A Arena da Batalha Espiritual ~ por José Roberto Prado

Os estrategistas militares são unânimes ao afirmar que ignorar ou menosprezar o inimigo é caminhar para a derrota no campo de batalha.

Por outro lado, sobrevalorizar a força do adversário torna o lutador derrotado antes mesmo de iniciar o combate.

Ambos os perigos rondam a igreja em nossa geração.

A Palavra de Deus e o Espírito Santo nos orientam a não cairmos nestes erros. É na obediência à Palavra de Cristo e na dependência do Espírito Santo em oração que o discípulo encontra o poder para uma vida de vitória sobre as forças do mal.

A arena da batalha é sua própria mente e coração.

Deus nos fez para desfrutarmos de sua glória. Sua glória é seu amor insondável e eterno, em especial por nós seres humanos, criados singularmente à sua imagem e semelhança, aptos para corresponder ao seu amor, à sua glória. O bem mais precioso do universo então é o coração humano, pois somente ele é habilitado para reconhecer os atributos, a personalidade e o caráter de Deus.

A batalha espiritual antecede a criação do ser humano. Ela inicia-se no intervalo entre os dois primeiros versos de Gênesis. A criação original, céus e terra, era perfeita (Gn 1.1). Sobre cada aspecto da criação, sejam astros, oceanos ou porções de terra, Deus colocou anjos poderosos (principados e potestades) como seus representantes legais (Ef 6.12). Sobre estes, como um governador geral, um príncipe regente, Deus colocou um anjo de alto escalão chamado Lúcifer (Ez 28). Quando deu lugar em seu coração à inveja e desejou receber a adoração devida somente a Deus, tornou-se homicida (Jo 8.44). Sua rebelião espalhou-se por todo Cosmo, achando lugar no coração de outros anjos, arrastando um terço dos seres celestiais (Ap 12.4) Como castigo, foram expulsos da presença de Deus e lançados à terra. Em retaliação a Deus e como demonstração de força, como nos diz Moisés, “a terra tornou-se sem forma e vazia, e trevas cobriram a face do abismo” (Gn 1.2a).

Deus está sempre pronto a recomeçar e não desiste de sua criação. Apesar do caos generalizado, seu Espírito se move sobre a face das águas (Gn 1.2b). É assim que decide vencer o inimigo em seu próprio terreno. Pela força de sua Palavra poderosa, o próprio Cristo (Jo 1.1-5), Deus “re-cria” todas as coisas em seis dias. Do pó da terra restaurada novamente, Deus faz o ser humano (Gn 2.7).

Os anjos rebeldes que seguiram Lúcifer em sua apostasia recebem vários nomes na Escritura: principados, potestades, demônios, espíritos malignos, etc. Longe de Deus, tornaram-se personalidades distorcidas, malignas, enfermas, somente satisfeitos se e quando capazes de desviar a adoração à Deus, ou impedir seus planos, ou destruir suas obras: o ser humano e a natureza.

Desta forma, quando o Senhor cria o ser humano, Satanás já está à espreita a fim de conseguir seu intento básico. Deus adverte Adão do perigo quando estabelece como sua responsabilidade básica “proteger” o jardim (Gn 2.15). A Serpente, então, através do engano, inocula no coração do primeiro casal o veneno da inveja, e este dá a luz ao pecado: preferiram ouvi-la (prostraram-se diante da possibilidade de serem iguais a Deus) do que confiar no amor do Criador. Neste ato de rebeldia, os seres humanos e seu mundo recém-reconstruído ficam sujeitos à maldição por causa da desobediência.

Mas Deus anuncia a redenção de toda a criação ali mesmo, quando diz à Serpente: “porei inimizade entre a sua descendência e o descendente da mulher (Messias); este lhe ferirá na cabeça, e tu lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3.15). O início da vitória é visto quando, através de sua encarnação, Jesus, o filho amado de Deus, cura enfermos, ressuscita mortos, liberta oprimidos por espíritos malignos e até mesmo ordena a natureza. Sua mensagem é clara “arrependam-se (raça de víboras, descendentes da serpente), pois o Reino de Deus está próximo” (Mt 4.17). Aquele que é mais forte do que o valente chegou para amarrá-lo, saquear sua casa e levar os seus bens (Lc 11.21).

