Era uma vez um Junípero
- José Prado
- há 3 dias
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Tiago, líder da igreja em Jerusalém nos primeiros anos de vida da igreja, escrevendo a irmãos que estavam sofrendo perseguição por causa de sua fé em Cristo, ressalta o valor da intercessão uns pelos outros (5.13-15), e lembra-se do exemplo do profeta Elias, que teve grande êxito na sua vida de oração, sendo um ser humano comum como nós (5.17).
Para alguns, esta afirmação é difícil de ser aceita e compreendida. Eu os entendo. Como identificar-se com um profeta que confrontou um rei, ressuscitou um jovem, orou para que não chovesse e não choveu, orou para que chovesse e choveu, orou pra que viesse fogo do céu e veio... E de quebra, não experimentou a morte, sendo arrebatado para Deus num carro de fogo? (veja a história de Elias em 1Reis 17-21; 2Reis 1,2)
Mas existe outra face de Elias. O Elias que se sente sozinho, que foge para o deserto, senta-se debaixo de uma árvore nativa chamada Junípero e pede para “ser promovido”, para morrer mesmo! Sim, eu consigo me identificar com Elias. Aqueles que não entendem o que Tiago estava falando, o fazem por não conjugarem estas duas faces do profeta. Mais ainda, talvez achem difícil aceitar que Deus usa vasos rachados, quebrados mesmo -- inclusive que às vezes vazam -- somente para demonstrar sua glória e poder. Mas é assim mesmo que Deus age.
O fato de Elias ter sido usado da maneira extraordinária como foi, ou reagir depressivamente, não o torna mais ou menos espiritual. Isto o torna mais humano. É isto que Tiago quer nos ensinar: Deus usa pessoas comuns que ousam crer nele. Através destas, faz coisas extraordinárias.
Seguindo a pista de Tiago, ao meditar na vida de Elias encontrei lições preciosas para inspirar nossa intercessão. Estas se aplicam a mim e a você, mas creio sejam úteis particularmente para orar por aqueles ao nosso lado que estão sofrendo. “Profetas” de Deus que podem estar agora mesmo debaixo de um Junípero em algum lugar da nossa cidade, quem sabe ao nosso lado mesmo. Acompanhe meu raciocínio:
Elias fora fiel em sua responsabilidade como alguém escolhido por Deus. Viveu sua missão intensamente. Foram anos de solidão, de sustento “pela fé” (corvos, uma pobre viúva estrangeira), confronto com reis e falsos profetas, etc. Sim, muitos de nós nos identificamos com o Elias que vive 100% sua missão, na contramão de sua geração, de seus amigos, colegas de trabalho e até mesmo familiares.
Acontece que mesmo os 100% de Elias - e os nossos - às vezes, não bastam para assegurar as vitórias que almejamos! Deus pode ter outros planos... Com todos nossos esforços, vitórias e milagres de Deus em nossa vida, é possível que ainda nos reste alguma “Jezabel” (rainha obstinada e cruel) a ser vencida.
Eu me identifico com Elias. Ele esperava uma vitória total. E aí, no ápice de sua vocação, rachou!
Quebrou mesmo; entrou em depressão espiritual. Foi para o deserto não tanto pelo medo da rainha má, mas para “jogar a toalha”, pra abandonar a arena da missão, pra desistir de tudo. Talvez, como nós, ao deparar-nos com nossas “jezabéis”, Elias tenha se perguntado: afinal de contas, o que fiz de errado? Por que será que Deus não me concede a vitória?
Eu entendo Elias. Posso imaginá-lo sentado debaixo daquele Junípero com o gosto amargo do fracasso na boca, o aperto no peito, o desalento de ter toda sua força drenada em um projeto que, apesar da extraordinária vitória no Carmelo, não fora suficiente para convencer Jezabel. E ela, pra piorar a autoestima do profeta, pragueja, manda-lhe um mensageiro jurando vingança e morte.
É este mensageiro de Jezabel (o inimigo de nossas vidas) que revela a Elias (e a nós) a fraqueza e a fragilidade de todos nossos melhores esforços, sonhos e planos. Ele expõe nossa humanidade, o barro do qual somos formados. Acusa-nos, humilha-nos, zomba de nós fazendo-nos ver as rachaduras do vaso. Mensageiros como este relembram-nos do óbvio, insistente, cruel e inexorável conflito espiritual que estamos inseridos. A vida não é justa, e muito menos cor-de-rosa.
Mas acima de tudo, o mensageiro de Jezabel revela que Deus tem planos diferentes dos nossos. Deus age de maneira própria, autônoma, com uma lógica que nos confunde. Deus está muito mais interessado em fazer-nos “santos dependentes” do que “bem-sucedidos auto-suficientes”. E esta lição é difícil de ser aprendida, seja por este José aqui, ou até mesmo para um profeta como Elias.
Mas, se Jezabel tem seu mensageiro, Deus também tem os seus, Aleluia!!! É o mensageiro de Deus (anjo) que encontra o profeta em toda sua dor e fracasso, bem ali, debaixo do Junípero, no deserto, e lhe traz alimento, consolo e direção. Sim, você pode estar debaixo de um Junípero, aqui mesmo em João Pessoa, mas pode ter certeza de que o Senhor ouve a sua prece e também enviará seu mensageiro. Somente aguarde e prepare-se para ouvir a sua voz!
Junto com você aí debaixo do Junípero estão muitos irmãos, amigos, gente que você conhece e também gente que você nem imagina a dor. Alguns estão calados, fracos, desesperançados demais para se mover. Gente que precisa ser lembrada em intercessão, visitada, tocada, abraçada, enfim, ministrada por você, assim como foi Elias pelo anjo de Deus.
O nascimento de nosso Senhor Jesus foi marcado pela visita do anjo que trouxe esperança a um povo que vivia em densas trevas de sofrimento. Hoje, ao seu aqui em João Pessoa, no seu prédio, na sua classe na faculdade, etc., existem milhares de pessoas que aguardam por ouvir uma palavra de esperança: “Não tenham medo! Estou trazendo boas notícias de grande alegria...” (Lc. 2:10).
Coloque sua vida nas mãos de Deus. Coloque seus joelhos a serviço do Reino de Deus e da construção de uma comunidade de amor e solidariedade aqui na IBT. Interceda por alguém que sofre ao seu lado. Não fique de boca fechada, não se esconda na sua dor. Saia debaixo do seu Junípero e seja luz para quem está em escuridão!
Tenho fé neste projeto de Deus chamado igreja, particularmente IBT. Sei que Deus agirá e mais ainda, sei como agirá! Baseado em sua Palavra posso lhe dizer que Ele decidiu agir em resposta ao clamor de seu povo! Se você conhece a história de Elias concordará comigo que Deus enviou o anjo a Elias em resposta às orações dos cem profetas preservados por Obadias e também das sete mil pessoas que não dobraram seus joelhos a Baal. Eles foram os “irmãos na fé” que abençoaram Elias.
É por isto que lhe escrevo e encorajo a orar por alguém, mesmo estando debaixo do seu Junípero. Creio que Deus agirá em resposta à sua oração. Tiago também concordaria comigo; Ele disse: “a oração de um justo é poderosa e eficaz”! (Tg 5.16).


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