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Ainda uma Belíndia: Economia em alta não foi suficiente para país superar desigualdade regional

[Sílvio Ribas, Larissa Garcia, Correio Braziliense, 12 jun 11] A estabilidade econômica, o forte crescimento dos últimos anos e a transferência de renda conjugada com a valorização do salário mínimo não foram suficientes para que o país superasse a sua profunda e histórica desigualdade regional. Ao longo da última década, as diferenças apenas ganharam novos formatos. Em estados riquíssimos como São Paulo, focos de miséria saltam aos olhos. Enquanto o Distrito Federal registra a maior renda per capita do Brasil, no seu entorno, o indicador representa apenas um quarto da média nacional. No Pará, há uma série de municípios em que o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu no mesmo período em que o Brasil ganhava musculatura para se transformar na quinta maior economia do mundo. Não à toa, a nação que hoje desperta apetite do capital estrangeiro ainda mantém a feição de Belíndia, conceito criado em 1974 pelo economista Edmar Bacha para ilustrar o modelo econômico que unia a riqueza da pequena Bélgica com a pobreza da continental Índia.

As discrepâncias foram desnudadas pelo Mapa da Distribuição Espacial da Renda no Brasil, estudo elaborado pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon), ao qual o Correio teve acesso com exclusividade. Feito em 220 áreas de todo o país, com base em dados de 2008, o levantamento mostra que a divisão entre Sudeste e Sul ricos e Norte e Nordeste pobres é imprecisa. Muito além desses extremos, existem ilhas de prosperidade em estados menos desenvolvidos, como pequenas cidades embaladas pelo agronegócio e mineração, e recantos de extrema pobreza no interior de regiões industrializadas. Continue lendo

Continente americano é o mais violento do mundo, diz relatório da OEA

[Estado SP, 7 jun 11] SAN SALVADOR – A Organização dos Estados Americanos (OEA) alertou na segunda-feira, 6, que o continente americano é a região mais violenta do mundo, com o registro de uma pessoa morta a cada quatro minutos, segundo um relatório apresentado pela Secretaria de Segurança Multidimensional do organismo.

“Desde que comecei a falar, aconteceu pelo menos um homicídio doloso e, quando eu acabar, terão ocorrido entre oito e dez”, lamentou o responsável desta secretaria, Adam Blackwell, que apresentou o relatório sobre segurança nas Américas no marco da 41ª Assembleia Geral que a OEA realiza até esta terça-feira em San Salvador.

A cada 4 minutos, uma pessoa é morta nas Américas

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América Latina continua sendo a região com mais desigualdades do mundo

[Karol Assunção, Adital, 13 mai 11] “Ao terminar 2010, América Latina seguia sendo a região com mais desigualdades do mundo”. Isso é o que afirma Anistia Internacional em seu “Informe Anual 2011 – o estado dos direitos humanos no mundo”. Além da desigualdade, o relatório ainda destaca outras violações ocorridas no continente americano ao longo do ano de 2010, como perseguição a defensores/as dos direitos humanos e violência contra mulheres e meninas.

A organização internacional reconhece alguns avanços em relação aos direitos humanos nas Américas. De acordo com ela, “mesmo que parciais e lentos”, a região conseguiu alguns progressos nessas questões. Destaque para o papel das comunidades e organizações sociais que estão cada vez mais denunciando tais violações e atuando em defesa das vítimas.

O relatório cita a realidade do Haiti como exemplo. No final de 2010, mais de um milhão de pessoas que tiveram suas casas destruídas pelo terremoto – ocorrido em janeiro no mesmo ano – continuavam vivendo em acampamentos provisórios. Situação que deixou mulheres e meninas ainda mais vulneráveis a abusos sexuais. Mesmo com a dor de ter perdido familiares e pertences no terremoto e ainda de ter sido vítima de violação sexual, as mulheres se uniram e formaram “A Comissão de Mulheres Vítimas pelas Vítimas” (Kofaviv), que oferece apoio médico, psicológico e econômico às sobreviventes de violência sexual nos acampamentos haitianos.

