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Uso do solo favoreceu tragédia, diz professor

Recife – A ocupação irregular das margens dos rios, ausência de mata nativa e ciliar, além da monocultura da cana-de-açúcar como característica da região contribuíram para transformar dias de chuvas intensas em Pernambuco e Alagoas em uma calamidade sem precedentes na história dos municípios atingidos – mesmo em cidades com histórico de cheias.

Essa é a opinião do professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Abelardo Montenegro, especialista em hidrologia e tecnologia rural. O problema, segundo o especialista sobre a causa da destruição, começa com a forma como as cidades são construídas, perigosamente próximas da planície dos rios. De acordo com ele, além das cidades ocuparem uma área que deveria ser mantida como área de segurança para o leito do rio, a colocação de dejetos, lixos e entulhos também prejudica o curso das águas.

Em volta das cidades atingidas pelas enchentes, a paisagem é de cana-de-açúcar. “A monocultura não favorece a absorção da água da chuva, nessa região falta uma cobertura natural com árvores de grande porte que permitam a infiltração da água”, explica Abelardo Montenegro.

Antes das cheias, ocorreram quatro dias de chuvas intensas na região. O volume pluviométrico variou de 300 a 400 milímetros – mais do que o volume de todo mês de junho em Pernambuco (junho é o mês mais chuvoso). Antes das chuvas mais fortes, chuvas fracas, mas persistentes, deixaram o solo encharcado, saturado. Esse fenômeno levou toda a água que caía para os rios.

As chuvas atingiram as nascentes dos rios Paraíba, Canhoto e Mundaú, que nascem em Pernambuco e seguem curso para Alagoas, além do Rio Una, que corta Pernambuco. Como a vazão média desses rios é de 50 metros cúbicos por segundo. No momento mais intenso da cheia, a vazão chegou a 1 mil metros cúbicos por segundo, isso ocasionou a força da destruição.

Com o debate no Congresso Nacional sobre o Código Florestal, o professor Abelardo Montenegro defende a preservação. “A mata ciliar dos rios é extremamente importante, mas não é tudo. Além da preservação dessa proteção natural contra o assoreamento, deve-se ter ao longo da bacia hidrográfica reservas de mata nativa capaz de apoiar a conservação natural do leito do rio”.

Celso Calheiros

Fonte: Portal oEco, 1 jul 2010

O silêncio da miséria, onde vagam os vassalos do feudalismo nordestino ~ por Arnaldo Jabor

Você já viajou pelo interior de Alagoas? Há alguns meses eu fui de carro até uma cidade a apenas uma hora e meia de Maceió. Parecia um deserto vermelho de barro, pontilhado de miseráveis vilarejos de uma só rua.

O motorista dizia: “isso aqui é tudo de Renan, isso aqui de Lira, isso aqui de fulano, sicrano”. Eu olhava e só via vazios com algumas almas penadas nas estradas. “E isso aqui é do MST.”

Andamos meia hora sem ver casas, nem plantações, além de algumas usinas desativadas. Era o silêncio da miséria, a paz do nada, onde vagam os vassalos do feudalismo nordestino. Aqueles municípios paralíticos já são catástrofes secas, só que silenciosas, paradas no tempo.

De repente, esta tragédia fixa, quase invisível, se transformou em uma tragédia bruta e retumbante. Ai, o verdadeiro Brasil apareceu diante de nós: abandonado, sem verbas, só usadas por interesses políticos do governo.

Só nos restou a solidariedade, mas como sentir a dor de um pobre homem catando comida na lama para dar ao filho chorando no colo? Dizendo o que? “Aí que horror?”

A solidariedade tinha de vir antes para proteger aqueles brasileiros raquíticos, famintos, analfabetos, que só são procurados pelos donos do nordeste para votos ou para serem “laranjas” em roubalheiras das oligarquias.

Fonte: Globo, 30/06/10 por Arnaldo Jabor

Filme analisa dominação holandesa no Nordeste

influencia holandesa nordestePor que o povo brasileiro teria saudades de um invasor? É com essa pergunta que a diretora Monica Schmiedt dá início ao documentário “Doce Brasil Holandês”, em que investiga o legado e o contorno mitológico dos 24 anos de dominação holandesa no Nordeste do Brasil, de 1630 a 1654.

“Sempre achei Maurício de Nassau um personagem muito interessante, assim como a ideia de uma nostalgia nassoviana”, diz a cineasta, citando expressão criada pelo pesquisador Evaldo Cabral de Mello para designar a saudade do progresso e da cidadania que os anos de governo Nassau inspiravam.

Para isso, Schmiedt entrevista historiadores especialistas na invasão holandesa e alguns dos mais de mil recifenses que carregam como sobrenome uma versão brasileira da herança daquele tempo: os Vanderlei, descendentes dos Van Der Ley.

