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“Prioridade” para quem? Qual Evangelho? ~ Vinoth Ramachandra

[Texto publicado no Novos Diálogos, 29 nov 2010]

Contaram-me que no recente Congresso de Lausanne na Cidade do Cabo um pregador e autor americano popular afirmou veementemente que a evangelização, entendida como a proclamação verbal do Evangelho, era a “prioridade” da Igreja. Como esta é uma reação típica, instintiva, que a conversa sobre a justiça social ou a “missão integral” provoca em círculos evangélicos conservadores, é importante explorar quem está dizendo este tipo de coisa e se eles na verdade praticam o que estão dizendo.

Se as prioridades de uma pessoa são medidas pelo tempo que ele ou ela gasta no que faz, estou certo que qualquer um que observe a vida cotidiana deste pregador não concluiria que a evangelização fosse sua prioridade. Ele gastou considerável tempo e dinheiro numa longa e cara aquisição de educação. Se ele tem filhos, estou seguro que tem, da mesma maneira, investido significativamente na sua alimentação e em lhes assegurar a melhor educação possível. Não tenho dúvida de que ele come, pelo menos, três refeições ao dia e desfruta, ao menos, seis horas de sono por noite. Ele tem assistência médica e acesso à melhor atenção médica na nação mais rica no mundo. Possuindo um passaporte americano, ele pode voar livremente para (quase) qualquer lugar do mundo, sem precisar esperar em filas do lado de fora de embaixadas para conseguir vistos. Em outras palavras, seu estilo de vida privilegiado não se dá conta de muita coisa. Esse estilo de vida foi possibilitado pelo trabalho e sacrifício de tantos desconhecidos em muitas partes do mundo. E está distante da realidade experimentada pela maioria de seus irmãos que estavam presentes na Cidade do Cabo. Continue lendo

Fica Firme, Zorô! ~ por José Roberto Prado

Todos queremos fazer diferença. Deixar nossa marca, ainda que pequena, na história e na vida de outras pessoas. Fomos criados com este “senso de realização”, faz parte da ‘Imago Dei’ que carregamos.

Fomos pragramados para nos completarmos quando nos relacionamos construtivamente. Um amigo já disse: “Pessoas precisam de Deus; Pessoas precisam de pessoas”. Como isso é verdade!

Nós que nascemos “do alto” (Jo.3:3) encontramos realização quando, movidos pelo amor do Pai e das otras pessoas, imprimimos a marca Dele (abençoamos) – não a nossa – na vida dos que nos rodeiam.

A indiferença, o egoísmo e a desequilibrada busca de auto-satisfação, tão comum no nosso mundo consumista-individualista, não representam a normalidade para a qual fomos criados. É enfermidade, e das bravas. Na nova vida que recebemos de Deus com o novo nascimento, normal é vivermos em mutualidade e nos realizarmos uns com os outros. Continue lendo

O futuro do movimento de Lausanne ~ René Padilla

Os números relacionados com o Terceiro Congresso Internacional de Evangelização Mundial — que aconteceu na Cidade do Cabo, África do Sul, de 17 a 24 de outubro, sob o tema “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19) — são impressionantes. Estiveram presentes mais de 4 mil participantes de 198 países. Além disso, houve cerca de 650 sites de Internet conectados com o Congresso em 91 países e 100 mil “visitas” de 185 países. Isto significa que milhares de pessoas de todo o mundo puderam assistir às sessões por meio da Internet. Doug Birdsall, o presidente executivo do Movimento de Lausanne, provavelmente tem razão em afirmar que Cidade do Cabo 2010 foi “a assembleia evangélica global mais representativa da história”. Sem dúvida, este resultado foi alcançado, em grande medida, por meio de seu longo esforço.

