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Onda de suicídios de adolescentes alarma autoridades em Mumbai

Zubair Ahmed, da BBC News, em Mumbai

O clima no pequeno apartamento de Mumbai onde Neha Sawant vivia é sombrio desde que a adolescente de 11 anos foi encontrada enforcada em uma corda presa pela janela.

Isso já faz várias semanas, mas seus pais ainda não superaram o choque. Eles parecem confusos e cansados.

A avó de Neha, ainda perplexa, diz em uma voz embargada: “Nossos cérebros não estão funcionando. Ainda não podemos acreditar nisso”.

Aos 11 anos, Neha é uma das adolescentes mais jovens a cometer suicídio em Mumbai. Mas as estatísticas sugerem que mais e mais adolescentes estão se matando na cidade, que é o centro financeiro da Índia.

Ocorrência diária

Inexplicavelmente, os suicídios de adolescentes se tornaram quase uma ocorrência diária no Estado de Maharashtra – um dos mais desenvolvidos do país – e em sua capital, Mumbai.

O total de suicídios de adolescentes desde o começo do ano até o dia 26 de janeiro já era de 32, numa média de mais de um por dia.

Apesar de não haver nenhum dado do mesmo período em 2009 para comparação, há um consenso entre as autoridades preocupadas de Mumbai de que os suicídios de adolescentes estejam saindo de controle.

Também há um entendimento geral entre psicólogos e professores de que a principal razão para o alto número de mortes de adolescentes é a crescente pressão sobre as crianças para que se saiam bem nos exames escolares.

Mais de 100 mil pessoas cometem suicídio todos os anos na Índia, e três pessoas por dia tiram suas próprias vidas em Mumbai.

O suicídio é uma das três principais causas de morte entre as pessoas de 15 a 35 anos e tem um impacto psicológico, social e financeiro devastador sobre as famílias e os amigos.

Campanha

Pressão acadêmica sobre os estudantes é vista como possível causa

A diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Catherine Le Gals-Camus, observa que mais gente morre por conta de suicídio em todo o mundo do que por todos os homicídios e guerras combinadas.

“Há uma necessidade urgente de uma ação global coordenada e intensificada para prevenir essas mortes desnecessárias. Para cada morte por suicídio há um grande número de familiares e amigos cujas vidas são devastadas emocionalmente, socialmente e economicamente”, diz ela.

Em Mumbai, as autoridades estão tão alarmadas com o tamanho do problema que começaram uma campanha, com o slogan “A Vida é Bela”, visando ajudar os estudantes a lidar com a pressão acadêmica.

Psicólogos visitam escolas públicas em Mumbai uma vez por semana para treinar professores que lidam com problemas dos estudantes.

Reuniões

A escola Sharadashram Vidyamandir conta com vários ex-alunos ilustres no país, como os ex-jogadores de críquete da seleção indiana Sachin Tendulkar e Vinod Kambli.

A escola vem promovendo reuniões de pais e mestres nas quais os pais podem receber dicas de como combater as pressões que as crianças enfrentam.

Apesar disso, as sessões não preveniram a morte de Shushant Patil, de 12 anos. Ele foi encontrado enforcado num banheiro da escola no dia 5 de janeiro.

Mangala Kulkarni é diretora da ala feminina da escola. Ela diz que as famílias precisam adotar uma postura mais ativa quando se trata de evitar que os estudantes se sintam estressados.

“As crianças não percebem que elas têm mais caminhos do que apenas o sucesso acadêmico. Elas precisam ser levadas a perceber isso por suas famílias desde a infância”, diz.

Um serviço telefônico de ajuda em Mumbai, chamado Aasra, vem operando há vários anos para tentar combater o problema.

O diretor do serviço, Johnson Thomas, diz que os problemas que as crianças enfrentam hoje têm várias facetas.

“Elas enfrentam pressão dos colegas, têm problemas de comunicação com seus pais, relacionamentos desfeitos, pressão acadêmica e medo do fracasso”, afirma.

O Ministério do Interior estima que para cada suicídio de adolescente em Mumbai há 13 tentativas.

Cinema

Para a psicóloga Rhea Timbekar, pais precisam de aconselhamento

Uma teoria por trás do recente aumento dos suicídios é a influência do lançamento recente de um filme de grande sucesso do cinema indiano, 3 Idiots (Três Idiotas), que tem uma cena na qual um estudante de engenharia é mostrado cometendo suicídio após um resultado medíocre nas provas.

