Arquivo da tag: África

Crianças do Congo, país mais subnutrido da África, se alimentam dia sim, dia não

“Se hoje nós comemos, amanhã beberemos chá”, disse Dieudonne Nsala, pai de cinco filhos que ganha US$ 60 por mês…

[Adam Nossiter, NYT/UOL, 9 jan 12] Os Berbok estão praticando um ritual familiar de Kinshasa quase tão comum aqui quanto os telhados de metal e as ruas poeirentas: o “corte de energia”, como os moradores da capital, com quase 10 milhões de habitantes, o batizaram. Em alguns dias, algumas crianças comem, outras não. Em outros dias, todas as crianças comem, e os adultos não. Ou vice-versa.

O termo “corte de energia” – em francês, delestage – é para evocar outra rotina desagradável da vida da cidade: os blecautes rotativos que atingem primeiro um bairro depois o outro. Continue lendo

O Banco Mundial no comando da invasão de terras

Enquanto as imagens da fome na África rodam o mundo, poucos sabem que esse problema está ligado a investimentos na compra de terras. Com isso, a Etiópia cede milhões de hectares para transnacionais que substituem a agricultura de subsistência pela exportação. Em nome do livre mercado, o BM encoraja esse movimento.

[Benoît Falaise, Le Monde Diplomatique, 2 set 2011] Três anos após a crise alimentar de 2008, a questão da fome ressurge no Chifre da África. Entre as causas do flagelo estão os investimentos fundiários de grande escala, que buscam estabelecer culturas alimentícias e energéticas onde houver terra arável disponível. Sua amplitude é inédita. São 45 milhões de hectares – o equivalente a cerca de dez vezes a média dos anos anteriores – que teriam mudado de mãos em 2009.1 Na verdade, é difícil distinguir os investimentos em vista daqueles decididos ou mais ou menos executados, tamanha a má vontade das empresas e dos Estados em entregar seus números. Mesmo o Banco Mundial afirma que teve enormes dificuldades para obter informações confiáveis, a ponto de ter tido de se basear, para redigir seu relatório sobre o assunto, publicado em setembro de 2010,2 nos dados – muito alarmantes – divulgados pela ONG Grain.3

Em princípio, essas compras de terra enquadram-se muito bem no discurso adotado pelo Banco Mundial após a crise de 2008.4 A instituição avalia que qualquer aporte de capitais externos a um país com déficit de poupança favorece seu desenvolvimento, portanto, os investimentos privados na agricultura contribuem para o desenvolvimento nacional e a luta contra a pobreza, exigência moral do século XXI. Nota-se, aliás, que a Sociedade Financeira Internacional (SFI), filial do Banco Mundial, tem um papel-chave na promoção de tais investimentos. Continue lendo

Estudo do UNODC mostra que partes das Américas e da África registram os maiores índices de homicídios

[Unodc, 6 out 11] O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) lançou hoje o seu primeiro Estudo Global sobre Homicídios. O Estudo mostra que jovens do sexo masculino, principalmente nas Américas Central e do Sul, Caribe, e África central e do sul, estão mais expostos aos riscos de serem vítimas de homicídio intencional. Já as mulheres correm mais riscos de serem assassinadas por violência doméstica. Existem evidências de aumento dos índices de homicídios na América Central e Caribe, que estão “próximos a um ponto de crise”, de acordo com o Estudo.

Nas duas regiões, as armas de fogo são as responsáveis pelas crescentes taxas de homicídios, onde quase três quartos de todos os homicídios são cometidos com armas de fogo, em comparação com índice de 21 por cento na Europa. Os homens enfrentam riscos muito mais altos de sofrer uma morte violenta (11.9 por cento por 100.000 habitantes) do que as mulheres (2.6 por cento por 100.000 habitantes), apesar de algumas variações entre países e regiões. Em países com elevados índices de homicídios, especialmente envolvendo armas de fogo, como os da América Central, 1 em cada 50 homens com mais de 20 anos de idade será morto antes de chegar aos 31 – estimativa centenas de vezes maior do que em algumas partes da Ásia. Continue lendo

Partes da África sofrem pior seca dos últimos 60 anos, diz ONU

[BBC Brasil, 28 jun 11] A ONU afirmou nesta terça-feira que algumas partes da região conhecida como “chifre” da África, localizado no nordeste do continente, foram atingidas pela pior seca dos últimos 60 anos, com mais de 10 milhões de pessoas afetadas.

O Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários afirmou que a crise relativa à falta de alimentos na região, que inclui países como Somália, Etiópia, Quênia, Uganda e Djibuti, é a pior do mundo.

Além da seca, os conflitos na Somália têm forçado um número sem precedentes de somalis a fugir para o Quênia, segundo informações da ONG Save the Children.

A organização humanitária relata que, diariamente, cerca de 1,3 mil pessoas – sendo ao menos 800 delas crianças – têm chegado ao campo de refugiados queniano de Dadaab.

O número mensal de chegadas ao campo mais do que dobrou no período de um ano, afirma a Save the Children. Continue lendo

“Poção milagrosa” gera filas de até 26 km na Tanzânia

 

[BBC Brasil, 30 mar 11] Um pastor da Tanzânia pediu a seus seguidores que parem de ir à remota região em que ele vive em busca de uma “poção milagrosa”. As visitas à sua casa começaram a causar caos na região, porque atraem milhares de pessoas, e as filas se estendem por dezenas de quilômetros.

O reverendo Ambilikile Babu Mwasapile, 76, disse que não quer que ninguém mais compareça a suas sessões de curandeirismo até a sexta-feira, dia 1º de abril, prazo que deu para que as multidões de peregrinos diminuam.

Uma repórter da BBC contou que as filas para uma visita a Mwasapile chegam a ter 26 quilômetros de comprimento.

De acordo com a mídia local, cerca de 52 pessoas morreram quando esperavam para vê-lo.

A crença na magia e nos poderes dos curandeiros tradicionais são costumeiras na Tanzânia. Continue lendo

Energia limpa obtida do sol é oportunidade para a África

Instalações solares como essa poderiam reduzir rapidamente a emissão de CO2

[DW, 22 fev 2011] A energia solar limpa vinda do deserto poderá superar instalações poluentes movidas a carvão, bem como usinas nucleares. Em particular na África, onde as condições de incidência solar são excelentes.

Quando o assunto é África, frequentemente os noticiários abordam a falta de alimentos, deficiências na educação e a falta de condições para uma vida saudável. Uma coisa, porém, o continente tem de sobra: o sol.

E é por esse motivo que a energia solar poderia resultar em uma mudança expressiva para o continente – tanto em termos econômicos, quanto sociais. Hoje, tal estimativa é compartilhada simultaneamente por pesquisadores, ambientalistas e profissionais de ajuda ao desenvolvimento.

Fatos e números

De acordo com a Agência Internacional de Energia, o sol irradia permanentemente mais de 120 mil terawatts para a superfície terrestre. Isso corresponde ao desempenho de 100 milhões de grandes usinas atômicas. A luz solar oferece 7.700 vezes mais energia do que toda a demanda mundial medida em 2006 (136 mil terawatts-hora). Continue lendo

Coleção História Geral da África ~ Unesco

[Publicado pela Unesco]

8 volumes da edição completa.

Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010.

Resumo: Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.

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Albinos africanos lutam contra o tráfico de órgãos, o preconceito e as crenças tribais

[Eduardo Castro, publicado na Agência Brasil, 13 dez 2010]

Maputo (Moçambique) – No interior da África, ainda é forte a crença de que portadores de albinismo são presságio de muita sorte ou grande azar. Na Tanzânia, desde 2007, pelo menos 59 pessoas foram assassinadas por traficantes de órgãos, usados em rituais de magia. “As crenças existem. De que o albino não morre, desaparece. E de que o sangue ou o cabelo do albino pode ajudar a acumular riquezas”, disse Ana Gabriela Eugênio, presidenta da primeira associação moçambicana a lidar com o tema.

Entretanto, em pouco mais de um ano de existência, a Associação Diferentes Somos Iguais não registrou nenhum caso de assassinato de crianças motivado pelo tráfico de órgãos. Em Moçambique, o problema maior, disse ela, é o preconceito. “Nós temos alguns membros que foram abandonados pelos pais porque a mãe preferiu conservar o lar. Existe a crença forte de que um albino na família é sinal de azar”. Continue lendo

Quilombola brasileira revela emoção de primeira visita à África

Maria José Palhano (à direita) foi a Guiné-Bissau como parte de projeto

[Texto de Mirella Domenich, publicado na BBC Brasil, 26 nov 2010]

Um grupo de quilombolas – descendentes dos escravos que fugiram de seus donos no Brasil e fundaram refúgios, os quilombos – está pela primeira vez na África para conhecer a terra de seus ancestrais.

