Igreja: lugar de encontro e restauração ~ por José Roberto Prado

Jesus subiu a um monte e chamou a si aqueles que ele quis, os quais vieram para junto dele. Escolheu doze, designando-os apóstolos, para que estivessem com ele, os enviasse a pregar…”. (Marcos 3.13-15)

Uma montanha de tijolos não é uma casa.

Várias partes de frango juntas na bandeja do supermercado não fazem uma galinha!

Assim também, várias pessoas reunidas num auditório, por maior e mais bonito que seja, não fazem uma igreja!

Para que um auditório se transforme em igreja existe um caminho a ser percorrido na trilha dos relacionamentos que vai da superficialidade, – caracterizado pelo “Oi, já te vi por aqui, mas não sei bem quem você é” – para a intimidade – “conheço você e você me conhece”, e da intimidade para a mutualidade – “conheço suas lutas e estou aqui com você pra o que der e vier”.

O alvo de Jesus para sua igreja é que seja uma comunidade caracterizada pelo amor mútuo [mutualidade = “uns aos outros” (Jo 15.12)], unidade (Jo 17.21) e missão (Jo 20.21).

Jesus não focou seu ministério nas multidões, nos eventos, nas grandes concentrações.

Pelo contrário, dedicou a maior parte de seu tempo a um pequeno grupo de discípulos, compartilhando seu coração, sua visão, seu amor, enfim, levando-os à maturidade a fim de que, após sua morte e ressurreição, as multidões tivessem líderes íntegros e compassivos que pudessem seguir.

No texto de Marcos acima vemos que o primeiro passo que Jesus deu para alcançar este objetivo foi “chamar a si” os discípulos “para junto dele”, para “estarem com ele”. Em uma palavra, Jesus chamou-os para convivência. Somente três anos depois, quando já haviam sido formados e transformados pelas palavras e exemplo de Jesus é que receberam a ordem de “amar como eu os amei” e “vão por todo mundo pregar o evangelho”.

A convivência é a porta de entrada para a intimidade. Quem, por quaisquer motivos, se nega a “estar” com outros irmãos fecha a porta da comunhão e mantém uma barreira em redor de si que impede tanto seu crescimento pessoal como o crescimento dos outros, pois cada parte é importante para o crescimento do todo.

A intimidade é construída num ambiente de confiança, e confiança se constrói com aceitação. Por sua vez, aceitação é fruto do respeito. Para que uma igreja seja igreja é necessário cultivar um ambiente de aceitação e respeito, onde cada um pode se expressar de forma autêntica sem o receio de ser ridicularizado ou censurado. Cada pessoa tem seu próprio jeito (temperamento, personalidade) e ritmo.

A confiança demanda tempo e dedicação. Não acontece ao acaso. É preciso paciência e perseverança. Se não houver um ambiente de aceitação e confiança uma igreja pode se reunir por vários meses ou anos, porém não se tornará uma igreja de verdade.

O ambiente de respeito na igreja nasce do reconhecimento do valor intrínseco de cada pessoa. Somos chamados a ver a glória de Deus na vida do outro e isto implica em aprender reconhecer e valorizar as diferenças. Pessoas se expressam, aprendem, sentem, pensam e até mesmo amam de maneira diferente. Reflita, por exemplo, na Trindade, na diversidade da natureza, na pluralidade de temperamentos…

É natural que o convívio faça aflorar diferenças e aconteçam atritos e discordâncias. Foi exatamente isso que aconteceu com os discípulos de Jesus. Mas eles lidaram com estas questões com a ajuda do Mestre e superaram cada uma delas, a ponto de serem descritos como tendo “uma só mente e um só coração” (At 4.32). Este é meu sonho. O sonho de Deus para sua igreja. Para cada igreja.

Para que isto aconteça precisamos aprender a ver além da superfície, enxergando o coração das pessoas e não somente suas caretas e cicatrizes. Todos nós carregamos marcas físicas e emocionais. Alguns conseguem disfarçar estas marcas, outros nem tanto. Muitos chegam presos a pecados, destruídos por vícios, sobrecarregados pelas conseqüências de decisões equivocadas, feridos pela vida, pelo mal ou por outras pessoas. Mas todos são bem-vindos!!!!

Você é meu companheiro/a de caminhada. E é com esta matéria prima que Jesus constrói sua igreja. E se você duvida da capacidade Dele de dar nova forma a coisas aparentemente sem valor, converse comigo, posso lhe contar minha história! Apesar de o ditado popular dizer que “pau que nasce torto, morre torto”, nós cristãos cremos diferente: “pau que nasce torto, Deus apruma”.

Bem vindo, então, à igreja, santa carpintaria de Deus!

Mas não fique somente perto da porta de entrada, venha tomar um café na cozinha…

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