O impacto do filme tem sido debatido e analisado em programas de televisão em horário nobre, com muitos especialistas acusando-o diretamente pelo problema.

Mas a psicóloga Rhea Timbekar, de Mumbai, argumenta que seria errado culpar o filme, o qual ela diz que se esforça para explicar que os pais não deveriam pôr muita pressão sobre seus filhos.

Timbekar diz que ela recentemente encontrou uma criança que não havia comido por quatro dias.

Os pais da criança disseram que estavam bravos com o filho porque ele tinha obtido apenas uma nota de 89% nos exames e era o terceiro aluno da classe, não mais o primeiro como nos anos anteriores.

“Pais assim precisam receber aconselhamento”, defende ela.

Timbekar diz que outra explicação para o alto índice de suicídios de adolescentes é o fato de muitas crianças lerem sobre histórias de suicídios nos jornais e decidirem tentar a mesma coisa elas mesmas.

Explicação simplista

Dilip Panicker, um conhecido psicólogo de Mumbai, diz porém que somente a pressão dos exames é uma explicação muito simplista para o problema.

“Em um certo nível, as pressões da escola e as expectativas dos pais são uma razão válida, mas elas sempre existiram”, ele diz.

“Na verdade, os pais costumavam bater nos filhos na nossa época. O que mudou é que hoje as crianças estão mais atentas, têm mais exposição. Elas são mais independentes. Então, elas se culpam pelo fracasso e tomam atitudes extremas”, afirma.

Alguns psicólogos argumentam ainda que a definição de adolescente precisa ser revista em 2010.

“O que fazíamos aos 14 ou 15 anos, as crianças de 11 estão fazendo hoje”, diz Rhea Timbekar.

Ela destrói a teoria de que as crianças são mais espontâneas ao cometer suicídio, ao contrário dos adultos que começariam com uma ideia, desenvolveriam um plano e terminariam com uma ação.

“Uma criança não acorda simplesmente numa manhã e decide que vai se matar naquele dia”, ela argumenta. “Alguma coisa se perdeu nas suas vidas muito antes, e os suicídios são uma manifestação disso.”

O declínio do sistema familiar tradicional da Índia também está sendo responsabilizado pelo problema.

Em uma cidade como Mumbai, onde é comum que ambos os pais trabalhem, as crianças tendem a se tornar reclusas e a passar muito tempo diante da televisão.

Para Dilip Panicker, há uma solução simples para o problema. “Se os pais amarem os filhos incondicionalmente, com todos os seus sucessos e fracassos, o problema poderia ser reduzido consideravelmente”, diz.

Quase 75% dos britânicos apoiam suicídio assistido, diz pesquisa

Fonte: BBC Brasil

Uma pesquisa realizada pela BBC revelou que 73% dos britânicos apoia o suicídio assistido de pacientes em estado terminal.

Já para os casos de pessoas que sofrem de doenças dolorosas e incuráveis, mas não fatais, o nível de apoio cai para 48%.

A sondagem entrevistou mais de mil pessoas há um mês, especialmente para uma edição do programa semanal Panorama, que será exibido nesta segunda-feira.

O programa vai se concentrar no caso da britânica Bridget Gilderdale, que na semana passada foi inocentada da acusação de tentativa de homicídio de sua filha, Lynn, que sofria de encefalomielite miálgica, uma doença crônica.

Mais clareza

Gilderdale admitiu ter ajudado a filha de 31 anos a se suicidar ministrando doses de morfina e comprimidos antidepressivos e soníferos esmagados.

A doença de Lynn não era fatal, mas a deixou presa a uma cama desde os 15 anos de idade, quando perdeu os movimentos da cintura para baixo e a capacidade de engolir alimentos.

Durante 16 anos, ela foi internada mais de 50 vezes por causa de várias outras doenças graves, e já tinha tentado cometer suicídio.

“Sei que fiz a coisa certa pela minha filha. Ela está livre e em paz, onde ela precisava estar. Não importam as consequências. Eu faria tudo outra vez”, afirmou Gilderdale em entrevista ao Panorama.

No ano passado, a Diretoria de Processos Públicos publicou instruções sobre que tipo de casos de suicídio assistido deveriam ser levados à corte.

Mas ativistas dizem que a lei ainda precisa de mais clareza.