Entretanto, mesmo com a ação de organizações sociais, o documento aponta que é preciso a posição dos Estados em defesa dos direitos humanos. Participação que, segundo revela o informe de Anistia Internacional, nem sempre acontece. Continue lendo

Negros são mais atingidos por abandono e repetência escolar

[Folha SP, 19 abr 11] Abandono e repetência escolar afetam mais os estudantes negros, segundo o Relatório Anual das Desigualdades Sociais 2009-2010, divulgado nesta terça-feira no Rio.

Homicídios ficam estáveis no país, mas crescem entre negros

A avaliação de jovens de 15 a 17 anos mostra que 8 em cada 10 estudantes pretos e pardos estavam cursando séries abaixo de sua idade, ou tinham abandonado o colégio.

Entre os brancos, 66% dos estudantes estavam na mesma situação.

Na população de 11 a 14 anos, 55,3% dos jovens brasileiros não estavam na série correta em 2008. Entre os jovens pretos e pardos, essa proporção chega a 62,3%, bem acima dos estudantes brancos (45,7%).

“Mais uma vez, os dados também refletem que o problema de repetência e abandono, ao longo das coortes etárias, incide de forma desproporcional sobre os pretos e pardos”, diz o relatório.

O estudo acentua que é justamente dos 11 aos 14 anos a fase em que crianças e jovens começam a abandonar a escola, daí a gravidade dessa questão.

Desenvolvido pelo Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o relatório evidencia que a população branca com idade superior a 15 anos tinha, em 2008, 1,5 ano de estudo a mais do que a negra.

Se comparado ao quadro de 1988, essa diferença entre brancos e negros pouco mudou. Naquela época, os brancos tinham 1,6 ano de estudo a mais, em média.

Atualmente, a população preta ou parda com mais de 15 anos tinha 6,5 anos de estudos em 2008, ante 3,6 anos em 1988. Entre os brancos, houve um salto de 5,2 anos para 8,3 anos de estudos.

Homicídios ficam estáveis no país, mas crescem entre negros

[Folha SP, 19 abr 11] Apesar de o número de homicídios no país permanecer estável nos últimos anos, o número de negros assassinados não para de subir, revela o Relatório Anual das Desigualdades Sociais 2009-2010 [link no final do artigo], divulgado nesta terça-feira, no Rio.

A probabilidade de um homem preto ou pardo morrer assassinado é mais do que o dobro se comparado a de um indivíduo que se declara branco.

Enquanto os homicídios entre homens brancos vêm caindo ao longo dos últimos anos, o movimento entre negros e pardos é inverso.

Em 2001, homens pretos ou pardos representavam 53,5% do total. Ao mesmo tempo, os brancos significavam 38,5%.

Já em 2007, do total de homicídios registrados, 64,09% eram de negros. Já a proporção de brancos recuou para 29,24%.

Em 2007, para cada 100 mil habitantes, 59,8 homens pretos ou pardos morreram assassinados. Entre a população masculina branca, essa proporção 29,2 homens mortos a cada 100 mil habitantes.

No início da década, foram registrados 44.105 mil homens assassinados. Em 2007, esse dado ficou estatisticamente estável, recuando para 43.938.

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Violência, pobreza e desigualdade

[Texto de Xavier Caño Tamayo, publicado originalmente no CCS – Centro de Colaborações Solidárias, traduzido por Adital, 17 dez 2010]

O último Latinobarômetro indica que cresce o apoio à democracia na América Latina (61% dos entrevistados). Porém, também mostra que 27% de mortes violentas no mundo acontecem na América Latina, apesar de que sua população não atinge 9% do total do planeta. Nos últimos 10 anos, 1.200.000 pessoas foram mortas violentamente na região.

Favelas ocupadas pela polícia militar, gangues assassinas na América Central; matanças no México; 25.000 desaparecidos forçosos, assassinatos e massacres na Colômbia… Somente a Costa Rica, Cuba, o Peru, a Argentina, o Chile e o Uruguai apresentam índices abaixo do que se considera violência epidêmica: 8 homicídios por ano por cada 100.000 habitantes. A maior taxa de assassinatos do mundo se dá na América Latina.

