Alain de Botton propõe “ateísmo 2.0” em SP

O filósofo Alain de Botton durante palestra no evento Fronteiras do Pensamento, em São Paulo – Eduardo Anizelli/Folhapress

[Folha SP, 23 nov 11] Em uma apresentação pontuada por provocações, o filósofo Alain de Botton, 41, autor de best sellers como “A Arquitetura da Felicidade” e “Como Proust Pode Mudar sua Vida”, arrancou risos e mexeu com os ânimos da plateia que quase lotou a Sala São Paulo para ouvi-lo, dentro do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento.

A palestra marcou o lançamento no Brasil de sua mais recente obra, “Religião para Ateus”. Botton iniciou sua fala apontando uma divisão básica entre os que creem e os que não creem em Deus.

O filósofo foi logo antecipando que não crê, e propôs a fundação do que chamou de um “ateísmo 2.0”. “Hoje é assim: ou você acredita em um conjunto de doutrinas e ingressa em uma comunidade religiosa, ou, com a ajuda da CNN e do Wal Mart, tenta dar conta de uma vida própria espiritualmente vazia”.

Em seguida, enumerou algumas características do culto religioso que deveriam servir de inspiração para o homem contemporâneo e defendeu sua ideia central, de que a cultura pode substituir a escritura. “Muitos ateus como eu admiram catedrais, música sacra e se interessam pelos rituais. Os ateus deveriam se apropriar do legado das religiões”.

“De um modo geral o mundo está cada vez menos religioso. Talvez fosse possível ler Montaigne e Shakespeare ao invés do Evangelho”.

Ainda propôs que as universidades passassem a se preocupar não apenas com o conteúdo acadêmico mas também em ensinar como viver melhor, atribuição tradicionalmente associada à Igreja. “As pessoas querem não apenas aulas, mas também sermões, e as universidades deveriam pensar nisso”.

Também mencionou os rituais religiosos associados ao bem estar físico e emocional como os banhos de purificação ou a cerimônia do chá. E acrescentou: “Nossa mente é uma peneira. Hoje você ouve esta palestra e no final de semana já esqueceu. Uma das características da religião é a repetição, que trata de lembrá-lo sempre do que leu e ouviu”. Bottom enalteceu o calendário religioso em contraponto ao tempo desestruturado do homem contemporâneo.

E atacou o conceito da arte pela arte. “Hoje você vai a um museu de arte contemporânea e sai com a sensação de que não entendeu nada”. De acordo com Bottom, a abordagem das religiões é mais objetiva, e mostra que a arte serve para lembrar o que deveríamos amar e o que deveríamos temer.

Por fim, comparou as religiões às empresas multinacionais que prezam pela fixação de suas marcas nas cabeças dos consumidores.

Resumidamente, Bottom apontou a criação de comunidades laicas inspiradas nas instituições religiosas como solução para a doença moderna da solidão.

“Há um perigo real hoje que não é a ausência, e sim o excesso de liberdade. Precisamos abrir mão de parte dela por algo que pode ser bom para nós. É preciso criar um sistema de moralidade fora da religião”.

Criticou o Facebook e redes sociais: “As pessoas se juntam com base no que gostam em comum. Mas o verdadeiro propósito deveria ser o de juntar as pessoas que não se gostam”.

E assim encerrou sua palestra de 40 minutos. A seguir, respondeu perguntas da plateia e da mediadora Fernanda Mena, editora da Ilustrada. E mencionou que pretende abrir no Brasil, no ano que vem, uma filial de sua Escola da Vida –instituição fundada por ele em Londres, e que já recebeu mais de 40 mil alunos para cursos e palestras. “Assim como aprendemos a dirigir um carro ou fazer a declaração do imposto de renda, é preciso que nos ensinem como viver, e esta é a missão da escola”.

 

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