Vice-ministro sírio deixa governo Assad e se junta aos rebeldes

É a primeira grande perda política do regime desde o início das revoltas, há um ano.

[O Globo, 8 mar 12] DAMASCO — O vice-ministro do Petróleo sírio, Abdo Hussameddin, renunciou na quarta-feira à noite através de um vídeo publicado no You Tube e anunciou sua união ao movimento rebelde contra o regime do presidente Bashar al-Assad. Hussameddin é o político mais importante a abandonar o governo de Damasco até agora.

— Me junto à revolução das pessoas que rejeitam a injustiça e a campanha brutal do regime, que está tentando calar a demanda popular por liberdade e dignidade — disse o agora ex-vice-ministro.

Ao contrário do que aconteceu na Líbia, até agora poucos funcionários do governo abandonaram seus cargos na Síria. Um ano após os protestos eclodirem na cidade de Deraa e se espalharem pelo país, o regime continua a mostrar sua solidez. Mesmo as deserções de militares não chegam a assustar Damasco. Hussameddin disse que participou do governo por 33 anos, mas não queria terminar sua carreira “servindo um regime criminoso”. O político, de 58 anos, assumiu o cargo de vice-ministro em 2009:

— Por isso me uni ao caminho correto, mesmo sabendo que este regime vai queimar minha casa, perseguir a minha família e inventar mentiras sobre mim.

O chefe do Conselho Nacional da Síria (CNS), Burhan Ghaliun, desejou boas-vindas a Hussameddin e fez um apelo para que outros membros do governo sigam o exemplo do vice-ministro do Petróleo. A renúncia de Hussameddin foi coordenada por ativistas. Em entrevista à AFP, uma dissidente pediu que os meios de comunicação não divulguem o local da gravação por motivos de segurança.

George Jabbour, que era conselheiro do pai de Assad, o ex-presidente Hafez al-Assad, disse à rede de TV árabe al-Jazeera que a renúncia de Hussameddin era um “fenômeno de menor importância”. Jabbour explicou que há pelo menos 100 vice-ministros no regime sírio e que Hussameddin não era conhecido.

Próximo ou não do fim do regime, a revolta popular parece ser irreversível. Segundo a ONU, cerca de 8 mil pessoas já morreram no levante. Na quarta-feira, a chefe humanitária da ONU, Valerie Amos, visitou o bairro de Baba Amro, em Homs. Valerie descreveu o reduto rebelde como “completamente devastado” pelos bombardeios das forças do presidente Assad e praticamente desabitado. Em entrevista nesta quinta-feira, a chefe humanitária se disse “horrorizada” durante a visita a Baba Amro.

Nesta manhã, a ONU anunciou uma ajuda alimentar para 1,5 milhão de sírios como parte de um plano de 90 dias para ajudar os civis afetados pelo conflito no país. No Cairo, Kofi Annan, enviado especial da organização para a Síria, fez um novo alerta sobre o perigo de armar a oposição e de uma possível intervenção militar.

— Espero que ninguém esteja de fato considerando usar da força nesta situação. Acredito que qualquer militarização vai tornar a situação ainda pior — disse o ex-secretário-geral da ONU.

Enquanto isso, os relatos de violência continuam vindo da Síria. Segundo ativistas, agentes de segurança atiraram contra manifestantes durante o funeral de um ativista em Damasco. Três pessoas ficaram feridas.

Matéria publicada originalmente aqui.

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