com cerca de 70 mil integrantes e conexões em 30 países, informou nesta quarta-feira a Europol (agência de polícia da Europa).

Segundo o chefe da Europol, Rob Wainwright, 670 suspeitos foram identificados, dos quais pelo menos 170 foram detidos. Além disto, já foram identificadas 230 crianças que sofreram abusos pelos pedófilos.

Segundo Wainwright, os pedófilos se escondiam por trás de um fórum online operado legalmente na Holanda, por onde trocavam fotos e vídeos de crianças molestadas.

Os detetives envolvidos na investigação, de acordo com a Europol, se fizeram passar por pedófilos para se infiltrar na rede e coletar informações.

A operação policial, batizada de Operação Resgate, levou três anos para ser realizada. Entre os países onde foram encontrados suspeitos, estão Grã-Bretanha, Holanda, Austrália, Itália, Canadá e Tailândia.

A Europol prevê que o número de detidos vai aumentar, na medida em que mais integrantes da rede venham a ser descobertos.

Escândalos de pedofilia provocam êxodo de fiéis da Igreja Católica alemã

[Mark Hallam, DW, 19 dez 2010]

Dezenas de milhares de alemães cancelaram sua filiação à Igreja Católica em 2010 – muito mais do que em anos anteriores – privando-a de seus impostos. Escândalos de abuso sexual parecem ser motivo central de deserções.

O número de alemães que abandonaram a Igreja Católica em 2010 é superior, em vários milhares, ao dos anos anteriores, revelou um estudo realizado pelo jornal Frankfurter Rundschau. Há indicadores de que a motivação central dos fiéis tenha sido a recente onda de escândalos de abuso sexual de menores.

A diocese de Augsburg, na Baviera, acusou uma das piores cifras: até meados de dezembro, 11.351 de seus fiéis desertaram, contra 6.953 em 2009. Seu antigo bispo, Walter Mixa, foi forçado a renunciar em abril último, devido a acusações de abuso físico e fraude.

Em Rottenburg-Stuttgart, no sudoeste do país, 17.169 católicos deixaram a diocese até meados de novembro de 2010, quase 7 mil a mais do que no ano anterior. Trier, Würzburg, Osnabrück e Bamberg igualmente acusaram altas taxas de deserção. Continue lendo

Turismo sexual estimula prostituição infantil no Brasil

Um programa da BBC mostrou que crianças estão suprindo uma crescente demanda de turistas estrangeiros que viajam ao Brasil atrás de sexo e acompanhou as tentativas de controlar o problema.

O programa Our World: Brazil’s Child Prostitutes (“Nosso Mundo: As Crianças Prostitutas do Brasil”, em tradução livre), vai ao ar no canal de TV internacional de notícias da BBC, BBC World, neste fim de semana.

A cada semana, operadores de turismo despejam nas cidades brasileiras milhares de homens europeus que chegam em voos fretados especialmente ao Nordeste em busca de sexo barato, incentivando assim a prostituição.

O problema, que foi constatado pela BBC em Recife, já estaria levando o Brasil a alcançar a Tailândia como o principal destino mundial do turismo sexual.

De acordo com o repórter Chris Rogers, responsável pela reportagem, apesar das garantias de uma ação policial, nas ruas da capital pernambucana parece haver poucos indícios de que a prostituição infantil está desaparecendo.

Corpo frágil

Uma menina vestida com um pequeno biquíni expõe seu corpo frágil. Ela não parece ter mais do que 13 anos, mas é uma das dezenas de garotas andando pelas ruas à procura de clientes debaixo do sol da tarde.

Todo dia eu peço a Deus que me tire dessa vida. Às vezes eu paro, mas depois volto para as ruas para procurar homens. A droga faz mal, a droga é minha fraqueza, e os clientes estão sempre a fim de pagar.

P., menor prostituta

A maioria vem das favelas da região. Ao parar o carro, a reportagem da BBC é recebida com uma dança provocante da menina, para chamar a atenção.