A viagem, financiada pela ONG portuguesa Instituto Marques do Valle Flor e pela União Europeia, começou no último dia 17, em Guiné-Bissau, e termina em 2 de dezembro, em Cabo Verde.

A excursão faz parte do projeto “O Percurso dos Quilombos: da África para o Brasil e o Regresso às Origens”. O grupo de viajantes é formado por 21 quilombolas brasileiros – todos do Maranhão – e cinco acompanhantes.

“O calor com o que nos acolheram deu a impressão de que já nos conhecíamos há milhares de anos, que realmente somos da mesma família”, disse a lavradora e quilombola Maria José Palhano, 50 anos, sobre o contato com os africanos.

“Deu um sentimento de pertencimento, que realmente somos da mesma família e que fomos levados daqui”, afirma ela, que é coordenadora da Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão (Aconeruq), ONG brasileira parceira do projeto.

Deu um sentimento de pertencimento, que realmente somos da mesma família e que fomos levados daqui. Maria José Palhano, quilombola

De acordo com dados do Conselho Ultramarino, o Maranhão recebeu 31.563 escravos entre os anos de 1774 e 1799, quase metade deles vindos de Guiné-Bissau. Continue lendo

População da África passou de 1 bilhão em 2009

[Texto de Agostinho Vieira, O Globo, 24 nov 2010]

Pela primeira vez, em 2009, a população total da África passou de 1 bilhão de pessoas, com cerca de 40% vivendo em áreas urbanas. Com isso, a África junta-se à China e à Índia e passa a ser a terceira região do mundo que alcança essa marca. Os dados foram divulgados hoje pela agência Habitat, da ONU, num relatório especial feito sobre o continente. A previsão da ONU é que esse número ainda possa dobrar até 2050. Já a população urbana, que em 1950 era de mais ou menos 500 mil pessoas, pode triplicar até 2050, chegando a quase 1,3 bilhão de habitantes ou 60% da população total.

O fato de a África estar se tornando mais urbana do que rural não é necessariamente um problema. Mas o relatório da ONU adverte para o risco de uma favelização maior das cidades e pede que os governos africanos tentem planejar melhor o seu crescimento: “O padrão tem sido oceanos de pobreza com ilhas de riqueza. As condições de vida na África hoje são as mais desiguais do mundo. Um continente inundado de favelas, com a população urbana triplicando é um prenúncio claro de desastre. A menos que seja feita alguma coisa imediatamente”, registra o documento da ONU. Continue lendo

Conflitos na Somália superlotam campo de refugiados no Quênia

Foto: AP РCrian̤as somalis em campo de refugiados de Dadaab, no leste do Qu̻nia

Mesmo em condições de vida ruins e sob recrutamento de islâmicos radicais, somalis que cresceram em Dadaab se negam a voltar

Quando era um jovem em 1991, Abdullahi Salat chegou a Dadaab, no Quênia, fugindo da guerra civil em seu país, a Somália, e encontrou pouco mais do que arbustos e algumas barracas. A mulher que trabalhava para as Nações Unidas e saudou-o no porto seguro, então quase vazio, mostrou-lhe a sua barraca e colocou um punhado de sementes na palma de sua mão.

“Plante-as. Aqui é quente”, lembra-se Salat, agora com 29 anos, de ter ouvido a mulher falar. Mas, em resposta, ele disse que não plantaria naquele dia, que Dadaab não era seu lar e acreditava que iria se mudar em breve. Hoje, conta, “as árvores estão bastante grandes”.

Ao longo dos anos desde que Salat chegou a Dadaab – região árida do Quênia, a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Somália – a população de refugiados local aumentou para cerca de 300 mil, praticamente todos somalis, tornando-a o maior complexo de refugiados no mundo, segundo oficiais da ONU, e uma das maiores cidades do Quênia.

No próximo ano, Dadaab comemorará o seu 20º aniversário. Mas, conforme os conflitos da Somália seguem adiante, a atitude do Quênia para com os somalis têm esfriado e esse conjunto de campos de refugiados se tornou um incômodo problema político e, alguns afirmam, fonte de insegurança. Continue lendo