Solidão afeta equipes de trabalho

[FolhaSP/NYT, 9 fev 12] É solitário estar no topo, pelo menos é o que dizem. Na verdade, não importa onde uma pessoa está na hierarquia: funcionários de todos os níveis se sentem solitários, mesmo quando há muitos trabalhadores ao redor.

Pesquisas sobre solidão geralmente concentram-se na vida privada e em grupos que podem ter alguma tendência, como os idosos.
Alguns pesquisadores, no entanto, fizeram estudos sobre esse sentimento no local de trabalho e descobriram que ele afeta não somente os indivíduos mas também as organizações como um todo.

A solidão é uma percepção de isolamento ou estranhamento em relação aos outros, diz Sigal G. Barsade, professora de administração na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia. Ela surge da “necessidade humana de fazer parte de algo”.

Solidão não é a mesma coisa que estar só -condição que pode ser positiva e bem-vinda. Também não é sinônimo de depressão, embora as duas possam estar correlacionadas, diz Sarah Wright, palestrante sobre liderança organizacional na Universidade de Canterbury em Christchurch, na Nova Zelândia.

Com a solidão, há uma necessidade de livrar-se da tristeza, “integrando-se em novos relacionamentos”, explica. “Com a depressão, há um impulso de entregar-se a ela.”

CONTAGIOSA

Como faz parte da condição humana, a solidão muitas vezes é considerada problema pessoal. Mas administradores talvez devessem vê-la também como uma questão organizacional, segundo pesquisa da professora Barsade e de Hakan Ozcelik, professor de economia na Universidade Estadual da Califórnia em Sacramento.

Em um estudo recente com mais de 650 trabalhadores, os dois pesquisadores descobriram que a solidão -relatada tanto pelo sofredor como por seus colegas de trabalho- reduz a produtividade. Isso se mostrou verdadeiro para tarefas individuais ou coletivas.

Basta olhar para o que ela pode fazer com uma pessoa e você verá por quê.

“A solidão tende a distorcer a cognição social e influencia o comportamento interpessoal de um indivíduo, resultando em maior hostilidade, negatividade, humor depressivo, ansiedade, falta de controle e menor cooperação”, lista Wright.

Barsade está investigando se a solidão também pode ser “contagiosa”. Ela já havia verificado que emoções como raiva e felicidade no local de trabalho são transmissíveis.

DEPOIS DA DEMISSÃO

O que fazer? Primeiro, perceba que “a solidão é uma emoção e devemos escutá-la”, afirma Ozcelik.

Os que tentam combatê-la devem lembrar que, “na verdade, [esse sentimento] tem a ver com a qualidade dos relacionamentos, e não com a quantidade”, diz Barsade. Um único relacionamento próximo com um colega pode fazer grande diferença.

A recente crise econômica pode ter sido um fator que fez aumentar o sentimento de solidão no local de trabalho, diz Nancy S. Molitor, coordenadora de educação pública para a Associação Americana de Psicologia e psicóloga em uma clínica particular.

Mesmo entre pessoas que mantiveram seus empregos, afirma ela, as demissões podem significar a perda de contato com alguém “que não era apenas um colega de trabalho, mas um amigo”.

Para combater o isolamento, os empregadores não precisam necessariamente organizar mais festas, diz Ozcelik. “Ser solitário no meio de uma multidão pode ser exaustivo”, afirma. “Criar mais distrações não ajudará essas pessoas.”

Auxiliar um colega ou você mesmo a sair da solidão pode envolver medidas simples, como tirar um tempo para conversar, pedir ajuda em um projeto ou fazer um convite para o almoço.

Talvez os gestores não devam se sentir tão irritados por uma pausa ruidosa para o café de vez em quando ou por uma conversa mais longa sobre o jogo ou o programa de TV da noite passada.

Esses tipos de encontro podem promover ligações que fazem as pessoas trabalhar com mais ânimo.

Mas, às vezes, a solidão pode estar embutida no tecido de uma organização. Uma atmosfera de desconfiança, suspeita e medo pode fazer com que os funcionários sintam-se estranhos entre si, descreve Wright.

Mesmo sem esses elementos, o modo como o trabalho é estruturado pode inibir ou reforçar a sensação de comunidade, diz Barsade.

Os gerentes precisam ser atenciosos para garantir que as equipes e seus componentes estejam envolvidos uns com os outros e ligados entre si”, explica ela. “Sabemos que é um mecanismo por meio do qual se realiza um bom trabalho.”

Tradução de LUIZ ROBERTO GONÇALVES

Deixe uma resposta