“Oi, meu nome é C. Você quer fazer um programa?”, ela pergunta. C. pede menos de R$ 10 por seus serviços. Uma mulher mais velha chega perto e se apresenta como mãe da menina.

“Você pode escolher outras duas meninas, da mesma idade da minha filha, pelo mesmo preço”, ela diz. “Eu posso levar você a um motel local onde um quarto pode ser alugado por hora.”

Quando a noite cai, em uma área com bares e bordéis da cidade, o playground sexual de Recife ganha vida.

Prostitutas se divertem com turistas, dançando e procurando por clientes em potencial. Muitas delas parecem muito menos do que 18 anos de idade.

Motoristas de táxi trabalham com as garotas que são jovens demais para entrar nos bares. Um deles me oferece duas pelo preço de uma e uma carona para um motel local.

“Elas são menores de idade, então são muito mais baratas que as mais velhas”, explica ele ao me apresentar S. e M.

Nenhuma delas faz nenhum esforço para esconder sua idade. Uma delas leva consigo uma bolsa da Barbie, e as duas se dão as mãos com um olhar que parece aterrorizado diante da perspectiva de um potencial cliente.

Crack

A zona da prostituição no Recife está cheia de carros circulando em baixa velocidade ao lado dos grupos de garotas exibindo seus corpos.

Uma delas, P., está vestida com um top cor-de-rosa e uma minissaia. A menina de 13 anos concorda em falar comigo sobre sua vida como prostituta. Ela conta que trabalha na mesma esquina todas as noites até o amanhecer para financiar o vício dela e da mãe em crack.

“Normalmente eu tenho mais de dez clientes por noite”, ela se vangloria. “Eles pagam R$ 10 cada – o suficiente para uma pedra de crack”, diz.

O Brasil estaria alcançando a Tailândia como destino para o turismo sexual.

Por segurança, P. trabalha com um grupo de meninas mais velhas que atuam como cafetinas, tomando conta do dinheiro e cuidando das mais novas.

“Há muitas meninas trabalhando por aqui. Eu não sou a mais nova. Minha irmã tem 12 anos e tem uma menina de 11”, conta.

Mas P. está preocupada com sua irmã. “Eu não vejo a B. há dois dias, desde que ela saiu com um estrangeiro”, diz.

P. diz ter começado a trabalhar como prostituta com sete anos. A Unicef estima que há 250 mil crianças prostituídas como ela no Brasil.

“Estou fazendo isso há tanto tempo que nem penso mais nos perigos”, ela afirma. “Os estrangeiros vivem aparecendo por aqui. Eu já saí com um monte deles”, conta.

Apenas algumas quadras dali a calçada está tomada por travestis procurando clientes. Entre eles está R., de 14 anos, e I., de 12.

Os primos parecem convincentes como meninas com seus saltos altos, minissaias, blusas e maquiagem pesada.

“Precisamos ganhar dinheiro para comprar comida para nossas famílias”, explica R. ajeitando seu longo cabelo.

“Nossos pais não se preocupam muito com a gente. Dizemos a eles quando estamos saindo e quando chegamos. E então damos a eles o dinheiro para comprar comida. Eles sabem como conseguimos o dinheiro, mas nós não discutimos isso”, diz.

Fortaleza

Antes, a maioria dos turistas sexuais costumava ir a Fortaleza. Mas não mais – no último ano, a capital do Estado do Ceará vem mandando uma clara mensagem aos turistas sexuais de que eles não são bem-vindos.

Todas as semanas, dezenas de carros com policiais federais armados com metralhadoras AK-47 patrulham as ruas das zonas de prostituição, vasculhando os motéis e bordéis, prendendo clientes e cafetões e levando meninas menores de idade para abrigos.

Eline Marques, coordenadora da Secretaria Especial de Prevenção ao Tráfico de Seres Humanos, afirma que as blitze estão tendo um resultado.

“Já fechamos muitos estabelecimentos em Fortaleza. Ruas inteiras estão agora livres da prostituição. Meu objetivo é intensificar essas ações antes da Copa do Mundo, tendo com alvo o próprio turismo que fomenta a prostituição infantil”, diz ela.