Onda de suicídios leva França a discutir cultura ‘pós-privatizações’

Daniela Fernandes, de Paris, para a BBC Brasil

Uma onda de suicídios numa das maiores empresas francesas vem levando o país a discutir o “choque cultural” entre os valores tradicionais do funcionalismo público do país e o foco na competição adotado após processos de privatização.

Após o 25º suicídio de um funcionário da France Télécom em apenas 20 meses, o governo francês fixou nesta semana um prazo para que grandes empresas do país adotem medidas contra o estresse no trabalho.

A própria empresa, privatizada em 2004, anunciou a suspensão de seus processos de restruturação e de realocação obrigatória de funcionários após os 25 suicídios, além de 15 outras tentativas de empregados de tirar suas próprias vidas.

Para analistas, o fenômeno é consequência desse “choque cultural” que opõe a visão tradicional que atribuía ao funcionalismo público um caráter social e as novas políticas comerciais agressivas, que privilegiam o aumento constante das vendas e da rentabilidade.

Abertura

O primeiro “choque” empresarial sofrido pela France Télécom ocorreu em 1998, com a abertura do mercado francês de telecomunicações à concorrência, por determinação de uma diretiva europeia.

A segunda grande transformação foi em setembro de 2004, quando a empresa foi privatizada, 115 anos após ter sido nacionalizada.

Os empregados da operadora histórica de telefonia, que foram funcionários públicos durante mais de um século, se transformaram nos últimos anos em agentes comerciais e passaram a sofrer pressões constantes da direção em relação ao desempenho das vendas.

Para enfrentar a concorrência, a direção da empresa criou um plano de restruturação que vem obrigando os funcionários a mudar de serviço, desempenhar novas funções e serem transferidos para outras áreas geográficas.

Após o 25° suicídio em menos de dois anos, além de 15 tentativas de outros empregados de pôr fim à vida, a direção da France Télécom anunciou a suspensão de todas as reestruturações até o dia 31 de dezembro.

Em setembro, o grupo já havia anunciado o congelamento, também até o final do ano, da transferência obrigatória de trabalhadores para outras regiões.

Funcionários supérfluos

Muitos técnicos, que instalavam e faziam a manutenção das linhas telefônicas, se tornaram supérfluos devido às mudanças tecnológicas e também em razão do fato de o país ter atingido um nível de cobertura da rede que não necessitava mais a instalação de várias novas linhas, diz o economista Thomas Coutreau, que lida com questões de saúde no emprego no ministério francês do Trabalho.

“Eles se tornaram agentes comerciais sem preparo nenhum para a atividade. O trabalho deles não era vender qualquer coisa a qualquer preço. Eles viam antes sua função como um serviço público, algo que tinha valor para a sociedade. A cultura comercial de privilegiar vendas os deixou desestabilizados”, diz o economista.

O mal-estar dos empregados também foi ampliado pela instauração de uma competição individual, em relação a metas de vendas. “Isso minou a solidariedade entre os colegas”, afirma Coutreau.

“Há 30 ou 40 anos, não havia suicídios no trabalho. O surgimento disso está ligado à desestruturação da solidariedade entre trabalhadores. Ela foi esmagada pela avaliação individual dos desempenhos”, diz o psicanalista Christophe Dejours, co-autor do livro “Suicídio e Trabalho, o que fazer?”.

Os empregados que ocupam cargos de chefia na France Télécom também sofrem pressões da alta direção para demitir funcionários que não têm bom desempenho. O grupo demitiu 22 mil trabalhadores entre 2005 e 2008.

O psicanalista se diz cético em relação à utilidade dos questionários sobre o estresse no trabalho enviados nesta semana pela France Télécom aos seus empregados. A medida foi aprovada pelos sindicatos. “Essa pesquisa não diz o que é preciso fazer realmente”, afirma.

Comoção

Os suicídios na companhia comoveram a sociedade francesa e levaram a direção da France Télécom, que se recusa a demitir seu presidente, Didier Lombard, a substituir o número dois do grupo, Louis-Pierre Wenes.

Para o economista Coutreau, a crise na France Télécom não teria alterado a imagem dos franceses em relação à empresa. “Muitos se identificam com esses problemas porque vivem pressões semelhantes no trabalho”, diz ele.

“Mas alguns pensam que os ex-funcionários públicos não sabiam o que era a vida profissional e não aguentam a competição no mercado de trabalho”, afirma.

Entre os países ricos, a França possui uma das mais altas taxas anuais de suicídios, de 19,6 por 100 mil habitantes.