Isabella. Era uma vez uma ovelhinha…~ por José Roberto Prado

Já faz alguns anos que uma menina chamada Isabella, de 5 anos, foi morta ao ser estrangulada e jogada pela janela do apartamento no sexto andar de um prédio em São Paulo.

Todos nós acompanhamos diariamente pela mídia cada detalhe do caso. Mesmo passado tanto tempo, parece que ainda há lugar para conjecturas. Não pretendo aqui apontar os culpados. Quero, contudo, propor uma reflexão a partir desta tragédia.

Alguns temas levantam-se imediatamente: a insegurança urbana; a sede de justiça dos seres humanos; a perplexidade diante da tragédia e, ao confirmar-se a pior hipótese, a violência doméstica – talvez a mais cruel das violências – pois que praticada covardemente dentro de quatro paredes, onde a ferida física e emocional tem como agente o mais próximo, em quem mais se confia e que deveria proteger.

A reboque deste tema surge o personagem do “pai-marido violento”, repreendido severamente pelo Senhor em Malaquias 2.16: “Eu odeio o homem que se cobre de violência…”.

Mudando de cena sem mudar de tema: hoje, caminhando pelas proximidades da nossa igreja aqui em João Pessoa, vi, escondido, encolhido, adormecido, sujo e indiferente a tudo à sua volta, um menino “sem teto”. Estava num “mocó”, talvez tivesse 9 anos. Provavelmente tenha passado a noite em claro cheirando cola, talvez se prostituindo em troca de comida.

A pergunta parece óbvia: Que tipo de sociedade é capaz de fazer isso a seus filhos?

Depois de refletir um pouco, porém, percebi que esta não era nem a pergunta certa a ser feita, tampouco era sábia.

Explico.

Em última instância, sem importar as causas, as omissões, os culpados, existem vítimas que ainda respiram à nossa volta.

Não sabemos por quanto tempo aguentarão, mas diferentemente da Isabella, ainda estão ao nosso lado, ainda são “nosso próximo”, por mais escondidos que estejam.

A pergunta pertinente então é: “Que tipo de comunidade pode fazer frente a esta sociedade, propondo-lhe caminhos e soluções alternativas?

Ora, onde mais poderiam estas crianças brasileiras – inclusive as de João Pessoa – encontrar o amor, o abraço e a alegria genuína, senão nas comunidades daqueles que seguem a Jesus de Nazaré?

O fato é que vivemos nestas cidades caóticas e em meio à esta geração “enferma” e é a elas, ou nelas, que devemos servir se quisermos ser chamados de cristãos.

Muitas igrejas estão abençoadamente localizadas nos lugares mais estratégicos da cidade, onde se multiplicam vítimas desta sociedade em decomposição.

Que faremos? Que tipo de comunidade queremos ser? Estas sim são perguntas que merecem reflexão madura e respostas práticas e corajosas.

Jesus tratou as crianças e mulheres com extremo carinho, respeito e amor. Ele nos disse: “Assim como o Pai me enviou, eu envio vocês” (João 20.21). Nós, igreja, somos chamados de “corpo de Cristo” pelo fato de sermos hoje, aqui, em João Pessoa, nas imediações de Tambaú, suas mãos, seus pés, seus braços, seus olhos…

Pergunto: ”A quem Jesus quer tocar? A quem deseja salvar? Quantas respostas concretas estamos dispostos a dar como igreja?

Jesus disse a Pedro: “Cuide dos meus cordeirinhos” (João 21.15).

Existem muitas “Isabellas” ao nosso lado. Que faremos?

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