Outros Estados indicaram que estão acompanhando a campanha de Marques e que, se ela tiver sucesso, poderão seguir ações semelhantes.

Mas, para cada estabelecimento sexual que é fechado, para cada turista sexual preso, há também vítimas. Muitas são levadas para abrigos de instituições de caridade.

Recuperação

Jovens travestis dizem que se prostituem para comer.

O Centro de Recuperação Rosa de Saron, perto do Recife, está operando com sua capacidade máxima, porque as meninas não podem ser devolvidas para casa, por causa da pobreza que as levou à prostituição. Elas chegam lá vindas de todo o Brasil.

M., de 12 anos, quer viver com a mãe, mas não pode porque seu cafetão, que a forçou a trabalhar nas ruas e em bordéis, ameaçou matá-la se ela tentasse escapar.

Ela diz que ainda teme por sua vida.

“Não tive opção a não ser fazer o que ele mandava. Eu senti que estava perdendo minha infância, porque eu tinha só 9 anos de idade”, diz ela. “Eu tinha medo. Às vezes eu voltava sem dinheiro e ele me batia”, conta.

Jane Sueli Silva, que fundou o centro, diz que a maioria das garotas tem entre 12 e 14 anos quando chegam. Algumas delas chegam grávidas.

“Muitas delas chegam aqui com problemas sérios, como câncer de colo de útero”, diz. “Como o câncer normalmente está só no estágio inicial, podemos ajudá-las, e graças a Deus que a cura é normalmente bem-sucedida.”

Uma outra ONG, a britânica Happy Child International, planeja construir mais centros para abrigar o crescente número de crianças prostituídas.

Mas crianças como P. ainda estão desamparadas.

Sua casa é um pequeno barraco que ela divide com sua mãe, dois irmãos e a irmã B., de 12 anos. Dentro, apenas dois sofás que são usados como camas e um balde plástico usado para lavar roupas e pratos.

Quando perguntada sobre se a prostituição das filhas a magoava, a mãe delas pareceu mais preocupada com dinheiro. “Se elas conseguem dinheiro, não trazem para cara. Não, elas não trazem dinheiro nenhum para casa”, disse.

P., por sua vez, diz que espera um dia sair da prostituição.

“Todo dia eu peço a Deus que me tire dessa vida. Às vezes eu paro, mas depois volto para as ruas para procurar homens. A droga faz mal, a droga é minha fraqueza, e os clientes estão sempre a fim de pagar.”

Fonte: BBC Brasil, 30 julho 2010

A pedofilia e a questão do celibato ~ por Nazir Hamad

“Pode-se ser pedófilo tanto dentro da Igreja como fora dela. O pedófilo pode ser tanto um clérigo seguindo a regra do celibato, como um leigo, casado e pai de vários filhos”, escreve Nazir Hamad, em artigo que nos foi enviado e publicamos na íntegra. Segundo ele, “um adulto que trabalha com crianças cai nisso que Ferenczi chama de confusão de linguagens”.

Nazir Hamad é psicanalista libanês, radicado em Paris. Especialista na área de adoção de crianças, é psicanalista da Association Freudienne Internationnale (AFI) e atuou durante anos junto à ASE (Action Sociale à l’Enfance), órgão francês responsável pela emissão dos certificados que orientam a habilitação dos candidatos à adoção. Escreveu, entre outros, A criança adotiva e suas famílias (Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004) e Um homem de palavra (Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004).

Eis o artigo.

As recentes revelações sobre os numerosos casos de abusos sexuais perpetrados por membros do clero católico são, certamente, chocantes, mas isso é algo específico à vida da Igreja?

Minha resposta é simples: não é o pedófilo que quer. Pode-se ser pedófilo tanto dentro da Igreja como fora dela. O pedófilo pode ser tanto um clérigo seguindo a regra do celibato, como um leigo, casado e pai de vários filhos. A pedofilia diz respeito nesse caso preciso a uma estrutura perversa e quando este é o caso, não há nenhuma diferença entre leigo e eclesiástico. É preciso aceitar, mesmo que seja difícil de admitir, que é possível ser clérigo e ter escolhido consagrar sua vida a serviço da Igreja e ser perverso.

