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“Prioridade” para quem? Qual Evangelho? ~ Vinoth Ramachandra

[Texto publicado no Novos Diálogos, 29 nov 2010]

Contaram-me que no recente Congresso de Lausanne na Cidade do Cabo um pregador e autor americano popular afirmou veementemente que a evangelização, entendida como a proclamação verbal do Evangelho, era a “prioridade” da Igreja. Como esta é uma reação típica, instintiva, que a conversa sobre a justiça social ou a “missão integral” provoca em círculos evangélicos conservadores, é importante explorar quem está dizendo este tipo de coisa e se eles na verdade praticam o que estão dizendo.

Se as prioridades de uma pessoa são medidas pelo tempo que ele ou ela gasta no que faz, estou certo que qualquer um que observe a vida cotidiana deste pregador não concluiria que a evangelização fosse sua prioridade. Ele gastou considerável tempo e dinheiro numa longa e cara aquisição de educação. Se ele tem filhos, estou seguro que tem, da mesma maneira, investido significativamente na sua alimentação e em lhes assegurar a melhor educação possível. Não tenho dúvida de que ele come, pelo menos, três refeições ao dia e desfruta, ao menos, seis horas de sono por noite. Ele tem assistência médica e acesso à melhor atenção médica na nação mais rica no mundo. Possuindo um passaporte americano, ele pode voar livremente para (quase) qualquer lugar do mundo, sem precisar esperar em filas do lado de fora de embaixadas para conseguir vistos. Em outras palavras, seu estilo de vida privilegiado não se dá conta de muita coisa. Esse estilo de vida foi possibilitado pelo trabalho e sacrifício de tantos desconhecidos em muitas partes do mundo. E está distante da realidade experimentada pela maioria de seus irmãos que estavam presentes na Cidade do Cabo. Continue lendo

A benção do desconforto

Hoje, nos meus estudos, deparei-me com uma oração franciscana, uma ‘benção’, publicada no Blog do Michael Hyatt, em Inglês. Pesquisando mais, percebi que foi publicada em Português num livro do Phillip Yancey e também traduzida pelo Valdir Steuernaguel.

Respeitando as traduções, tomei a liberdade de fazer uma mais enxuta e, talvez por isso, mais radical. Gostei tanto que decidi compartilhá-la com vocês, fazendo a mesma advertência feita pelo Hyatt: esta benção é completamente contracultural à espiritualidade do ‘bem estar e prosperidade’ tão popular em nossos dias. Vai encarar? Continue lendo

O futuro do movimento de Lausanne ~ René Padilla

Os números relacionados com o Terceiro Congresso Internacional de Evangelização Mundial — que aconteceu na Cidade do Cabo, África do Sul, de 17 a 24 de outubro, sob o tema “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19) — são impressionantes. Estiveram presentes mais de 4 mil participantes de 198 países. Além disso, houve cerca de 650 sites de Internet conectados com o Congresso em 91 países e 100 mil “visitas” de 185 países. Isto significa que milhares de pessoas de todo o mundo puderam assistir às sessões por meio da Internet. Doug Birdsall, o presidente executivo do Movimento de Lausanne, provavelmente tem razão em afirmar que Cidade do Cabo 2010 foi “a assembleia evangélica global mais representativa da história”. Sem dúvida, este resultado foi alcançado, em grande medida, por meio de seu longo esforço.

Igualmente impressionantes foram os muitos arranjos práticos que se fizeram antes do Congresso. Além do difícil processo de seleção dos oradores para as plenárias e para os “multiplexes” (seminários) e as sessões de diálogo, dos tradutores e dos participantes de cada país representado, havia duas tarefas que devem ter envolvido muito trabalho antes do Congresso: a Conversa Global de Lausanne, para possibilitar que muita gente ao redor do mundo fizesse seus comentários e interagisse com outros, aproveitando os avanços tecnológicos contemporâneos; e a redação da primeira parte (a teológica) do Compromisso da Cidade do Cabo, redigida pelo Grupo de Trabalho Teológico de Lausanne, sob a direção de Christopher Wright. Continue lendo

Meu Brasil, Tua Igreja ~ por José Roberto Prado

Segundo dados do IBGE, na década de noventa a igreja brasileira cresceu a um ritmo quatro vezes superior ao crescimento da população. Este crescimento numérico, ainda que exponencial, sozinho, não produz igrejas fortes (maduras), e por isso também não resulta “naturalmente” numa nação transformada pelo Evangelho.

Para tristeza daqueles que se deixam mover pela aparente força da multidão, ao olharmos abaixo da superfície veremos que boa parcela deste crescimento não é fruto de um processo sadio (o aprofundamento dos padrões bíblicos) e também não é experimentado por todas as linhas que compõe o que se chama de “igreja evangélica brasileira” hoje. Pelo contrário, existem muitas igrejas encolhendo.

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