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Crônica de uma tempestade ~ por José Roberto Prado

Havia sido um longo dia. Acalmar e organizar a multidão, ouvir os apelos das pessoas que buscavam por cura, libertação e conselho não foi fácil. Eram mais de cinco mil, de várias localidades. O Mestre, como sempre, tranqüilo. Perguntávamos uns aos outros de onde ele tirava tanta paciência para tratar com gente tão sofrida, tão complicada. Nada parecia lhe incomodar! Nem o calor, nem os gritos das crianças, o murmúrio impaciente dos doentes. Atendia a todos. Um a um!

A tarde chegou e com ela a fome. Não havia cidade por perto e o povo também não levou lanche. O que será que pensaram? Somente um garotinho fora prevenido. Parece que era um gordinho… (Desses que sempre tem um lanchinho escondido para as emergências…). Mas como alimentar a multidão? Melhor despedi-la, pensamos nós. O Mestre, pra variar, nos colocou numa sinuca: Alimentem-lhes! Continue lendo

Vivendo no Hiato ~ por José Roberto Prado

Segundo o dicionário, hiato é uma fenda, um intervalo, uma lacuna. Uma espécie de espaço-tempo onde o que existe é o vazio, onde reina o caos. Sua principal característica é a ausência, a falta de algo e não um conteúdo.

Para muitos, a vida parece estar presa a um hiato. Como um buraco-negro existencial, deslizamos entre dias rotineiros, casamentos falidos, agendas ocupadas, contas a pagar e fotografias sorridentes na coluna social. Todos os nossos dias sem sabor, vividos no hiato… Sem sentido.

Esta percepção incômoda zomba de nós com sua gargalhada insolente especialmente quando algo de ruim, de extraordinário, chega até nós. Basta um telefonema, um diagnóstico, e lá vamos nós. Como a barragem trincada de uma represa, nossos piores temores brotam do interior de nossas almas com uma força que desconhecíamos. Os dias ficam cinzentos, as noites mais longas, o apetite se vai e o copo não se esvazia.

A vida no hiato é capaz de provar por “a + b” que os muros dos condomínios, com suas cercas elétricas e vigilância monitorada, não conseguem impedir a entrada do sofrimento em nossas casas. Planos de saúde não são capazes de barrar os vírus, bactérias e células cancerígenas. Religiosidade sincera, velas acesas, promessas, figas e pés-de-coelho não impedem que sejamos vítimas de seqüestros-relâmpago, assaltos à mão armada, arrastões, balas perdidas. Continue lendo

Crescer é preciso! ~ por José Roberto Prado

“A vida cristã não deve ser vivida sempre na dimensão cambaleante dos primeiros passos, na energia limitada do leite para recém-nascidos. É preciso crescer, amadurecer, firmar-se nas palavras daquele que nos chamou”.

A frase acima dificilmente encontraria oposição. Todo cristão concorda que é preciso crescer! Nosso mal estar começa quando nos negamos a perceber os meios pelos quais Deus nos quer levar ao crescimento. Aí começa a chiadeira geral…

Bem, dizemos, se for desse jeito, não quero crescer (como se tivéssemos alternativa!). Sabemos muito bem que crescer implica em dor, em negações, cortes, assumir ônus de decisões, enfim, viver em conformidade com a Palavra que já conhecemos… Cientes disso muitos se contentam em ser somente iniciantes na fé…

Mas não é este o plano de Deus.

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E agora, José? ~ por José Roberto Prado

Carlos Drummond de Andrade cunhou esta expressão em seu poema “José”, em 1942.

Como mestre, o poeta retrata o vazio e a “não direção” latente na alma do povo Brasileiro, imerso nas angústias e incertezas dos sombrios anos da Segunda Grande Guerra Mundial.

Por eu mesmo ser “José” e filho de José, desde que me conheço por gente esta pergunta me acompanha.

Nas Escrituras encontramos também alguns “Josés”.

Ao contrário do José do poeta, poético e emblemático, estes são históricos, pessoas reais.

Marido de Maria e chefe da casa onde Jesus nasceu, do José carpinteiro pouco sabemos, somente uma vaga imagem rascunhada nos primeiros anos do menino. Maria é presente do nascimento à morte. Segue a Jesus e é inclusive encontrada aos pés da Cruz.

E José? Onde estava o José?
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