Igualmente impressionantes foram os muitos arranjos práticos que se fizeram antes do Congresso. Além do difícil processo de seleção dos oradores para as plenárias e para os “multiplexes” (seminários) e as sessões de diálogo, dos tradutores e dos participantes de cada país representado, havia duas tarefas que devem ter envolvido muito trabalho antes do Congresso: a Conversa Global de Lausanne, para possibilitar que muita gente ao redor do mundo fizesse seus comentários e interagisse com outros, aproveitando os avanços tecnológicos contemporâneos; e a redação da primeira parte (a teológica) do Compromisso da Cidade do Cabo, redigida pelo Grupo de Trabalho Teológico de Lausanne, sob a direção de Christopher Wright. Continue lendo

Apartheid Espiritual, a Nossa Miséria ~ por José Roberto Prado

“APARTHEID” é uma palavra Africâner — idioma derivado do Holandês, falado na África do Sul — que significa “separação”.

Foi usada para descrever o regime de segregação racial praticado naquele país pela minoria branca sobre a grande maioria não branca, de 1948 até 1995.

Sob este regime, a lei determinava onde cada grupo deveria morar, que tipo de trabalho poderiam se dedicar e qual educação receberiam.

A África está sofrendo de uma praga mortal.

Enquanto nos prósperos países ocidentais se gastam bilhões em busca da cura da calvície ou da obesidade, na África, a malária, cólera e tuberculose ainda matam milhões.

A AIDS, por si só, ceifará a vida de uma geração inteira em vários países. Mas não é sobre esta tão divulgada miséria africana que escrevo.

É sobre a nossa miséria, a praga mortal que nos envenena, chamada “segregação”. Continue lendo

Ainda repensando a missão ~ por Vinoth Ramachandra

Assim que eu coloquei meu post anterior, li por casualidade um artigo excelente de Karla Ann Koll no volume de abril da International Bulletin of Missionary Research. Koll é professora de teologia em Costa Rica e diz melhor que eu, anedoticamente e com sólida análise acadêmica, o que necessita ser dito sobre a questão “viagens missionárias de curto prazo”. Eu recomendo o artigo para ser estudado por toda organização evangélica rica.

Logo depois do desastre do Tsunami de 26 de dezembro de 2004 no Sri Lanka, Tailândia e Indonésia, centenas de ONGs estrangeiras surgiram repentinamente, duplicando e competindo desnecessariamente entre si. “Equipes missionárias” bem-intencionadas, com pouca experiência de reabilitação e ajuda, cometeram todos os erros clássicos da ajuda externa (materiais para construção de casas inapropriados, doação a pessoas erradas, e assim por diante). Alguns líderes cristãos locais se tornaram adeptos não apenas de dançar a música tocada pelos doadores estrangeiros mas de compor as músicas que eles gostam de ouvir. Dinheiro corrompe tanto quanto ajuda.

Havia, entretanto, o outro lado da história. Nós nos beneficiamos enormemente do serviço espontâneo e sacrificial de muitos (cristãos e não-cristãos) de nações ocidentais e também de outras nações asiáticas. Houve, com frequência, homens e mulheres com habilidades técnicas e aqueles que vieram pra servir ao lado de suas contrapartes locais. Muitos deles decidiram ficar por seis meses, senão por mais tempo. Alguns jovens sem capacidade técnica simplesmente chegaram e se ofereceram para fazer trabalhos domésticos ao lado de gente local preparada. A contribuição de todas essas pessoas à ajuda imediata assim como para a reabilitação de longo prazo de vidas e comunidades é incalculável. É uma pena que nós no Sudeste Asiático não pudemos agir reciprocamente quando o furacão Katrina atingiu Nova Orleans um ano depois. A despeito de toda a retórica hoje sobre “missão de todo lugar para qualquer lugar”, os controles de fronteiras determinam a direção atual do serviço cristão.

Minha preocupação principal no último post não era a duração de tais viagens. Não era como se eu estivesse recomendando “missão de longo prazo” oposta à “missão de curto prazo”. Era, antes, o modo como o conceito mesmo de missão tem sido reduzido em muitos círculos evangélicos a “ir às nações” ou o que nós fazemos com cristãos caridosos em sociedades que não a nossa. Daí as divisões desastrosas — tanto em igrejas quanto em seminários teológicos — entre “missão” e “ética”, o “pessoal” e o “político”, “proclamação” e “diálogo”. Ao contrário dos primeiros discípulos de Jesus, aqueles de nós que vivemos em grandes cidades encontramos pessoas de todas as culturas e afiliações religiosas cotidianamente. Nós podemos também fazer uma enorme diferença na vida das pessoas em outras partes do mundo mudando nossos padrões de consumo, falando em nome daqueles que são afetados pelos nossos estilos de vida e desafiando as políticas e práticas de nossos governos. Isto se aplica tanto a lugares como Índia e Singapura quanto aos Estados Unidos ou Inglaterra.