Como explicar tão terrível realidade? Os latinoamericanos são violentos por natureza? Alguma maldição foi lançada sobre a América Latina? Continue lendo

Municípios brasileiros com melhor e pior distribuição de renda

[Publicado por Rudá Ricci, em seu blog, 29 nov 2010]

A Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa – ABEP desenvolveu o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) que estima o poder de compra das famílias, classificando-as em classes econômicas: A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E.

Segundo a classificação as classes são:

  • A1 a renda familiar é de R$ 14.366,00;
  • A2 de R$ 8.099,00;
  • B1 de R$ 4.558,00;
  • B2 de R$ 2.327,00;
  • C1 de R$ 1.391,00;
  • C2 de R$ 933,00;
  • D de R$ 618,00;
  • E de R$ 403,00 (dados mais atualizados de 2008 ainda válidos para 2010). Continue lendo

Desigualdade social no Brasil ~ por Frei Betto

Relatório da ONU (Pnud), divulgado em julho, aponta o Brasil como o terceiro pior índice de desigualdade no mundo. Quanto à distância entre pobres e ricos, nosso país empata com o Equador e só fica atrás de Bolívia, Haiti, Madagascar, Camarões, Tailândia e África do Sul.

Aqui temos uma das piores distribuições de renda do planeta. Entre os 15 países com maior diferença entre ricos e pobres, 10 se encontram na América Latina e Caribe. Mulheres (que recebem salários menores que os homens), negros e indígenas são os mais afetados pela desigualdade social. No Brasil, apenas 5,1% dos brancos sobrevivem com o equivalente a 30 dólares por mês (cerca de R$ 54). O percentual sobe para 10,6% em relação a índios e negros.

Na América Latina, há menos desigualdade na Costa Rica, Argentina, Venezuela e Uruguai. A ONU aponta como principais causas da disparidade social a falta de acesso à educação, a política fiscal injusta, os baixos salários e a dificuldade de dispor de serviços básicos, como saúde, saneamento e transporte.

É verdade que nos últimos dez anos o governo brasileiro investiu na redução da miséria. Nem por isso se conseguiu evitar que a desigualdade se propague entre as futuras gerações. Segundo a ONU, 58% da população brasileira mantém o mesmo perfil social de pobreza entre duas gerações. No Canadá e países escandinavos, este índice é de 19%.

O que permite a redução da desigualdade é, em especial, o acesso à educação de qualidade. No Brasil, em cada grupo de 100 habitantes, apenas 9 possuem diploma universitário. Basta dizer que, a cada ano, 130 mil jovens, em todo o Brasil, ingressam nos cursos de engenharia. Sobram 50 mil vagas… E apenas 30 mil chegam a se formar. Os demais desistem por falta de capacidade para prosseguir os estudos, de recursos para pagar a mensalidade ou necessidade de abandonar o curso para garantir um lugar no mercado de trabalho.

Nas eleições deste ano votarão 135 milhões de brasileiros. Dos quais, 53% não terminaram o ensino fundamental. Que futuro terá este país se a sangria da desescolaridade não for estancada?

Há, sim, melhoras em nosso país. Entre 2001 e 2008, a renda dos 10% mais pobres cresceu seis vezes mais rapidamente que a dos 10% mais ricos. A dos ricos cresceu 11,2%; a dos pobres, 72%. No entanto, há 25 anos, de acordo com dados do IPEA, este índice não muda: metade da renda total do Brasil está em mãos dos 10% mais ricos do país. E os 50% mais pobres dividem entre si apenas 10% da riqueza nacional.

Para operar uma drástica redução na desigualdade imperante em nosso país é urgente promover a reforma agrária e multiplicar os mecanismos de transferência de renda, como a Previdência Social. Hoje, 81,2 milhões de brasileiros são beneficiados pelo sistema previdenciário, que promove de fato distribuição de renda.