Entretanto, qualquer abuso sexual de uma criança não é necessariamente obra de um comprovado perverso. Acontece que um adulto que trabalha com crianças cai nisso que Ferenczi chama de confusão de linguagens. Eu ouvi adultos se defenderem afirmando com toda a boa fé que o que lhes aconteceu foi culpa da criança. A criança seria culpada aos seus olhos de ter provocado neles o desejo sexual. Consideremos esse caso que encontramos em cada casa. Uma filha ou um filho que toca seu sexo sentado no colo de seus pais ou de outros adultos, ou que se esfrega contra eles, é alguma coisa que está longe de ser incomum. Basta que uma criança caia nas mãos de um homem que se deixa subjugar por sua excitação sexual para que esta ela se torne sua vítima. A criança que se esfrega no adulto não é perversa no sentido patológico da palavra. A criança sofre de ondas pulsionais que colocam seu corpo em tensão, e sob a influência desta tensão, ela vive sensações que não têm nada a ver com a sexualidade propriamente dita. Ora, quando a criança se comporta desta maneira, trata-se para ela de uma questão dirigida ao adulto. E é justamente aí que o sapato aperta. O que acontece se o adulto em questão interpreta o contato da criança como uma mensagem sexual? O adulto reage como um macaco que obedece ao apelo de seu instinto.

Eu mesmo vi um educador que chorava, abatido, por ter abusado de uma criança de que ele particularmente gostava. Toda a equipe de educadores testemunhou a favor dele afirmando que ele sempre tinha sido exemplar em seu trabalho com as crianças. Ninguém compreendeu o que lhe aconteceu e menos ainda ele próprio. Ele chorava porque não tinha resposta para o que aconteceu. Ele havia tomada essa criança em seu colo e eis que se viu tomado de um estado de excitação que o dominou e ele se perdeu. Atrás do devotado educador se escondeu um macaco em estado de ereção, como frequentemente vemos em Jardins Zoológicos.

O adulto é a vítima da criança, como às vezes se alega? Sim e não. É vítima da interpretação que ele dá à mensagem da criança. Com outras palavras, ele é sua própria vítima. Mas dizer isso não o inocenta. O adulto que sucumbe dessa maneira não se interrogou suficientemente sobre seu interesse pelas crianças e sobre o amor que tem para com elas. Quanto mais se sente atraído por elas, mais deve estar atento ao que isso revela em si, especialmente que a criança, contrariamente ao que se pensa, não é um inocente angelical; ela é, muitas vezes, sobrecarregada por seu corpo e isso pode contaminar um adulto que tem problemas com a sua própria castração.

Não é Jesus que quer. É possível ser um padre que consagrou sinceramente a sua vida a serviço da Igreja e ter dificuldades com a abstinência sexual. Pode-se ter fé, mas não conseguir calar completamente o desejo sexual. Por que a Igreja tem tanta dificuldade para admitir isso? Penso que esta pergunta deve ser feita sem tabu. Além disso, de onde vem o voto do celibato? Nada no Novo Testamento confirma isso. Pedro e os outros discípulos de Cristo eram casados. No Ocidente, o celibato foi instituído no século XI, sob a influência dos monges, que eram celibatários por opção.

Devemos a Santo Agostinho o termo “feminino gramatical” para descrever o estado de Maria no ato da encarnação que representa para a Igreja o nascimento de Jesus. Para se encarnar, Deus recorre à carne e não ao corpo. O corpo é sexuado, mas a carne não. Deus se encarna no seio de uma mulher, mas esta mulher é o feminino o que o significante que é para a coisa. E agora, a pergunta que se impõe: o que fazer do corpo quando é um mero mortal? A fé pode mover montanhas, nos é dito, mas ela fracassa diante do desejo que mora em nós e que nos torna a vida impossível presa em nossa sexualidade.