Para aqueles de nós que vivemos em situações de pobreza, violência e tirania, Jesus nos exortou a nos tornarmos como “grãos de mostarda” que “caem na terra e morrem” (João 12:24): em outras palavras, ficar ao invés de “partir”, compartilhando livremente a dor e a desesperança de outros como uma testemunha da extraordinária esperança do Evangelho (Há vezes, claro, quando nós precisamos fugir — e não se sentir culpado por isso — mas apenas se nós podemos fazer melhor estando fora, para aqueles que nós deixamos pra trás). As únicas “metodologias” da missão que frutifica que Jesus deu à sua igreja foram os princípios de morrer e amar (unidade); mas estas custosas práticas de discipulado que transformam vidas são as que nós continuamos a ignorar em nome de “missões”. Ironicamente, estamos agora numa situação global onde cristãos ricos fazem incursões de “curto prazo” em países pobres, enquanto cristãos pobres (e cristãos ricos de países pobres) fazem viagens de “longo prazo” aos países ricos. Eu me pergunto que Boas Novas está sendo comunicada ao mundo dessa maneira? Como demonstramos a encarnação de Deus em corpos humanos vulneráveis e frágeis, e num lugar e tempo particular, quando o culto do consumo globalizado nos empurra na direção contrária?

Publicado originalmente em http://vinothramachandra.wordpress.com/2010/05/21/more-on-re-thinking-mission/

Vinoth Ramachandra Dr Vinoth Ramachandra nasceu no Sri Lanka. É doutor em Engenharia Nuclear pela Universidade de Londres. Foi Secretário Regional da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (CIEE) para o Sul da Ásia. É atualmente Secretário para Diálogo e Engajamento Social da CIEE em nivel global. Participa há muitos anos do Movimento de Direitos Humanos de Sri Lanka, da Rede Miquéias e d’A Rocha (organização internacional de conservação ambiental). É autor de vários livros e ensaios, entre os quais Subverting Global Myths: Theology and the Public Issues that Shape Our World (2008). Os textos postados na revista podem ser encontrados na sua versão original em inglês no blog http://vinothramachandra.wordpress.com/.

Estrangeiros que trabalhavam para ONG médica (cristã) são mortos no Afeganistão

Médica britânica (36) Karen Woo

Autoridades do Afeganistão disseram neste sábado que oito estrangeiros e dois afegãos foram encontrados mortos a tiros perto de veículos abandonados na província de Badakhshan, no nordeste do país.

Acreditas-se que os estrangeiros sejam seis americanos, uma britânica e um alemão que trabalhavam para a organização International Assistance Mission (IAM), que dá assistência oftalmológica e médica em geral.

Eles foram encontrados na quinta-feira, um dia depois que o contato com o grupo foi perdido.

A médica britânica Karen Woo, de 36 anos, foi identificada como uma das vítimas.

A polícia local afirmou que eles podem ter sido assaltados.

Organização cristã

Mas o Talebã disse que está por trás do ataque, dizendo que eles eram missionários cristãos e levavam bíblias em persa.

Um porta-voz do Talebã também acusou os estrangeiros de serem espiões dos Estados Unidos.

“Isso é uma mentira. Não é verdade. A IAM é uma organização cristã, sempre fomos isso”, disse à BBC o diretor executivo da ONG, Dirk Franks.

“Nós trabalhamos no Afeganistão desde 1966 – sob o rei, os comunistas, os Mujahideen e o Talebã. Eles nos conhecem como uma agência cristã, mas nós certamente não distribuímos bíblias”, disse.

A ONG negou que seus membros e os dois tradutores afegãos mortos fossem missionários.

O homem que liderava a equipe tinha décadas de experiência trabalhando no país, segundo um porta-voz da ONG.