Mais da metade da população do Brasil detém menos de 3% das propriedades rurais. E apenas 46 mil proprietários são donos de metade das terras. Nossa estrutura fundiária é a mesma desde o Brasil império! E quem dá emprego no campo não é o latifúndio nem o agronegócio, é a agricultura familiar, que ocupa apenas 24% das terras, mas emprega 75% dos trabalhadores rurais.

Hoje, os programas de transferência de renda do governo – incluindo assistência social, Bolsa Família e aposentadorias – representam 20% do total da renda das famílias brasileiras. Em 2008, 18,7 milhões de pessoas viviam com menos de Ï€ do salário mínimo. Se não fossem as políticas de transferência, seriam 40,5 milhões. Isso significa que, nesses últimos anos, o governo Lula tirou da miséria 21,8 milhões de pessoas. Em 1978, apenas 8,3% das famílias brasileiras recebiam transferência de renda. Em 2008 eram 58,3%.

É uma falácia dizer que, ao promover transferência de renda, o governo está “sustentando vagabundos”. O governo sustenta vagabundos quando não pune os corruptos, o nepotismo, as licitações fajutas, a malversação de dinheiro público. Transferir renda aos mais pobres é dever, em especial num país em que o governo irriga o mercado financeiro engordando a fortuna dos especuladores que nada produzem. A questão reside em ensinar a pescar, em vez de dar o peixe. Entenda-se: encontrar a porta de saída do Bolsa Família.

Todas as pesquisas comprovam que os mais pobres, ao obterem um pouco mais de renda, investem em qualidade de vida, como saúde, educação e moradia.

O Brasil é rico, mas não é justo.

Fonte: Correio da Cidadania, 10 ago 2010

Em concentração de renda, Brasil rural só não supera Namíbia

Um “país” dentro do Brasil com 30 milhões de habitantes, com a quadragésima (40a) maior população do mundo, atrás apenas de Brasil e Argentina na América do Sul. Este “numeroso contingente” que forma a “nação” do Brasil rural, mesmo que cada vez menos quantitativa em comparação às multidões dos centros urbanos, continua sendo relevante.

De acordo com estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), que analisou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008, “as dificuldades a que essa população [rural brasileira] está sujeita produzem, do ponto de vista social, grandes impactos”.

A acentuada desigualdade – já destacada em outros levantamentos como o Censo Agropecuário 2006 – é um dos principais traços desta “pátria” fora das cidades. A concentração de renda dos domicílios rurais brasileiros, aferida segundo o índice de Gini, atinge 0,727. Guardadas as devidas particularidades e apenas a titulo de comparação em termos de grandeza, no mundo todo, somente a Namíbia, com 0,743, apresenta índice maior, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2009 das Nações Unidas . Quanto maior o índice (que vai de 0 a 1), maior a concentração.

Países com concentração acima 0,6 se enquadram nos “níveis extremamente altos de desigualdade social”. Além da Namíbia, apenas Comores (0,643) – formada por três ilhas entre a Costa Oriental de África e Madagascar – e Botsuana (0,61) fazem parte do grupo. O Brasil como um todo é o atrás apenas dos três países africanos já citados e de Haiti (0,595), Angola (0,586), Colômbia (0,585), Bolívia (0,582), África do Sul (0,578) e Honduras (0,553).

“A questão da concentração do patrimônio rural no Brasil precisa ser resolvida. O fortalecimento da democracia implica distribuir melhor esse patrimônio”, comentou Brancolina Ferreira, coordenadora de Desenvolvimento Rural da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) e uma das autoras da publicação. “Grande parte da mídia demoniza os movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. Eles contribuíram muito para a democratização no campo, que ainda tem um longo caminho a percorrer”, completou.

Além da concentração, também surpreende a quantidade de não remunerados em empreendimento do grupo agrícola: eles representam 43% da mão de obra rurícola (veja divisão abaixo). Uma das hipóteses plausíveis sugeridas no estudo do Ipea é que a maior parte desses trabalhadores vive em domicílio em que a família possui alguma fonte de renda.