Talvez seja necessário que a Igreja considere o celibato escolhido para o clero que o deseja, e libere os outros de uma tarefa humanamente impossível. Isso comporta, certamente, menos hipocrisia, mas isso definitivamente não a salva de seus perversos.

Fonte: Instituto H Unisinos, 15 abr 2010

Secretário de Estado do Vaticano relaciona pedofilia à homossexualidade

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Cardeal disse a uma rádio do Chile que este é ‘o verdadeiro problema’ dos casos de abuso

SANTIAGO – O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, disse na segunda-feira, 12, no Chile, que os múltiplos casos de pedofilia envolvendo membros da Igreja Católica estão vinculados à homossexualidade, e não ao celibato sacerdotal. No Chile, um dos casos mais famosos de pedofilia envolvia um sacerdote que mantinha relações sexuais com meninas adolescentes.

“Demonstraram muitos psicólogos, muitos psiquiatras, que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos demonstraram – e disseram isso recentemente – que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia”, afirmou Bertone. “Isso é verdade, este é o problema”, disse, em declarações transmitidas pela Rádio Cooperativa.

Em visita ao país sul-americano, Bertone abriu a Assembleia Plenária da Conferência Episcopal chilena. O religioso reiterou que a Igreja Católica nunca impediu investigações de pedofilia envolvendo padres e bispos.

Reações

A fala de Bertone levou a reações fortes por parte dos defensores dos direitos dos homossexuais no Chile. “Nem Bertone nem o Vaticano têm a autoridade moral” para oferecer lições de sexualidade, afirmou Rolando Jiménez, presidente do Movimento para a Integração e Liberação Homossexual no Chile.

Jiménez também notou que não há um estudo bem elaborado respaldando as declarações do cardeal. “É uma estratégia perversa do Vaticano para fugir de sua própria responsabilidade”, afirmou ele.

Pelo menos um dos pedófilos mais famosos da Igreja Católica do Chile atacava meninas – uma das jovens ficou grávida. O arcebispo de Santiago recebeu muitas queixas sobre o sacerdote José Andrés Aguirre por parte de famílias preocupadas com suas filhas. Apesar disso, o sacerdote, conhecido por seus paroquianos como o padre Tato, manteve contato com um grupo de meninas católicas da cidade.

Depois, por causa das acusações, Aguirre foi enviado em duas ocasiões para fora do Chile, e acabou condenado a 12 anos de prisão por abusar de dez jovens. Uma delas, identificada como Paula, disse que começou a ter relações sexuais com o sacerdote aos 16 anos e continuou até os 20 anos.

Paula disse ao jornal chileno La Nación ter pensado que não havia problemas em fazer sexo com ele, porque quando relatou o caso a outros sacerdotes, na confissão, eles disseram para ela orar e que isso era tudo. A jovem afirmou que eles sabiam e alguns supunham que se tratava do padre Tato, mas nenhum a ajudou.

Renúncia

Um desses sacerdotes procurados por Paula foi o arcebispo Francisco José Cox, também envolvido em acusações de pedofilia. Arcebispo da cidade de La Serena, 470 quilômetros ao norte de Santiago, Cox foi obrigado a renunciar em 1997. Foi transferido para Santiago, depois para Roma, em seguida para a Colômbia e agora está recluso na Alemanha.

Em 2002, o cardeal arcebispo de Santiago, Francisco Javier Errázuriz, confirmou que Cox foi transferido por “condutas impróprias” com menores.

Fonte: Estadão, 13 de abril de 2010

Escândalo de pedofilia também está na Igreja Católica da África, diz bispo

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O escândalo de pedofilia que se espalhou pela Igreja Católica dos Estados Unidos e da Europa chega também ao continente africano, afirmou o arcebispo de Johannesburgo e chefe da Conferência Episcopal da África Austral, Buti Tlhagale.