Nessa linha, o filme reúne duas historiadoras que dividem essa ascendência: a brasileira Kalina Vanderlei e a alemã Sabrina Van Der Ley. Juntas, elas exploram o que um dia foi a Mauritsstadt, ou simplesmente Maurícia, no coração do Recife antigo. Uma cidade planejada que exibia a maior ponte do novo mundo. Elas debatem questões de urbanismo e de identidade que emanam do cruzamento entre Brasil e Holanda.

Entre relatos e debates, “Doce Brasil Holandês” aponta o mito para então desconstruí-lo, sem negar os méritos reais da ocupação. Apesar de imprimir na capital pernambucana um projeto humanista de cidade, Nassau não era um diplomata do governo da Holanda, mas um funcionário da Companhia das Índicas Ocidentais. Como bom comerciante, se cercou de eficiente projeto de marketing.

Cores e tipos brasileiros

Nassau promoveu o maior projeto de registro iconográfico do Brasil-Colônia, colocando as cores e os tipos brasileiros no mapa dos europeus a partir do traçado dos pintores Franz Post e Albert Eckhout. O legado artístico e urbanístico da invasão vai de encontro a um suposto complexo de inferioridade do brasileiro, fomentando o pensamento de que o Brasil seria um país melhor se os holandeses tivessem aqui ficado.

“Ao resgatar um passado glorioso, e mostrar que ele não foi tão glorioso assim, quero contribuir para que a gente mereça a nossa história e repense a maneira como temos tratado as nossas cidades”, diz Schmiedt. A tal “nostalgia nassoviana” desaba quando o filme aponta para as ex-colônias da Holanda. O subdesenvolvimento do Suriname e o fantasma do apartheid que insiste em assombrar a África do Sul mostram que a expulsão dos holandeses do Nordeste, em 1654, foi um bom negócio para o Brasil.

DOCE BRASIL HOLANDÊS
Direção: Monica Schmiedt
Quando: amanhã, às 20h, e sábado (17) no IMS, no Rio de Janeiro; quarta (14) no Ponto Cine, no Rio, e no Reserva Cultural, em São Paulo; quinta (15) no Cine Santa, no Rio
Classificação: 14 anos

Fonte: Folha Online, 12 abr 2010

Por Fernanda Mena

Pesquisa revela que Nordeste é a região que menos beneficia pobres

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“A região Nordeste e seus estados são os que menos demonstram um resultado em favor dos pobres”. Essa é uma das conclusões que pesquisadores do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), da Universidade Federal do Ceará (UFC), obtiveram com a pesquisa “Sobre a qualidade do crescimento econômico no Brasil de 1995 a 2008: uma análise comparativa entre estados e regiões brasileiras”.

De acordo com Flávio Ataliba, coordenador do LEP, a pesquisa, divulgada no início desta semana, teve o objetivo de “identificar o padrão de crescimento econômico no Brasil”.  A ideia era saber se, durante esses 13 anos, o crescimento no país “beneficiou mais os pobres ou não”.

Além de analisar o período inteiro, o estudo procurou qualificar o tipo de crescimento ocorrido no país, regiões e estados brasileiros nos períodos de 1995-2002 (governo de Fernando Henrique Cardoso) e de 2003-2008 (governo de Luiz Inácio Lula da Silva). No entanto, Ataliba ressalta que a intenção não foi avaliar os governos ou as políticas econômicas, já que a pesquisa não levou em consideração fatores relevantes para esse tipo de discussão.

O coordenador do Laboratório revela que o crescimento econômico foi diferente entre as regiões brasileiras. Segundo ele, de modo geral, as regiões Sul e Sudeste apresentaram um padrão de renda benéfico para a população mais pobre, sendo que o mesmo não foi observado no Nordeste.

Ataliba explica que a renda na região Nordeste aumentou, no entanto, a classe mais pobre não foi beneficiada. “O crescimento da renda no Nordeste foi maior que nas outras regiões, mas a qualidade dessa renda foi menor”, resume. Diferente do que ocorreu no Sul e Sudeste, que geraram um padrão de renda favorável aos mais pobres.

“Com efeito, novamente se verifica o Nordeste e seus estados como os principais destaques no que tange a menor capacidade de combate à pobreza, e em geral, por beneficiar certas classes e em outros casos devido ao aumento na concentração de renda”, destaca o estudo.

Professor Ataliba ressalta ainda a questão da desigualdade social, muito presente no Nordeste. “O crescimento [econômico] no Sul Sudeste foi menor, mas a desigualdade caiu bastantes”, revela, lembrando que, mesmo não tendo forte crescimento econômico, as regiões Sul e Sudeste são as que têm renda mais alta.

Na opinião dele, é necessário mais investimentos em políticas e, principalmente, na melhoria da educação nessa região. Apesar de não abordar na pesquisa, Ataliba acredita que, dessa forma, o Nordeste conseguirá se aproximar das outras regiões.

