‘Assexuais são os novos gays’, diz especialista em celibato

O novo movimento dos sem desejo é fruto das conquistas de outras minorias, diz Elizabeth Abbott, especialista em celibato da Universidade de Toronto, no Canadá.

[Juliana Cunha, FSP, 27 mar 12] “Esse é o tema do momento. Os assexuados são os novos gays. A exemplo dos homossexuais na década de 1970, eles são vistos como doentes e sofrem punições sociais por suas escolhas”, diz.

Grupos de apoio a assexuados podem soar tão sem sentido quanto grupos dos que não curtem chocolate: não há violência contra assexuados nem barreiras para que façam o que querem -uma vez que eles não querem fazer nada.Se os celibatários se reprimem em nome de uma causa, assexuados não têm impulso sexual: “Celibato é uma atitude ‘santa’ de controle dos instintos. Já assexualidade é vista como ausência de instintos, como se a pessoa não fosse um ser humano pleno”, compara a historiadora.

Mas a categoria vê motivos para se unir: “Vivemos em uma sociedade que enaltece ideias românticas e vende sexo o tempo inteiro. A gente quer ser respeitado e não ser constrangido por não ter as mesmas motivações dos outros”, diz o estudante Ricardo Oliveira, 21, do Paraná.

Alguns buscam as redes para lidar bem com o assédio de família e amigos, que tentam empurrar pretendentes.

Já os românticos procuram parceiros que aceitem uma relação sem sexo. Como o engenheiro gaúcho Ricardo, 25. Ele conta que, quando deu o primeiro beijo, aos 14, não sentiu nada:
“Estava apaixonado, tinha expectativas altas, mas nada aconteceu”.

Hoje, assexual assumido para alguns amigos e familiares, Ricardo tem problemas para arrumar companhia. “Como acha que sua namorada ficaria se você falasse para ela: ‘Gosto muito de ti, mas não sinto vontade alguma de sexo’, estranho, não?”.

Os militantes acham que assumir sua assexualidade fará outros se sentirem melhor com a falta de libido.

No Brasil, o site assexualidade.com.br, com um fórum anônimo e sala de bate-papo, atrai 70 visitas diárias. É mantido pelo estudante Júlio Neto, 21. “Assexualidade é algo ainda estranho para o brasileiro, por conta da nossa cultura, muito sensual”, diz.

Dono de uma loja de informática em Pernambuco, ele diz não ter medo do julgamento social: “Sou o que sou, mas entendo quem não se expõe, é difícil ser apontado como esquisito”.

Julio eventualmente beija garotas: “Não posso chamar o que faço de ‘ficar’. É mais complicado, e a menina nunca entende como ‘ficar'”.

Para saber mais:

The Asexual Visibility and Education Network (AVEN)

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