“Porém, dada a expressividade do número de não remunerados no total da força de trabalho ocupada, é provável que no interior deste contingente encontremos relações precárias de trabalho e desemprego”, completa o estudo. Na avaliação do Ipea, este cenário de vulnerabilidade “confirma a atualidade e urgência da reforma agrária como única forma de superar as condições precárias de vida e a pobreza que caracteriza o meio rural brasileiro”.

Ocupação

Quase 70% dos grupamentos agrícola estão fora de qualquer relação de assalariamento – 43% de não-remunerados e 25% de trabalhadores por conta própria. “Este elevado contingente está sujeito a uma renda instável, sujeita a um conjunto de fatores sobre os quais os trabalhadores não possuem controle”, prossegue o comunicado divulgado pelo Ipea na última quinta-feira (1º). “O risco de uma renda insuficiente ao provimento de bens necessidades básicas reforça a importância da previdência social e dos programas sociais de transferência de renda do governo federal no meio rural”.

A confirmação do emprego temporário como “elemento estruturante do mercado de trabalho agrícola, respondendo por 43% de empregados ocupados” (confira Gráfico) também sobressai no trabalho do Ipea sobre a PNAD 2008. “A alta taxa de participação dos temporários sintetiza algumas das características ainda dominantes na área rural: sazonalidade das ocupações, relações de trabalho altamente instáveis, baixos salários, trabalho braçal e extenuante e péssimas condições de trabalho”, analisa o instituto.

Grau de formalização

A forte desigualdade entre homens e mulheres nas ocupações agrícolas (Tabela I) constitui outro aspecto observado nos dados. “A proporção de mulheres em atividades precárias e não remuneradas (incluindo a produção para o próprio consumo) é significativamente maior que a de homens dedicados a estas atividades. O mesmo não se verifica nas atividades remuneradas, em que os homens representam mais que 85% da força de trabalho empregada em todas as condições de ocupação”, sublinha o Ipea.

Para Brancolina, da Disoc, o quadro é preoupante não só pela grande quantidade de trabalhadores rurais que estão fora de qualquer relação de assalariamento, mas também por causa das condições enfrentadas por elas (inclusive quanto às dificuldades de acesso à educação). “As mulheres funcionam como um exército de reserva de trabalhadores do campo. Elas não possuem renda e muitas vezes trabalham em substituição aos homens, que se locomovem para outras frentes de trabalho em busca de melhores salários”.

Participação homens/mulheres

“À concentração urbana dos trabalhadores se contrapõe uma baixa participação da população rural no total de ocupados, resultado de todo o processo de concentração fundiária e de expulsão da população rural ao longo do século XX”, avalia o Ipea. As políticas dirigidas ao fortalecimento do agronegócio, frisa o instituto, “intensificam e reproduzem esta herança”.

Renda

O rendimento médio mensal do trabalho principal para a família nas áreas rurais do país se limita a 35% (R$ 360) do rendimento médio mensal do trabalho principal daqueles que vivem nas cidades (R$ 1.017). Quando o critério adotado é a atividade propriamente dita, esta diferença aumenta: o rendimento médio mensal do trabalho principal agrícola (R$ 335) é menor que um terço (32,8%) do rendimento médio de atividades não-agrícolas (R$ 1.020).
Os números que evidenciam a discrepância entre as realidades rural e urbana no Brasil ficam evidentes nas Tabelas II e III (veja abaixo) e são complementados por outros indicadores. A renda média mensal da População Economicamente Ativa (PEA), residente em área rural, representa apenas 43% da renda de mesmo tipo auferida pela PEA com domicílio em área urbana.

Tanto o rendimento médio no meio rural quanto o rendimento médio de atividade agrícola detectados em 2008 sequer alcançavam o salário mínimo da época (R$ 415). A verificação de rendimentos menores que o mínimo transparece nos rendimentos por classes. A partir desta divisão, é possível notar que 43% das pessoas com 10 anos ou mais, ocupadas na atividade agrícola (Tabela IV), simplesmente não tinham nenhum rendimento.

