Emergentes impulsionam lares com um só morador

Com 12 milhões de pessoas que passam a morar sozinhas a cada ano no mundo, o número de lares com um único morador (também chamados de unipessoais) já é o maior da história e tem crescido a um ritmo acelerado, impulsionado, principalmente, por países emergentes como o Brasil.

[Luís Guilherme Barrucho, BBC Brasil, 25 mai 2012] Segundo dados da consultoria americana Euromonitor, mais de 270 milhões de pessoas ao redor do globo, ou quase 4% da população mundial, moravam sozinhas em 2011, um crescimento de 27,6% na comparação com 2006 e de 77% em relação a 1996.

O produtor de cinema carioca Fábio Savino, de 26 anos, é um deles. Após passar uma temporada na França, voltou ao Brasil decidido a sair da casa dos pais. Hoje, mora em um quarto e sala na Lapa, na região central do Rio de Janeiro.

“Buscava minha independência e, hoje, tenho maior autonomia, inclusive para minha atividade profissional, que requer muita concentração e flexibilidade. É complicado ficar avisando aos pais a hora que vou sair a todo momento”, contou à BBC Brasil.

Tal fenômeno demográfico – já observado em economias consideradas mais avançadas, como Suécia e Noruega, que lideram o ranking – tem sido verificado, agora, nas nações emergentes, mas a um ritmo muito mais rápido.

Atualmente, os países em desenvolvimento respondem por quase a metade do lares unipessoais, ou 130,7 milhões de pessoas, contra 107,5 milhões em 2006, um aumento de 21,6%.

Os mesmos dados revelam que mais de 10% dos lares brasileiros já são habitados por um único ocupante, contra 25% na Rússia e 7% na China.

Em 1996, segundo a Euromonitor, essa taxa era de 8% no Brasil, 20% na Rússia e 6% na China.

Segundo Eric Klinenberg, professor de sociologia da Universidade de Nova York (NYU), nos Estados Unidos, que analisou por quase uma década o impacto do crescimento dos domicílios unipessoais nos Estados Unidos e no mundo, vários fatores explicam o fenômeno, entre os quais, o aumento da expectativa de vida, o crescimento no número de divórcios e a emancipação precoce dos jovens.

“Entretanto, nada disso seria possível sem a independência financeira. Por isso, não surpreende que países com altas taxas de crescimento econômico, como o Brasil e a China, sejam aqueles onde a população vivendo sozinha têm aumentado a um ritmo superior aos demais”, afirmou Klinenberg à BBC Brasil.

Mas o sociólogo, que cunhou um termo para identificar quem mora sozinho (“singletons”), ressalva que nem sempre a riqueza de uma economia é sinônimo de mais pessoas vivendo só.

“Países árabes, como a Arábia Saudita, por exemplo, não apresentam taxas semelhantes por razões culturais”, disse.

Impulso econômico

De maneira geral, entretanto, a prosperidade econômica explica o fenômeno. Prova disso foi que, com a crise nos Estados Unidos, caiu o número de pessoas morando sozinhas – jovens, em sua maioria, que, sem dinheiro, optaram por voltar para a casa dos pais, afirmou o sociólogo.

Ainda assim, o número de pessoas entre 18 e 34 anos vivendo só no país cresceu de 500 mil, em 1950, para 5 milhões, em 2010, um aumento de 900%.

De acordo com Klinenberg, 28% dos lares americanos são ocupados por apenas uma pessoa. No total, somam cerca de 30 milhões de pessoas, contra apenas 4 milhões (ou 10% dos domicílios) em 1950.

Solidão

A motivação principal para o aumento no número de pessoas morando sozinhas em todo o mundo, segundo Klinenberg, não está ligada ao “individualismo” ou a um mero instinto “narcisista”.

Para ele, até mesmo em sociedades onde a família tem maior representatividade, como na Itália e no Japão, a tendência já é verificada há muito tempo – e não necessariamente pelo crescimento do número de idosos, que, por sua vez, também preferem cada vez mais viver só.

“Com maior independência financeira, as pessoas também querem maior liberdade de ir e vir. Estudos mostram que quem vive sozinho está longe de ser solitário; pelo contrário, possui até mais amigos de quem está casado ou mora em um coletivo”, afirmou Klinenberg.

Uma pesquisa conduzida pela professora de sociologia Erin Cornwell, da Universidade de Cornell, entre 2000 e 2008, descobriu que pessoas com mais de 35 anos morando sozinhas seriam mais suscetíveis a ir a um evento social noturno com vizinhos e amigos do que aquelas casadas ou que viviam com seus parceiros.

“Embora viver só possa ser penoso, principalmente, para pessoas mais velhas, os benefícios são claros. Em minhas entrevistas, há, inclusive, idosos que optaram por continuar a viver sozinhos depois de ficarem viúvos para evitar conflitos familiares ou, até mesmo, aproveitar a liberdade da aposentadoria”, concluiu.

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