“Sei que a Igreja da África sofre dos mesmos males”, Tlhagale, que disse ter recebido ao menos 40 queixas de abuso sexual de crianças cometidos por padres africanos desde 1996, a maioria casos ocorridos há muitos anos. Mais da metade das denúncias envolveu mulheres na adolescência.

“A imagem da Igreja católica está em ruínas (…) Como líderes da Igreja fomos incapazes de criticar o comportamento imoral dos membros de nossas respectivas comunidades. Estamos paralisados”, criticou Tlhagale, considerando que o escândalo enfraquece a habilidade da Igreja Católica de agir com autoridade moral na África, onde muitas vezes é a única voz a desafiar ditaduras, corrupção e abuso de poder.

“Como líderes da Igreja, nos tornamos incapazes de criticar o comportamento corrupto e imoral dos membros de nossas respectivas comunidades”, disse ele. “Ficamos hesitantes para criticar a ganância e as más práticas das nossas autoridades civis”.

Segundo o arcebispo, a má conduta dos sacerdotes africanos não foi exposta pela mídia com a mesma “visibilidade” que no resto do mundo –uma referência à extensão do escândalo que atingiu, principalmente, Irlanda e Alemanha e que envolve o acobertamento das denúncias de vítimas de pedofilia até mesmo pelo papa, à época arcebispo de Munique e chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.

“Muitos dos que consideram os sacerdotes como modelos se sentem traídos, envergonhados e decepcionados”, afirmou Tlhagale, ao reconhecer que esses escândalos foram mal administrados pelo clero.

A Conferência Episcopal África Austral, que inclui África do Sul, Botsuana e Suazilândia, estabeleceu em 1996 um protocolo que define o procedimento em caso de queixas de abuso sexual contra crianças cometidos por um membro do clero.

A África é uma das regiões de mais rápido crescimento do número de católicos e ainda mais importante na medida em que o número de fiéis em países desenvolvidos desaba. A população católica africana aumentou de cerca de 2 milhões em 1990 a cerca de 140 milhões em 2000.

O padre Chris Townsend, porta-voz da Conferência Episcopal, disse que alguns membros do clero chegaram a ser formalmente acusados e que medidas foram tomadas.

O celibato, contudo, é desaprovado em algumas sociedades tradicionais africanas e há vários relatos de padres com amantes e filhos em partes da África.

A reputação da Igreja na África está ainda longe de ser irrepreensível –os padres foram acusados de ajudar o genocídio de Ruanda, e os ativistas contra Aids questionam sua oposição ferrenha ao uso de preservativo no continente mais afetado pela doença.

Fonte: Folha SP, 8 abr 2010

Conheça os escândalos mais recentes na Igreja em vários países

Vadstena church, Sweden

A denúncia de mais um caso de abuso sexual de menores por padres da Igreja Católica – desta vez nos Estados Unidos – contribuiu para aumentar a pressão sobre o papa Bento 16. Aqui, um resumo dos escândalos mais recentes em vários países.

ESTADOS UNIDOS

Na quinta-feira, o jornal The New York Times trouxe a notícia de que, em 1996, o cardeal Joseph Ratzinger, que veio a se tornar o papa Bento 16 em 2005, não respondeu a cartas vindas de clérigos americanos acusando um padre do Estado do Winsconsin de abusar sexualmente de menores.

O padre Lawrence Murphy, que morreu em 1998, é suspeito de ter abusado de até 200 meninos em uma escola para surdos entre 1950 e 1974.

Uma das supostas vítimas disse à BBC que o papa sabia das acusações há anos, mas não tomou nenhuma atitude.

Nas duas últimas décadas, a Igreja Católica dos Estados Unidos – principalmente a Arquidiocese de Boston – esteve envolvida em uma série de escândalos de abuso sexual infantil.

Um dos que mais chocou a população veio à tona há alguns anos, quando foi revelado que dois padres de Boston, Paul Shanley e John Geoghan, estavam envolvidos em casos de abuso nos anos 90 e foram supostamente acobertados por líderes da Igreja, que os transferiam de paróquia em paróquia.