Os rendimentos médios mensais dos empregados permanentes e dos trabalhadores por conta própria eram, como mostra a Tabela V, bastante próximos entre si: R$ 567 e R$ 509, respectivamente. Enquanto o rendimento médio mensal do empregado temporário era de R$ 344 em 2008, a média do empregador, com pelo menos um empregado, era de R$ 2.552. Em suma, os temporários e os permanentes ganhavam, respectivamente, cerca de 13,4% e 22,2% da quantia média acumulada pelos empregadores.

A distribuição dos rendimentos médios mensais da PEA pelas diferentes regiões do país também é revaladora. A renda média no Nordeste não ultrapassava R$ 296, inferior ao salário mínimo, justamente na região onde é maior a proporção de pessoas vivendo em áreas rurais – e a média dos valores correspondentes nas demais regiões do país era de R$ 578,75. Vale ressaltar ainda que a grande maioria das ocupações no meio rural (em torno de 70%), detectada pela PNAD 2008, estava ligada à agricultura familiar, que responde ainda por cerca de 70% da produção de alimentos no Brasil.

Panorama

Conforme dados selecionados da PNAD 2008, os domicílios rurais abrigam pouco mais de 16% do total de habitantes do País. “A diferença em relação ao tamanho da população das cidades, amplamente majoritária, tem por vezes suscitado a opinião de que a questão agrária perdeu muito de sua importância, e que a questão social se transferiu, junto com os milhões de trabalhadores migrantes, para a cidade”, realça o comunicado.

Os autores do comunicado específico sobre o meio rural lembram que “a dinâmica da modernização econômica, que engendrou a acelerada urbanização do país, teve, nas áreas rurais, um caráter conservador: transformou a base técnica da produção, obrigando a mão de obra a migrar para as cidades, sem contudo alterar o padrão fundiário dominante”.

“A expressiva repercussão do Censo Agropecuário 2006, os debates fortemente polarizados que a divulgação de seus resultados suscitou, e outras controvérsias relativas ao meio rural, como a proposta de reajuste dos índices de produtividade, confirmam, por si só, a permanência da questão agrária”, completa o estudo, que julga as políticas públicas de desenvolvimento rural e o aprimoramento constante das informações relativas aos modos de vida e produção da população do campo como “imprescindíveis”.

Nas regiões Nordeste e Norte, por exemplo, a população rural bate 27,6% e 22%, respectivamente. Mais urbanizada do País, a Região Sudeste tem só 8% de sua população residindo na zona rural. A mesma região, porém, abriga a segunda maior concentração de população rural (20,5% da soma nacional). Nesse quesito, a Região Sudeste só perde para a Região Nordeste, que concentra 48% da população rural, como frisa o documento do Ipea.

Na zona urbana, a taxa de analfabetismo para pessoas acima de 15 anos é de 7,5%. Na zona rural, esta mesma taxa chega a 23,5%. A população mais escolarizada, com mais de 11 anos de estudo, representa mais de 40% da população urbana e apenas 12,8% da população rural. A maioria da população do campo (73%) sequer completou o ensino fundamental.

De 2004 para 2008, a porcentagem de domicílios abastecidos por energia elétrica subiu de 81% para 91%, em grande medida graças ao Programa Luz para Todos de eletrificação rural, implementado pelo governo federal.

Por meio dos indicadores da PNAD 2008, o comunicado do Ipea mostra que apenas um terço dos domicílios rurais não possui água encanada. Nas cidades, este percentual não atinge 3%. Outro relatório apresentado no final de março pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) revelou que 23% das casas nas áreas rurais do Brasil eram atendidas por saneamento básico em 2008. A cobertura é inferior aos dados recolhidos pelas Nações Unidas acerca da área rural de países da África e da Ásia como Sudão (24%), Nepal (24%), Nigéria (25%) e Afeganistão (25%).

Fonte: Reporter Brasil, 6 abr 2010

Pesquisa revela que Nordeste é a região que menos beneficia pobres

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“A região Nordeste e seus estados são os que menos demonstram um resultado em favor dos pobres”. Essa é uma das conclusões que pesquisadores do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), da Universidade Federal do Ceará (UFC), obtiveram com a pesquisa “Sobre a qualidade do crescimento econômico no Brasil de 1995 a 2008: uma análise comparativa entre estados e regiões brasileiras”.