Mas não foi sem luta que Jesus Cristo, o segundo Adão, venceu. Ele foi confrontado várias vezes com a mesma questão básica: amar e obedecer a Deus, caminhando para cruz a fim de resgatar a Criação do cativeiro satânico, ou buscar o atalho proposto pela Serpente: “tudo te darei se prostrado me adorares” (Mt 4.9). Jesus negou-se a seguir o caminho de Adão, deu as costas ao Inimigo e venceu a tentação, reconciliando por seu sangue “todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão no céu” (Cl 1.20). Com sua morte na Cruz, pagou o castigo da desobediência e expôs publicamente o inimigo e seus anjos à derrota (Cl 2.15). A punição do pecado foi paga, e o sacrifício de Cristo, o Justo, na cruz salva a todos os que pela fé se apossarem de sua morte vicária, substitutiva (Jo 3.18).

Sua ressurreição assegura-lhe todo o poder no universo, pois recebeu um nome que é acima de todo nome (Fl 2.9). Ele afirma aos discípulos: “toda autoridade me foi dada nos céus e na terra”! (Mt 28.18). No Pentecostes (At 2), derrama seu Espírito no coração de todos aqueles que crêem, conferindo o poder para que todo discípulo vença o inimigo como Ele venceu, sendo suas testemunhas por todas as nações, dando seqüência ao seu projeto restaurador: o Reino de Deus.

A igreja, portanto, é a comunidade que vive e anuncia o Reino, que enfrenta o inimigo no seu terreno (a cidade), que o vence pelo sangue do cordeiro e pela palavra de seu testemunho (Ap 12.11), até que todos os seus inimigos (anjos caídos e pessoas rebeldes que não reconhecem seu Senhorio) sejam colocados debaixo de seus pés (Lc 20.42). Ele nos envia como ovelhas no meio de lobos (Mt 10.16), mas nos encoraja a ter confiança, bom ânimo, pois nosso Senhor Jesus venceu o mundo (Jo 16.33). Ao seguirmos seus passos, andando pela fé, como Ele andou, teremos vitória (1Jo 5.4).

Nosso Senhor voltará em breve, em poder e grande glória, com todos os seus anjos dos céus (Mt 25.31), assim que o evangelho for anunciado pela igreja a todas as nações (Mt 24.14). Todos os seus opositores, sejam principados e potestades rebeldes, anjos malignos e seu comandante supremo, o príncipe deste mundo, serão definitivamente julgados e destruídos (Ap 20.10).

Assim, a arena da batalha espiritual é o coração humano. O inimigo não admitiu sua derrota. Sabe porém que seu fim está próximo, mas continua rebelde. Está, porém, amarrado (Ap 20.1-3). As portas do inferno e as forças do mal não podem resistir ao avanço da igreja (Mt 16.18). Quem será Senhor de nossa cidade e quem será honrado nos corações humanos? Deus e o Diabo sabem que é impossível dividir esta devoção: A adoração do coração humano é exclusiva. “Ame ao Senhor de todo seu coração, de toda a sua alma e com todas as suas forças”: aqui está a vitória sobre o mal. “Ame ao teu próximo como a ti mesmo”, aqui está a vitória da igreja sobre um mundo caído.

A Igreja deve se levantar em cada localidade para servir e adorar ao Senhor Jesus. Somos um sinal visível do Reino de Deus, um farol em meio à escuridão, anunciando salvação, perdão e reconciliação através do sangue derramado no Calvário. Pelo poder de Deus que repousa sobre nós por seu Santo Espírito, anunciamos a verdade, desmascaramos todo engano, destruímos fortalezas e todo pensamento que se levanta contra a graça de Deus (2Co 10.4,5). Pelo poder do Espírito Santo, libertamos, curamos, e avançamos pelas casas, pelos bairros, pelas cidades do sertão e do mundo, onde quer que o Senhor nos envie, testemunhando que Ele é Senhor.

Dele é nosso coração!

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