“E embora não seja objetivo do trabalho, como um dos resultados, verificou-se que as três metodologias convergem para o fato da região Nordeste e de seus estados não estarem reduzindo os indicadores de pobreza ao comparar com os demais que foram analisados no país. Com efeito, se nada for feito pelo setor público, o que os dados mostram é que há uma tendência de formação de uma espécie de ‘clubes de convergência de pobreza’, onde de um lado deve-se ter a região Nordeste (e seus estados) e de outro as demais regiões (e seus estados)”, apresenta a pesquisa.

O estudo completo está disponível em: http://www.caen.ufc.br/noticias/arquivos/pesquisa_lep_ensaio22-100330.pdf

Fonte: Adital, jornalista Karol Assunção, 1 abr 2010

Caatinga teve 16 mil quilômetros quadrados desmatados em seis anos

Luciane Kohlmann – CANAL RURAL

A Caatinga perdeu mais de 16 mil quilômetros quadrados de mata em seis anos, o equivalente a 2% da área total. Mas o maior problema é que quase a metade da vegetação típica do nordeste brasileiro não existe mais.

O balanço do Ministério do Meio Ambiente mostra que, entre 2002 e 2008, Bahia e Ceará foram os Estados que mais desmataram a Caatinga.

As cidades que lideram o ranking de destruição do bioma são:

1 – Acopiara (CE)
2 – Tauá (CE)
3 – Bom Jesus da Lapa (BA)
4 – Campo Formoso (BA)
5 – Boa Viagem (CE)

A produção de lenha e de carvão foram as grandes responsáveis pelo desmatamento da Caatinga, segundo o governo federal. Em seguida, aparece a pecuária bovina que, ao contrário da criação de cabras e ovelhas, acaba destruindo totalmente a vegetação. O Ministério pretende lançar até 28 de abril, Dia Nacional da Caatinga, um plano para preservar essa vegetação.

– Não haverá solução para a defesa da caatinga sem mudar a matriz energética, com o uso de energia eólica, de pequenas centrais hidrelétricas e do gás natural. Tudo isso tem que ser pensado como alternativas para ter atividade econômica, que gere emprego e renda sem destruir a Caatinga num ritmo de 16 mil quilômetros quadrados em seis anos – diz o ministro Carlos Minc.

Nesta quarta, dia 4, começa em Juazeiro, na Bahia, e em Petrolina, em Pernambuco, um encontro entre os governos federal e dos Estados da região Nordeste, além de produtores e bancos para discutir o combate ao desmatamento da Caatinga.

Mais de 400 pessoas foram encontradas em situação de trabalho escravo em Pernambuco, em 2009

Estado foi o que teve maior número de trabalhadores nestas condições na região Nordeste. Nacionalmente, ocupou o segundo lugar, somente atrás do Rio de Janeiro, onde foram resgatadas 521

Em dez operações realizadas ao longo de 2009, o Ministério Público do Trabalho encontrou 419 pessoas trabalhando em condições análogas a de escravo em Pernambuco. Todas elas, trabalhadores rurais que, na maioria dos casos, não recebiam salários nem tinham carteira assinada. Tudo isso com o agravante de longas jornadas, sem intervalos, em lugares sem banheiro, abrigo e alimentação. Os dados foram apresentados nesta quarta (27), durante entrevista coletiva, na sede da entidade.

Na avaliação da procuradora do Trabalho e vice-coordenadora nacional da Coordenadoria de Erradicação ao Trabalho Escravo do MPT, Débora Tito, o indicativo preocupa. “Ainda vivenciamos relações de trabalho bastante precárias no estado, em que não só se negam os direitos trabalhistas como a dignidade humana”, disse. As indenizações por dano moral coletivo e individual totalizam um montante de R$ 787 mil.

Além das indenizações, o MPT em Pernambuco assinou seis termos de ajustamento de conduta e ajuizou duas ações.

BRASIL – Em todo o país, foram resgatados mais de 3,5 mil trabalhadores em 566 estabelecimentos. Como resultado, os proprietários dos empreendimentos irregulares terão que pagar indenizações por dano moral coletivo e individual no valor de mais R$ 13 milhões.

SEMINÁRIO – Nesta quinta-feira (28), às 14h, o Ministério Público do Trabalho promove, em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego e a Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco, o seminário “Trabalho decente no meio rural: desafios e perspectivas”, no auditório do MTE. A atividade marca o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo (28/01), que lembra a morte de fiscais do trabalho em operação em Minas Gerais, em 2004.

Informe da PRT 6ª Região/ Pernambuco, publicado pelo EcoDebate, 29/01/2010

Índices de analfabetismo ainda são alarmantes

Fonte: Correio Braziliense, por Renata Mariz

Desigualdade regional
No Nordeste, mais de 40% da população de 50 anos em diante é analfabeta. Veja os índices mais recentes, referentes a 2008, de cada região brasileira:

Proporção de analfabetos na população com 50 anos ou mais, por região:
Nordeste 41,3%
Norte 28,7%
Centro-Oeste 21,8%
Sudeste 13,2%
Sul 12,8%
Brasil 21,5%

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

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