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Anencéfalo só morre porque está vivo! ~ Direitos humanos face à dramaticidade da vida

Apesar da votação, constitucionalista avalia decisão dos ministros e insiste em visão contrária à adotada pela maioria. ‘Anencéfalo só morre porque está vivo!’

[Maria Garcia, Estadão, 14 abr 12] O valor universal dos direitos humanos vem juridicamente reconhecido desde a Carta da ONU de 1945, em cujo Preâmbulo os “Povos das Nações Unidas” reafirmam sua “fé nos direitos fundamentais do homem…”, e na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Na Constituição brasileira de 1988, duas disposições destacam-se no tema: o art. 5º, caput, pelo qual se garante a inviolabilidade do direito à vida, e o art. 227, pelo qual “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, com absoluta prioridade, o direito á vida…”, além de colocá-la “a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Esse, o mandamento constitucional dirigido a todos (família, sociedade e Estado). Então, qual é o problema, afinal, dos direitos humanos? Continue lendo

Deus está de volta ~ Maria Clara Bingemer

[Adital, 25 out 11] Não chega a ser uma novidade o fato de estarmos assistindo, já há algum tempo, a certo “reencantamento do mundo”, isto é, a uma inversão do processo de secularização deslanchado com a modernidade e sua crise. Essa tendência começou a visibilizar-se com a nova consciência religiosa trazida pela Nova Era, o esoterismo, o culto das pirâmides de cristal, o I-Ching, o tarô, o retorno dos anjos e duendes. A razão banida permanecia oculta pelo deslumbramento com um além povoado de deuses maiores e menores, porém fluidos e sem consistência. E o resgate da transcendência sem absolutos expressou-se até mesmo, mais recentemente, em livros de grande tiragem que falavam sobre meninos bruxos e anéis mágicos.

A ideia da incompatibilidade de princípio da secularização com a religião entra decididamente em declínio. E os sintomas do que poderíamos chamar de uma volta de Deus aparecem como sinais visíveis de novos tempos. “Aquilo que muitos acreditavam que destruiria a religião – a tecnologia, a ciência, a democracia, a razão e os mercados –, tudo isso está se combinando para fazê-la ficar mais forte”, escreveram John Micklethwait e Adrian Wooldridge, ambos jornalistas da revista britânica The Economist, no livro “God is back”. Para muitos e bem concretamente para os jovens, como diz o título do livro, Deus está de volta. Continue lendo

Teologia e espiritualidade na voragem da modernidade ~ Rui L Rodrigues

A preocupação que norteou a escrita dos ensaios reunidos em Realização do homem, realização de Deus foi, sobretudo, a busca por uma nova perspectiva na qual teologia e espiritualidade pudessem ser enfocadas adequadamente, sem o peso de tantos pressupostos que, ao longo do tempo, acabaram por colocar esses termos em campos quase opostos.

Teologia é necessariamente reflexão humana e tarefa inacabada. Trata-se de um trabalho que a razão humana desenvolve sobre os dados da Revelação consignados nas Escrituras e na experiência. Não faz sentido pensar a teologia senão dessa forma; a alternativa, sumamente perigosa, é tê-la como produto acabado, numa confusão de papéis que faz a teologia assumir o lugar da própria Revelação. A Teologia procura compreender as dinâmicas pelas quais esses diferentes testemunhos sobre a Verdade (entendida sempre como realidade pessoal e relacional) foram produzidos e consignados; procura refletir sobre esses testemunhos, agrupando suas percepções em torno de eixos interpretativos.

É, assim, esforço humano; e, portanto, esforço histórica e culturalmente condicionado. A Teologia é sempre relativa! Por força disso, só faz sentido num contexto de diálogo, onde as perspectivas de determinada teologia possam ser discutidas à luz de outras construções teológicas. Já não podemos mais acreditar em teologias “absolutas”, que absolutizam sua própria compreensão, seu viés específico de análise. Consequentemente, teologia é tarefa inacabada. Não pode haver um sistema teológico definitivo, pela simples razão de que os contextos históricos – que produzem as teologias, na medida em que esse esforço racional sempre é histórico e historicamente condicionado – mudam; transformam-se. Uma Teologia definitiva, absoluta portanto, só faria sentido na trans-história, não na história! Continue lendo