Meu Brasil, Tua Igreja ~ por José Roberto Prado

Segundo dados do IBGE, na década de noventa a igreja brasileira cresceu a um ritmo quatro vezes superior ao crescimento da população. Este crescimento numérico, ainda que exponencial, sozinho, não produz igrejas fortes (maduras), e por isso também não resulta “naturalmente” numa nação transformada pelo Evangelho.

Para tristeza daqueles que se deixam mover pela aparente força da multidão, ao olharmos abaixo da superfície veremos que boa parcela deste crescimento não é fruto de um processo sadio (o aprofundamento dos padrões bíblicos) e também não é experimentado por todas as linhas que compõe o que se chama de “igreja evangélica brasileira” hoje. Pelo contrário, existem muitas igrejas encolhendo.

Na ponta onde ocorre o fenomenal crescimento estão grupos que abertamente diluíram e deturparam a mensagem da Cruz, transformando-a num produto de mercado, seja por práticas sincréticas ou pelo apelo à emoção, buscando num primeiro momento o grande auditório, mas nutrindo, no fundo, o sonho de poder político.

Na outra ponta, sinceros e conformados guardiões da “sã doutrina” despendem a maior parte de sua energia na manutenção de suas máquinas eclesiásticas em discussões intestinas e anacrônicas. Estas comunidades, apesar de menores, funcionam também sob o modelo de “auditório”: gente que entra e sai, domingo após domingo…

Temos então em ambos os grupos, por diferentes causas, uma acomodação da mensagem da Cruz. O Reino de Deus, presente e central na mensagem de Cristo, tornou-se um apêndice distante e desconhecido. Dando “um jeitinho” no pecado (quase não falamos mais dele, a não ser o financeiro e o sexual), barateamos a graça e confinamos o discipulado ao campo intelectual e ao pagamento de uma taxa mensal. Numa palavra, contentamo-nos com a mediocridade.

A boa notícia é que a mensagem que proclamamos e o Cristo que professamos têm vida em si mesmos e não se deixam conter por nossa pequenez. O Evangelho é a mensagem do amor radical de Deus para reconciliar consigo o ser humano e o cosmos. A Cruz é seu instrumento libertador, a graça sua força motriz, o discipulado (viver a vida de Cristo) é seu molde.

Graças a este poder podemos ver entre estes dois extremos – os que crescem por diluir e os que encolhem querer preservar – muitas comunidades que crescem saudáveis, sendo referencial e portadoras de boas notícias para muitos que estão buscando a verdade.

Estas igrejas são comunidades da cruz, da graça, da Palavra e da reconciliação. São lugar de cura e libertação, de preparo para o serviço ao próximo e de adoração (serviço ao Senhor), de intercessão e compaixão. É onde os valores do Reino são moldados na vida dos discípulos, e estes, nutridos pela Palavra viva e pela comunhão.

Esta Igreja é o lugar seguro da criança e do idoso, do pobre discriminado e do rico inseguro, onde se compartilha o pão e o vinho, o riso e a dor. É o lugar onde “família” tem um sentido mais amplo, pois todos entendem-se irmãos.

Nenhum de nós, que conhecemos a Verdade, temos o direito de privar quem quer que seja, da oportunidade de experimentar a vida plena nesta comunidade. Não podemos privá-la de nossos filhos e tampouco daqueles que estão longe. Não podemos sequer privar a nós mesmos de vivê-la, pois fomos feitos para ela.

Estas comunidades fortes e cativantes por natureza, aglutinam e transformam quem entra em seu raio de alcance, causando um impacto saudável, um “choque da graça de Deus” na sociedade à sua volta.

Este choque ocorrerá sempre e na medida em que estas comunidades de fé sejam acessíveis a cada grupo humano de sua cidade, exercitando a plenitude de sua vocação em atos de compaixão e presença profética. Isso demanda líderes com coração de servo e visão de Reino, que guiem o povo à maturidade, à unidade e à missão, num processo intencional que gera novas igrejas e atos concretos de missão integral.

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