De acordo com Flávio Ataliba, coordenador do LEP, a pesquisa, divulgada no início desta semana, teve o objetivo de “identificar o padrão de crescimento econômico no Brasil”.  A ideia era saber se, durante esses 13 anos, o crescimento no país “beneficiou mais os pobres ou não”.

Além de analisar o período inteiro, o estudo procurou qualificar o tipo de crescimento ocorrido no país, regiões e estados brasileiros nos períodos de 1995-2002 (governo de Fernando Henrique Cardoso) e de 2003-2008 (governo de Luiz Inácio Lula da Silva). No entanto, Ataliba ressalta que a intenção não foi avaliar os governos ou as políticas econômicas, já que a pesquisa não levou em consideração fatores relevantes para esse tipo de discussão.

O coordenador do Laboratório revela que o crescimento econômico foi diferente entre as regiões brasileiras. Segundo ele, de modo geral, as regiões Sul e Sudeste apresentaram um padrão de renda benéfico para a população mais pobre, sendo que o mesmo não foi observado no Nordeste.

Ataliba explica que a renda na região Nordeste aumentou, no entanto, a classe mais pobre não foi beneficiada. “O crescimento da renda no Nordeste foi maior que nas outras regiões, mas a qualidade dessa renda foi menor”, resume. Diferente do que ocorreu no Sul e Sudeste, que geraram um padrão de renda favorável aos mais pobres.

“Com efeito, novamente se verifica o Nordeste e seus estados como os principais destaques no que tange a menor capacidade de combate à pobreza, e em geral, por beneficiar certas classes e em outros casos devido ao aumento na concentração de renda”, destaca o estudo.

Professor Ataliba ressalta ainda a questão da desigualdade social, muito presente no Nordeste. “O crescimento [econômico] no Sul Sudeste foi menor, mas a desigualdade caiu bastantes”, revela, lembrando que, mesmo não tendo forte crescimento econômico, as regiões Sul e Sudeste são as que têm renda mais alta.

Na opinião dele, é necessário mais investimentos em políticas e, principalmente, na melhoria da educação nessa região. Apesar de não abordar na pesquisa, Ataliba acredita que, dessa forma, o Nordeste conseguirá se aproximar das outras regiões.

“E embora não seja objetivo do trabalho, como um dos resultados, verificou-se que as três metodologias convergem para o fato da região Nordeste e de seus estados não estarem reduzindo os indicadores de pobreza ao comparar com os demais que foram analisados no país. Com efeito, se nada for feito pelo setor público, o que os dados mostram é que há uma tendência de formação de uma espécie de ‘clubes de convergência de pobreza’, onde de um lado deve-se ter a região Nordeste (e seus estados) e de outro as demais regiões (e seus estados)”, apresenta a pesquisa.

O estudo completo está disponível em: http://www.caen.ufc.br/noticias/arquivos/pesquisa_lep_ensaio22-100330.pdf

Fonte: Adital, jornalista Karol Assunção, 1 abr 2010

Brasil pode zerar miséria e se igualar a países ricos em 2016, diz Ipea

MARIANA SALLOWICZFolha Online

O Brasil poderá praticamente zerar a pobreza extrema e alcançar indicadores sociais próximos aos dos países desenvolvidos em 2016, caso mantenha o ritmo de desempenho que teve entre 2003 e 2008. A conclusão é de estudo “Pobreza, desigualdade e políticas públicas”, divulgado nesta terça-feira pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

A pobreza extrema é considerada para famílias com renda de até um quarto de salário mínimo per capita –atuais R$ 127,50.

Também há expectativa de alcançar uma taxa nacional de pobreza absoluta (até meio salário mínimo per capita, R$ 255) de 4% naquele ano, o que, segundo o Ipea, significa quase a sua erradicação. Em 2008, o índice estava em 28,8%.

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