Badakhshan, uma região de maioria étnica tajik que faz fronteira com o Tajiquistão, é uma das poucas províncias afegãs que não era controlada pelo Talebã antes da invasão liderada pelos Estados Unidos em 2001.

O correspondente da BBC em Kabul, Quentin Sommerville, disse que a região vem sendo considerada uma área segura, mas que recentemente moradores começaram a reclamar do aumento de ameaças feitas por insurgentes.

Fonte: BBC Brasil, 7 ago 2010

Índices de analfabetismo ainda são alarmantes

Fonte: Correio Braziliense, por Renata Mariz

Desigualdade regional
No Nordeste, mais de 40% da população de 50 anos em diante é analfabeta. Veja os índices mais recentes, referentes a 2008, de cada região brasileira:

Proporção de analfabetos na população com 50 anos ou mais, por região:
Nordeste 41,3%
Norte 28,7%
Centro-Oeste 21,8%
Sudeste 13,2%
Sul 12,8%
Brasil 21,5%

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

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Incra-PB Regulariza Comunidade Quilombola

Fonte: PB Agora (www.pbagora.com.br)

O Serviço de Regularização de Territórios Quilombolas da Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na Paraíba instaurou esta semana o processo de regularização do território ocupado pela comunidade quilombola do Sítio Vaca Morta, no município de Diamante, no Sertão paraibano, a 480 km de João Pessoa. Aproximadamente 27 famílias moram na comunidade, reconhecida pela Fundação Cultural Palmares, através de Certidão de Autodefinição de 14 de outubro deste ano, como comunidade remanescente de quilombo.

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Compromisso Radical ~ por José Roberto Prado

Muitas vezes, estando à vontade em nossas casas ou igrejas aqui no Brasil, onde há tanta liberdade para expressarmos a fé em Cristo, nossa tendência natural é a de nos esquecermos dos nossos irmãos que estão longe, onde a vivência desta mesma fé assume contornos mais rudes, por vezes cruéis.

Passando por dificuldades que sequer imaginamos e chorando enquanto semeiam, eles plantam para que outros possam mais tarde colher!

Algum tempo atrás, por causa da sua fé em Jesus Cristo, mais um jovem pastor africano foi martirizado no Congo, África.

Sabendo da aproximação de seus algozes, escreveu uma carta, encontrada no meio de seus pertences pouco depois da sua morte. Continue lendo

Marina Silva chama atenção para situação do povo guarani-kaiowá

Da Redação / Agência Senado

A senadora Marina Silva (PV-AC) comentou nesta quarta-feira (21) sua visita à terra indígena Yvy Katu, em Mato Grosso do Sul, onde foi realizada a Grande Assembléia Guarani Kaiowa. Ela explicou que, durante esse evento anual, os índios praticam suas rezas e discutem os problemas da comunidade.

Segundo a senadora, os problemas enfrentados pelos indígenas “são de natureza muito grave” e de difícil solução. A senadora explicou que os índios guarani-kaiowá estão distribuídos em comunidades, mas grande parte deles se localizam às margens de estradas federais da região, em acampamentos, esperando o reconhecimento do direito de posse de suas terras tradicionais. Na reserva que fica perto de Dourados (MS), informou a senadora, 13 mil indígenas habitam apenas 3.500 hectares.

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Começar de Novo: Um convite à Reflexão sobre a Missão Transcultural Brasileira ~ por José Roberto Prado

Já reparou quantas vezes Deus teve que recomeçar? Logo no jardim, depois com Noé, Abraão, Moisés… A cada nova geração Deus reafirma seu propósito de seguir adiante. Faz isto assegurando novas oportunidades a antigos parceiros, ou conferindo a novos parceiros a oportunidade de compartilharem de seus sonhos. Deus é otimista. Sonhador. Persistente.

A encarnação de Jesus e todo projeto de igreja é um recomeço. O perdão Nele nos garante que recomeçar é possível. Ele estabeleceu o padrão e nos encoraja a fazer o mesmo, seja nos relacionamentos, seja conosco mesmos, seja com a missão que compartilhamos. Ser filho de Deus, parecido com Cristo, é estar aberto a recomeçar.
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