A Igreja e a Cidade ~ por José Roberto Prado

Vivemos num mundo cada vez mais dividido pela ideologia, religião e o mercado.

A sociedade brasileira fragmenta-se aceleradamente pela corrupção, desigualdade e violência.

Grande parte de nossas lideranças políticas, judiciárias e religiosas, de onde se esperaria vir esperança, reproduzem apenas sombras, morte e dor.

Tudo isso faz nascer uma sede crescente por respostas e propostas dignas de serem vividas e que sejam capazes de transformar não somente indivíduos, mas também sistemas e estruturas corrompidas pelo pecado.

O maior patrimônio de uma cidade é seu povo e cultura. Esta riqueza delineia sua identidade, tornando-a única no cenário nacional e também diante de Deus.

Deus ama cada pessoa, família, comunidade e cultura. É seu plano que o maior número possível de pessoas e comunidades compreenda seu amor e sejam transformadas por ele.

Nossas cidades são complexas, é verdade, mas não precisam ser injustas e violentas.

Nossas instituições estão à beira da falência, mas este processo não é irreversível, nem nossas famílias e comunidades são irrecuperáveis.

Em Cristo e em seu Evangelho encontramos a possibilidade real de reconciliação e restauração de TODAS as coisas e pessoas, mesmo as mais corrompidas.

A “paz do Senhor” é muito mais que uma saudação ou sentimento, é uma realidade concreta conquistada pela vitória de Cristo sobre a morte e o pecado, liberando a vida de Cristo em sua igreja.

Esta paz, portanto, não pode ser contida na igreja ou pela igreja. Ela deve fluir para a cidade, inundando relacionamentos com graça, alegria, perdão, fertilizando estruturas e sistemas com a ética e a justiça, arrancando as raízes destrutivas da inveja, da ganância e do egoísmo que produzem todo tipo de ódio, preconceito, exploração e corrupção.

A igreja é a comunidade local de fé, onde discípulos do Senhor Jesus se reúnem com o propósito de encontrá-lo e servi-lo.

Na medida em que o adoramos somos capacitados a encontrar o outro (nosso próximo). É neste ambiente fraterno e acolhedor de adoração ao Jesus Vivo que nos aceita, perdoa e restaura, que celebramos nossa nova vida com temor e alegria.

Mas igreja também é a comunidade daqueles que foram enviados. Aqueles que foram restaurados, saem para restaurar. Os mesmos que foram perdoados, saem agora para liberar perdão.

A igreja, por sua beleza, atrai as pessoas naturalmente. E sua beleza é fruto de sua saúde.

A matriz desta vida saudável são seus líderes – homens e mulheres cheios do Espírito Santo e de fé, que por sua integridade e desprendimento pastoreiam em amor, sendo assim “modelos” que se multiplicam nas vidas daqueles que dia-a-dia, semana após semana, vão chegando.

A igreja é um paradoxo.

Ela não é “deste mundo”, mas pertence à sua terra, sua cultura e tem o cheiro de sua gente. Seus cânticos, estilo de liderança, programas de ministério e tudo mais são autóctones, ou seja, são próprios de seu povo.

A vida que experimenta e propõe é sobrenatural, pois só é possível mediante a intervenção divina. É a vida de Deus florescendo em meio de seu povo, em solo local.

Sendo a comunidade onde os valores do Reino são visíveis e vividos, ela se preocupa, intercede e busca aqueles que estão distantes da graça, sejam seus vizinhos ou povos distantes. Ela tem ministérios transformadores que agem com eficácia nas áreas de sua cidade mais afetadas pelo pecado, injustiça e corrupção. Ela atua com compaixão.

Por isso, é referencial na cidade.

Deus se importa, faz o diagnóstico e prescreve a solução para os problemas da nossa cidade.

Elas podem ser um lugar de paz, onde a justiça, a fraternidade e a alegria genuína são acessíveis a todos.

Basta que nossas igrejas sejam tudo o que Deus planejou que fossem.

Basta que eu e você vivamos como Ele nos ensinou!

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