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Drummond e a “re-significação” de Deus na poesia

Recursividade marca a relação e encontro entre Teologia e Poesia, dando novos significados ao mundo, menciona Alex Villas Boas. Drummond tornou-se agnóstico, e enxergava a transcendência na imanência.

[Patricia Fachin e Marcia Junges; IHU Online, 29 ago 11] Para Carlos Drummond de Andrade, a transcendência só poderia existir na imanência, “como salto qualitativo do existir diante da ‘pedra’ da impossibilidade. Aqui talvez seja o ponto mais próximo da poesia com a mística, de encontrar um Mistério em todas as coisas e que oferece sentido a todas elas”. A declaração é do teólogo Alex Villas Boas, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line, ao refletir acerca de sua obra Teologia e Poesia – A busca de sentido em meio às paixões em Carlos Drummond de Andrade como possibilidade de um pensamento poético teológico (Sorocaba: Crearte Editora / São Paulo: Loyola, 2011). Expulso do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, por “insubordinação mental”, uma vez que escrevia suas poesias nas aulas de ensino religioso, Drummond jamais escondeu a decepção pela injustiça a que fora submetido. Em 1941, afirma em uma entrevista: “Perdi a Fé. Perdi tempo. Sobretudo, perdi a confiança na justiça dos que me julgavam”. Conforme Villas Boas, a partir da obra drummondiana, pode-se dizer que “poesia é uma expressão externa do processo interno da reinvenção de si mesmo. Re-significar Deus é próprio da poesia humana. Re-significar a vida é próprio da poesia de Deus. Re-significar o mundo é próprio do encontro dessas duas poéticas”. Contudo, alerta: “Drummond não quis recriar a imagem de Deus; preferiu morrer como agnóstico dizendo que isso era tarefa para os teólogos, mas antecipa o trabalho destes em muito com sua poesia mística do cotidiano em nos poetar quem Deus não é”. E que não se busque na claridade a resposta enigmática da vida. As pedras, pondera Villas Boas, são inerentes à vida, presentes “em estruturas rígidas da sociedade, camufladas de tal modo que o acento da culpa não é dado pelo fato de a pedra estar no caminho, mas recai exclusivamente sobre o indivíduo a responsabilidade de ter topado com ela”.

Graduado em teologia pelo Instituto Superior de Teologia João Paulo II e pela Universidade Presbiteriana Machenzie, Alex Villas Boas é mestre em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção com a dissertação O sentido da vida na trajetória poética de Carlos Drummond de Andrade – reflexão teológica a partir da antropologia contida na obra drummondiana. Atualmente cursa doutorado em Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio e leciona em algumas instituições, como o Instituto de Teologia João Paulo II, o Centro Universitário Assunção – Unifai/Brasil e a Escola Dominicana de Teologia, EDT.

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