Jovens engravidam menos e deixam de ter 200 mil bebês ao ano

[Folha SP, 8 ago 11] É como se uma cidade média, com mais de 200 mil habitantes, deixasse de sair das barrigas das adolescentes brasileiras por ano. Algo do porte de São Carlos ou Americana (ambas no interior de SP) só de bebês chorando.

Em dez anos, caiu quase 40% o número de partos em menores de 19 anos no país. Na semana retrasada, o governo paulista divulgou dados parecidos referentes ao Estado.

O governo atribui a queda às suas ações de conscientização e distribuição de preservativos e anticoncepcionais. Um médico e um estatístico especialistas no assunto consultados pelo Folhateen, porém, apontam um fator mais importante.

“Se a adolescente não tem projetos de vida, a gravidez vira o projeto de vida”, resume Marco Aurélio Galletta, médico responsável pelo setor de gravidez na adolescência do HC (Hospital das Clínicas).

“Muita gente subiu para a classe C nos últimos anos. Essas pessoas têm uma perspectiva melhor de estudo e trabalho do que há vinte anos.”

Edson Martinez, da USP de Ribeirão Preto, lembra, contudo, que a taxa de gravidez no Brasil ainda é alta –mais de 400 mil grávidas ao ano. “Se o crescimento econômico significa apenas aumento do poder de consumo, não basta.”

Martinez e Galletta citam ainda que famílias ricas têm mais acesso ao aborto — a taxa de partos pode ser mais baixa entre eles, mas a de gravidezes nem tanto. “Adolescente é adolescente. Eles são imediatistas e um tanto irresponsáveis em qualquer classe social”, diz Galletta.

QUERO SER MAMÃE

Dados de hospitais como o HC e o Hospital Maternidade de Vila Nova Cachoeirinha (zona norte) quebram alguns mitos sobre grávidas adolescentes.

Thauany, 16, que mora na Brasilândia (periferia da zona norte) e foi atendida nesse segundo hospital, representa bem algumas características das adolescentes que têm filhos.

Como a maioria, tinha um relacionamento fixo antigo, de três anos. Os dados (veja acima) mostram que poucas gravidezes são fruto de sexo casual.

Outra imagem errada é a do parceiro canalha que some ao saber do filho. “A maioria curte, acha que reforça a masculinidade”, diz Galletta. É também o caso de Thauany. Ela conta que, no começo do ano, combinou com o “marido”: parariam com a pílula e a camisinha.

Ela está de sete meses. Mora com a mãe, o padrasto, o irmão e o namorado. Os R$ 800 que o parceiro ganha como repositor de mercado vão bancar a pequena Micaely Vitória. Thauany está feliz. Na escola onde cursa a oitava série, só paparicos. As amigas “falam que também querem, que é o sonho delas”.

“Grávida ganha status. Na escola, vira a mais experiente. Em casa, se deita no sofá e diz ter sede, aparece um copo d´água. É preciso mostrar para as meninas como um filho pode atrapalhar outros sonhos”, diz Galletta.

Deixe uma resposta