Jacó e o Deus que nos quer lutando ~ por José Roberto Prado

Em nossa caminhada de fé, seguindo as pegadas de Cristo, mais freqüentemente do que gostaríamos de admitir, as circunstâncias levantam-se contra as promessas que recebemos de Deus em sua Palavra.

Como um alpinista que segue em direção ao cume, quanto mais avançamos pra perto de Deus, mais íngreme se torna a parede à nossa frente, mais escorregadio nosso chão, mais frio e rarefeito o ar; difícil até mesmo pra respirar.

Diante desta incontestável realidade, olhamos para cima, perplexos, e paramos:

Não faz sentido!

Nesses momentos é preciso um olhar diferente, uma nova perspectiva. É hora de olharmos para a história do povo de Deus, narrada na Palavra, onde outros humanos, fracos como nós, já foram provados e venceram.

Jacó, um dos patriarcas e herói da fé, em sua caminha com Deus precisou aprender a confiar na palavra que recebera de Deus e não nas circunstâncias à sua frente. O capítulo 32 de Gênesis nos relata sua perplexidade, fraqueza, luta e vitória. Seu passado havia sido marcado pelo pecado, engano, fraude e vaidade. Mas Jacó, como eu e você, teve sua conversão (capítulo 28 de Gênesis). Fez uma aliança com Deus.

Nesta nova fase busca endireitar seu caminho, mudar de atitude, fazer o que é certo. Quer honrar a Deus, recuperar o tempo perdido. Às vezes consegue, outras vezes é vencido pelo seu “antigo eu”. Mais do que suportar a vida, matando no peito as dificuldades, nós também, como Jacó, procuramos uma forma de mudar, de deixar o passado pra trás. Queremos frutificar em nossa nova vida de fé.

Deus nos quer transformados

Percebendo a luta de seu filho e alegre por ver seu desejo de mudança, Deus decide cooperar em sua transformação. Sua ordem é clara: volte pra casa. O problema é que Jacó saíra fugido de casa há mais de vinte anos por haver mentido para seu pai e defraudado seu irmão à custa de um prato de comida. Num primeiro momento, Jacó avança em obediência. Mas logo descobre que seu irmão vem ao seu encontro com um exército de quatrocentos homens. Nesta hora, a realidade dos fatos perece zombar de sua fé. Avançar ou retroceder?

Esta mesma pergunta confronta a muitos, hoje. A volta pra casa (uma metáfora para nosso retorno para Deus) nos deixa perplexos! Uma crise financeira que parece não ter fim; o emprego que nunca aparece; uma enfermidade degenerativa sucumbe a nós ou a um querido; um filho envolvido com drogas; uma filha apaixonada pela pessoa errada; um cônjuge que morre vítima de acidente; um casamento que só nos suga, frustra e entristece. Todas estas circunstâncias se levantam contra a nossa fé e gritam na nossa face: onde está o teu Deus?

A trasformação é consequência do encontro

Jacó se encontra com Deus. Está sozinho. Fragilizado, exposto, vulnerável. Avançará para o confronto com seu irmão? Ou retrocederá, fugindo mais uma vez?

Avançar no caminho da fé é uma decisão pessoal, solitária, intransferível.

Mas é possível lutar. É preciso lutar.

Contrariamente ao que poderíamos imaginar, quando nossa fé é provada, não é contra os inimigos que devemos lutar. Nem contra nós mesmos. Tampouco é contra as forças do mal. Diante dos paradoxos da fé somos convocados a lutar com Deus.

Na verdade, Ele é que nos leva a este encontro. Ele é que prepara o terreno. Escolhe a ocasião. Define as armas. É Ele que nos quer lutando pela sua bênção, sua presença em nossa vida, sua sabedoria nas decisões, sua força pra avançarmos.

Lutar com Deus nos fortalece

Davi confessa: “Ele treina minhas mãos para a batalha” (Sl 18.34). Enquanto lutamos somos forçados a buscar. Focamos nossa vida. Perseveramos. O exercício de buscarmos a face de Deus, de recebermos respostas, de ouvirmos sua voz na Palavra, tudo isso tonifica nossa fé.

Neste exercício de busca por Deus muitas e muitas vezes somos levados a novos encontros com pessoas de Deus. Através de seu cuidado, conselho, experiência, somos abençoados. Aquilo que éramos incapazes de ver e discernir sozinhos, torna-se cristalinamente claro através das lentes experimentadas de irmãos mais maduros. As forças poucas, pequenas, agora são potencializadas pela fé e amor demosntrados a nós por nossos irmãos.

As lutas com Deus deixam marcas

Jacó luta com o anjo de Deus no vale de Jaboque. Recebe sua bênção. Tem seu nome mudado. Sua vida transformada. De quebra, leva uma lesão no quadril que o deixará manco pelo resto da vida.

Nossas lutas com Deus deixam cicatrizes. Jesus lutou, foi ferido e sangrou. Perseverou até o fim e venceu. Ganhou a luta e recebeu, como Jacó, um novo nome. Suas cicatrizes também estão lá. Expostas. Marcas de uma vida de fé e entrega.

A vida da fé é composta por lutas, encontros, transformações, cicatrizes.

Volte pra luta. Enfrente seus medos, dúvidas e pecados.

Retroceder, jamais.

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