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Da educação mercadoria à certificação vazia ~ por Andrea Harada Souza

Enquanto não houver uma mudança radical, o próprio sentido de educação estará comprometido, posto que seu fim mais elementar não é atingido: em vez de promover a emancipação humana, produz lucro para o capital que só enxerga as camadas sociais C, D e E quando estas se apresentam como potencial mercado consumidor.

[Le Monde Diplomatique Brasil, 1 dez 11] O ensino superior, público e privado, no Brasil passou por grandes transformações nas últimas décadas. Essas mudanças – travestidas de democratização, por favorecerem o acesso – visaram atender a uma proposta de privatização e barateamento da educação.

O Ministério da Educação (MEC) alardeia números, sobretudo para organismos internacionais – que obrigam o país a se enquadrar em padrões estipulados por eles na competição do mercado de consumo, trabalho e pesquisa –, que demonstram o crescimento do acesso ao ensino superior, ainda que distantes daqueles objetivados pelo Plano Nacional de Educação (PNE) (o acesso é de apenas 13,8% dos jovens, entre 18 e 24 anos). Porém, esse suposto processo de inclusão tem facilitado, para além do aceitável, um crescimento vertiginoso das instituições de ensino superior (IES) privadas, com desdobramentos que passam pela precarização do trabalho docente e pela formação duvidosa que essas empresas têm oferecido aos alunos por ela formados.

A predominância de objetivos economicistas em detrimento dos pedagógicos nas IES privadas permitiu um fenômeno relativamente novo no Brasil: a formação de conglomerados educacionais, grandes empresas, de capital aberto e com forte participação de grupos estrangeiros em seu quadro de acionistas. A autorização para funcionamento dessa espécie de oligopólio do setor educacional tem intensificado a visão mercantil da educação superior no Brasil. Os exemplos mais representativos desse modelo de organização empresarial na educação ficam por conta dos grupos educacionais Kroton-Pitágoras, Estácio de Sá, SEB (Sistema Educacional Brasileiro) e Anhanguera Educacional. Esta última, com a recente aquisição da Uniban, passou a ser o maior grupo educacional do país, atendendo aproximadamente 400 mil alunos em campiespalhados por diversos estados brasileiros. Além disso, manteve sua projeção de crescimento de atingir 1 milhão de estudantes em cinco anos, segundo matéria do Valor Econômico de 17 de novembro de 2011. Continue lendo

Brasil tem diferenças dentro de uma mesma classe social, diz pesquisa

Marli Moreira, da Agência Brasil, 3 fev 2010

Brasília – A definição das classes sociais em A, B,C, D e E escondem características que podem ser essenciais para melhor definir um novo produto de consumo ou mesmo onde e como os órgãos públicos devem realizar obras de serviços à população como um hospital. A constatação foi feita pela Serasa Experian, empresa de consultoria do setor privado, que realizou um estudo semelhante ao que já existe em 29 países.

Por meio do cruzamento de dados cadastrais da companhia, do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e da Pesquisa Nacional de Amostragem Domicialiar (PNAD), foi feita uma espécie de radiografia social.

Nesse mapeamento, foram identificados 39 segmentos distintos dentro de dez grupos ( A: Ricos, sofisticados e influentes; B: Prósperos e moradores urbanos; C: Assalariados urbanos; D: Empreendedores e comerciantes; E: Aspirantes sociais; F: Periferia jovem; G: Envelhecendo na periferia; H: Aposentadoria tranquila; I: Envelhecendo no interior; J: Brasil rural.

Todos foram separados em função da renda, da geografia, da demografia, de padrões estabelecidos, e estilo de vida. Entre eles estão moradores ribeirinhos da Grande Amazônia (1,47%), um dos sete do grupo Brasil Rural; aposentados rurais do Nordeste (4,03%), um dos três do grupo Envelhecendo no Interior e jovens trabalhadores de baixa renda (3,55%), um dos seis do grupo F (Periferia Jovem).

Segundo Juliano Marcílio, responsável pelo trabalho, o resultado é uma ferramenta de múltiplas aplicações. “Tanto pode ser usada por empresas quanto órgãos públicos”, disse ele, defendendo que “toda a empresa precisa entender melhor o ambiente e o consumidor final”.

Quanto ao uso por entidades governamentais, ele informou que uma campanha antitabagista, desenvolvida na Inglaterra, foi definida com base no mesmo tipo de conjunto de informações. Ela afirmou que “quando se fala da periferia se cria um arquétipo. Mas na nossa segmentação construímos nove segmentos distintos de moradores com anseios e desejos característicos”.

A socióloga Cristina Panella, um dos dez professores da Universidade de São Paulo que analisaram os dados, disse que o estudo permite “aumentar, consideravelmente, o entendimento dos diferentes grupos na sociedade brasileira e não só por uma única ótica”. Para ela, isso pode ajudar nas estratégias de marketing não apenas por partes das empresas do setor privado quanto de órgãos públicos.

Nesse trabalho, segundo ela, foi possível entender melhor, por exemplo, algumas mudanças sociais com o ingresso de famílias de baixa renda na classe média. Ela observou que em uma mesma residência, às vezes, passam a morar novos agregados da família e isso reduz o gasto médio da moradia.