Em 2002, o então papa João Paulo 2º convocou uma reunião de emergência com cardeais americanos, mas novos escândalos surgiram.

O arcebispo Bernard Law acabou renunciando ao posto no fim daquele ano, e, em 2003, a Arquidiocese de Boston concordou em pagar US$ 85 milhões depois de receber mais de 500 processos por abuso e omissão.

Um relatório encomendado pela Igreja em 2004 concluiu que mais de 4 mil padres americanos enfrentaram acusações de abuso sexual nos últimos 50 anos, em casos envolvendo mais de 10 mil crianças – principalmente meninos.

Em 2008, em uma visita aos Estados Unidos, Bento 16 se encontrou com vítimas dos abusos e falou “da dor e dos danos” provocados.

ALEMANHA

Desde o início de 2010, pelo menos 300 pessoas acusaram padres católicos da Alemanha de abuso sexual ou físico.

As alegações estão sendo investigadas em 18 das 27 dioceses da Igreja Católica no país natal do papa Bento 16.

Entre as acusações, está o abuso de mais de 170 crianças por padres em escolas jesuítas, além de casos dentro de um coral de meninos dirigido durante 30 anos pelo monsenhor Georg Ratzinger, irmão do papa.

Em março, o padre Peter Hullermann, que foi condenado por molestar crianças quando servia na Arquidiocese de Munique e Freising, foi suspenso de suas funções após violar uma proibição de trabalhar com menores.

No último dia 22, a diocese de Regensburg confirmou novas acusações contra quatro padres e duas freiras, em casos que teriam ocorrido nos anos 70.

O governo alemão anunciou em seguida que vai formar uma comissão de especialistas para investigar todas as acusações.

IRLANDA

No ano passado, dois documentos que examinaram acusações de pedofilia entre clérigos irlandeses relevaram a profundidade do problema no país, com casos de abuso, acobertamentos e falhas hierárquicas envolvendo milhares de vítimas durante várias décadas.

Um dos documentos mostrou que quatro arcebispos de Dublin fizeram vista grossa para casos de abuso ocorridos entre 1975 e 2004.

Quatro bispos renunciaram e toda a hierarquia da Igreja irlandesa foi convocada ao Vaticano para depor pessoalmente diante do papa Bento 16.

Em meio a isso, um novo escândalo veio à tona neste mês de março com a informação de que o chefe da Igreja Católica Irlandesa, cardeal Sean Brady, estava presente em reuniões realizadas em 1975, quando crianças fizeram um voto de silêncio sobre reclamações contra um padre pedófilo, Brendan Smyth.

Dias depois, em 20 de março, o papa Bento 16 se desculpou a vítimas de abuso sexual por clérigos da Irlanda, mas não mencionou denúncias em outros países.

HOLANDA

Ainda neste mês de março, bispos da Holanda pediram uma investigação independente diante de mais de 200 acusações de abuso sexual de crianças por padres, além de três casos ocorridos entre 1950 e 1970.

Inicialmente, as acusações envolviam a escola do mosteiro de Don Rua, no leste da Holanda.

O escândalo fez surgir dezenas de novas alegações de supostas vítimas em outras instituições do país.

ITÁLIA

Em janeiro de 2009, vários homens deficientes auditivos vieram a público para dizer que foram abusados quando eram crianças no Instituto para Surdos Antonio Provolo, na cidade de Verona, entre 1950 e 1980.

No fim do ano passado, a agência de notícias Associated Press obteve uma declaração por escrito de 67 ex-alunos da escola nomeando 24 padres e outros religiosos a quem acusavam de abuso sexual, pedofilia e castigos físicos.

A diocese de Verona disse que pretendia entrevistar as vítimas, depois de uma solicitação do Vaticano.

ÁUSTRIA

Acusações independentes de abuso sexual infantil por padres surgiram em várias regiões do país.

Após um dos escândalos, cinco padres de um mosteiro em Kremsmuesnter foram suspensos.

Em Salzburgo, o chefe de um mosteiro local renunciou ao cargo após confessar ter abusado de um menino há 40 anos, quando ele era monge.

SUÍÇA

Uma comissão formada pela Conferência dos Bispos da Suíça em 2002 vem investigando acusações de abuso envolvendo religiosos do país.

Este mês, um membro da comissão, o abade Martin Werlen, disse em uma entrevista que cerca de 60 pessoas fizeram acusações sobre casos que teriam ocorrido nos últimos 15 anos.

Um padre do cantão de Thurgau foi preso no último dia 19 sob suspeita de abuso sexual de menores.

Fonte: BBC Brasil, 26 mar 2010

Autor de violência sexual é próximo da vítima, alertam especialistas

Da Agência Brasil, 7 fev 10

Autores de crimes sexuais costumam usar estratégias para seduzir e atrair crianças e adolescentes. Por isso, os pais devem estar sempre alerta em relação às pessoas que se aproximam de seus filhos.

“O abusador é sempre amigo. Está dentro de casa, é uma pessoa dócil. Qualquer um põe a mão no fogo por ele, que não deixa rastro. É diferente do estuprador, que é truculento”, alerta o senador Magno Malta (PR-ES), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga casos de abuso e exploração sexual, pornografia infantil e tráfico de crianças e adolescentes.

De acordo com a delegada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Brasília, Gláucia Cristina Ésper, os pedófilos “não têm cara de tarado, não são agressores natos e estão muito próximos”.

“O pedófilo frequenta os lugares onde há muita criança, gosta de comer em fast food, lê coisas de criança, dá presentes e joga videogame. Geralmente, ele não teve uma infância bem resolvida. Tem uma vida meio infantil também, e estar naquele meio facilita pegar a sua presa”, diz a delegada.

Segundo a historiadora e socióloga Adriana Miranda, as redes de exploração sexual também fazem uso de atrativos para se aproximar das crianças. “O que tem se observado é que dentro da rede de exploração a pessoa que se aproxima da criança é sempre uma mulher bem vestida, que tem carro, celular e aparelho MP3.”

Para a psicóloga Karen Michel Esber, o autor de violência sexual usa várias formas para se aproximar da vítima: desde a sedução até a força física. A especialista chama a atenção para a educação das crianças. “Se houvesse mais conversa, existiria menos abuso”, afirma a psicóloga ao ressaltar que as crianças deveriam ser educadas para prevenir, identificar e avisar alguém de confiança sobre o assédio, inclusive quando ocorre dentro de casa.

De acordo com a especialista, as crianças precisam saber distinguir situações de assédio e estar preparadas, inclusive, para a tentativa de abuso familiar. “Esse toque que meu pai está fazendo, não é o de que eu gosto. Então eu vou falar com a minha mãe que, naquele dia, me disse que se eu sentisse o que não gosto, eu deveria falar com ela.”

A orientação da psicóloga Mônica Café é que os pais conversem mais sobre sexualidade com seus filhos e trabalhem a autonomia da criança. “O que vai impedir o abuso é a autonomia da criança. Ela vai ter que dizer não. Os autores de violência sexual vão às crianças que são mais frágeis.”

Karen Asber confirma que a iniciativa e o protagonismo das crianças podem salvá-las. Ela se lembra de uma entrevista que fez com um pedófilo preso em Goiânia que afirmou: “você acha que eu abuso de qualquer menino? Eu abuso do quietinho e reprimido. O espertinho vai contar”.

De acordo com Valéria Brain, também psicóloga, o comportamento da criança muda após o abuso. “Piora o rendimento escolar, ela passa a ter medo de certos adultos, tem pesadelo, regressão de comportamento [como fazer xixi na cama] ou pode até mesmo ficar com a sexualidade exacerbada.”

A psiquiatra do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Lia Rodrigues Lopes admite que as vítimas de violência sexual têm mais riscos de desenvolver transtornos mentais, como depressão, humor bipolar e ansiedade, e, no futuro, reproduzir os abusos. “Existe uma maior chance, sim, de o pedófilo de hoje ter sido a vítima no passado”, afirma.